domingo, 29 de dezembro de 2013

Do que restou

"Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,

nessa vida,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo."

[Mia Couto]

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Da minha lei

"Ser livre é agir de acordo com a lei que você faz para si mesmo, a partir dos seus princípios e ideais. Quem faz o que quer, não é livre, porque age de acordo com impulsos e apetites" 

[Immanuel Kant]

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Do ainda

Pessoas que me fazem sentir.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Da vontade...

Da vontade que eu tenho de contar pra todo mundo do que eu sinto,do eu penso, do que eu finjo, do que eu espero. Mas é melhor não. Afinal, são apenas migalhas aos olhos dos outros. Não entenderiam. Tentariam me fazer ver que tudo no final é nada. Mas penso que não. Ou devo acreditar que não? Se na minha imaginação ainda há chance, ficarei com ela. E visto a personagem que não se importa, que não vê nada, não espera nada. Se pro mundo assim será melhor, ok. Mas espero. Tomara que não por muito tempo...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Das palavras

"Ele me disse: "por favor, não me fale mais o nome dela. não quero mais ouvir, não aguento mais."
Esperei alguns instantes e retruquei: "mas eu não falei o nome dela em nenhum momento hoje".
Ele reuniu os joelhos, trouxe a respiração mais profunda que conseguiu e falou com uma voz baixa mas firme: "toda palavra parece o nome dela."

Silenciamos o resto do tempo."

[vitor freire]

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Da luz

"Tudo claro
Ainda não era o dia 
Era apenas o raio"

[Paulo Leminski]

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Do interior

"-Tenho um medo disforme de que Deus tivesse proibido o meu sonho. Ele é sem dúvida mais real do que Deus permite. 
- Não estejais silenciosas. Dizei-me ao menos que a noite vai passando, embora eu o saiba.
- Vede, começa a ir ser dia.
- Vede: vai haver o dia real. 
- Paremos. Não pensemos mais. Não tentemos seguir nesta aventura interior. Quem sabe o que está no fim dela? 
- Tudo isto, minhas irmãs, passou-se na noite. Não falemos mais disto, nem a nós próprios. É humano e conveniente que tomemos, cada qual, a sua atitude de tristeza.
- Foi-me tão belo escutar-vos. Não digais que não. Bem sei que não valeu a pena. É por isso que o achei belo. Não foi por isso, mas deixai que eu o diga... De resto, a música da vossa voz, que escutei ainda mais que as vossa palavras, deixa-me. talvez só por ser música, descontente. 
- Tudo deixa descontente, minha irmã. Os homens que pensam cansam-se de tudo, porque tudo muda. Os homens que passam provam-no, porque mudam com tudo. De eterno e belo há apenas o sonho. Por que estamos nós falando ainda?
- Não sei. 
- Por que é que se morre?
- Talvez por não se sonhar bastante.
- É possível.
- Não valeria então a pena fecharmo-nos no sonho e esquecer a vida, para que a morte nos esque-cesse?
- Não, minha irmã, nada vale a pena. 
- Minhas irmãs, é já dia. Vede, a linha dos montes maravilha-se. Por que não choramos nós? 
- Aquela que finge estar ali era bela, e nova como nós, e sonhava também. Estou certa que o sonho dela era o mais belo de todos. Ela de que sonharia?
- Falai mais baixo. Ela escuta-nos talvez, e já sabe para que servem os sonhos."

[Fernando Pessoa - O eu profundo e outros eus]

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Da bruma

"Raiam na minha atenção vagos ruídos, nítidos e dispersos, que enchem de ser já dia a minha consciência do nosso quarto. 
Nosso quarto? Nosso de que dois, se eu estou sozinho? 
Não sei. 
Tudo se funde e só fica, fingindo, uma realidade-bruma em que a minha incerteza soçobra e o meu compreender-me, embalado de ópios, adormece. 
A manhã rompeu, como uma queda, do cimo pálido da Hora. 
Acabaram de arder, meu amor, na lareira da nossa vida, as achas dos nossos sonhos."

[Fernando Pessoa - o eu profundo e outros eus]

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Das coisas

"Tinha uma diferença nas coisas que eu não sabia explicar, mas ela estava lá, tudo sendo o que era de um jeito mais forte."

[J. A. Carrascoza]

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De certa forma é bom estar próxima de mim mesma, apesar de ruim.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Do aqui e agora do ontem

- Certo. Escolho não fugir mais.
Aceito verdadeiramente o enfrentamento do risco e suas implicações. Aceito como minha a angústia, e essa necessidade de resolução do que a princípio parece não ter remédio. Aceito todos os meus medos, minhas expectativas e consequentemente minhas frustrações presentes, passadas e até as futuras. Aceito minha insegurança gigante. 
- Ok. Escolha feita. E aí? E daí? E agora? Como trazer pra fora isto que há (houve? havia? haveria? haverá?) dentro? De que matéria é feita e qual a composição disto? O que sinto mas não sei definir. O que sei mas não como expressar. 
- Ainda não sei. Mas vou saber o que fazer com minha decisão. 
Porque eu escolho o enfrentamento disto que me acompanha por tanto tempo e escolho todas as consequências subjacentes a esse embate. 
Escolho o não à angústia.

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"A experiência é um automóvel com os faróis voltados pra trás. " - Pedro Nava

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Do risco


(...) É uma desilusão. Mas desilusão de quê? Se, sem ao menos sentir, eu mal devia estar tolerando minha organização apenas construída? Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. No entanto se deveria dizer assim: ele está muito feliz porque finalmente foi desiludido. O que eu era antes não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia organizado o melhor: a esperança. De meu próprio mal eu havia criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido? Mas por que não me deixo guiar pelo que for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade."

[Clarice Lispector - A paixão segundo G.H.]

Do crepúsculo

"...Na clepsidra da nossa imperfeição gotas regulares de sonho marcavam horas irreais. Nada vale a pena, ó meu amor longínquo, senão o saber como é suave saber que nada vale a pena. 
O movimento parado das árvores; o sossego inquieto das fontes; o hálito indefinido do ritmo íntimo das seivas; o entardecer lento das coisas, que parece vir-lhes de dentro e dar mãos de concordância espiritual ao entristecer longínquo, e próximo à alma do alto silêncio do céu; o cair das folhas, compassado e inútil, pingos de alheamento, em que a paisagem se nos torna toda para os ouvidos e se entristece em nós como uma pátria recordada — tudo isto, como um cinto a desatar-se, cingia-nos, incertamente. 

Ali vivemos um tempo que não sabia decorrer, um espaço para que não havia pensar em poder-se medi-lo. Um decorrer fora do tempo, uma extensão que desconhecia os hábitos da realidade no espaço. Que horas, ó companheira inútil do meu tédio, que horas de desassossego feliz se fingiram ali. Horas de cinza de espírito, dias de saudade espacial, séculos interiores de paisagem externa.

 E nós não nos perguntávamos para que era aquilo que não era para nada. Nós sabíamos ali, por uma intuição que por certo não tínhamos, que este dolorido mundo onde seríamos dois, se existia, era para além da linha externa onde as montanhas são hábitos de formas, e para além dessa não havia nada. E era por causa da contradição de saber isto que a nossa hora de ali era escura como uma caverna em terra de supersticiosos, e o nosso senti-la era estranho como um perfil de cidade mourisca contra um céu de crepúsculo outonal."


[Fernando Pessoa - Eu profundo e outros eus]

domingo, 4 de agosto de 2013

Dos sonhos

" - Neste momento eu não tinha sonho nenhum, mas é-me suave pensar que o podia estar tendo. Mas o passado — por que não falamos nós dele?
 - Decidimos não o fazer. Breve raiará o dia e arrepender-nos-emos. Com a luz os sonhos adormecem. O passado não é senão um sonho. De resto, nem sei o que não é sonho. Se olho para o presente com muita atenção, parece-me que ele já passou. O que é qualquer cousa? Como é que ela passa? Como é por dentro o modo como ela passa? Ah. falemos, minhas irmãs, falemos alto, falemos todas juntas. O silêncio começa a tomar corpo, começa a ser cousa. Sinto-o envolver-me como uma névoa. Ah, falai, falai!...
- Para quê?... Fito-vos a ambas e não vos vejo logo. Parece-me que entre nós se aumentaram abismos. Tenho que cansar a idéia de que vos posso ver para poder chegar a ver-vos. Este ar quente é frio por dentro, naquela parte em que toca na alma. Eu devia agora sentir mãos impossíveis passarem-me pelos cabelos — é o gesto com que falam das sereias. Ainda há pouco, quando eu não pensava em nada, estava pensando no meu passado.
 - Eu também devia ter estado a pensar no meu.
 - Eu já não sabia em que pensava... No passado dos outros talvez..., no passado de gente maravilhosa que nunca existiu... Ao pé da casa de minha mãe corria um riacho. Por que é que correria, e por que é que não correria mais longe. ou mais perto? Há alguma razão para qualquer coisa ser o que é? Há para isso qualquer razão verdadeira e real como as minhas mãos?
 - As mãos não são verdadeiras nem reais. São mistérios que habitam na nossa vida... às vezes, quando fito as minhas mãos, tenho medo de Deus. Não há vento que mova as chamas das velas, e olhai, elas movem-se. Para onde se inclinam elas? Que pena se alguém pudesse responder! Sinto-me desejosa de ouvir músicas bárbaras que devem agora estar tocando em palácios de outros continentes. É sempre longe da minha alma."

[Fernando Pessoa - o eu profundo e outros eus]

Da imperfeição


"Desenganemo-nos da esperança, porque trai, 
do amor, porque cansa, 
da vida, porque farta, e não sacia,
e até da morte, porque traz mais do que se quer e menos do que se espera. 
Desenganemo-nos, ó Velada, do nosso próprio tédio, porque se envelhece de si próprio e não ousa ser toda a angústia que é. 

Não choremos, não odiemos, não desejemos.

Cubramos, ó silenciosa, com um lençol de linho fino o perfil hirto da nossa Imperfeição."

[Fernando Pessoa - o eu profundo e outros eus]

sábado, 3 de agosto de 2013

Da consciência

"Reparávamos de repente, como quem repara que vive, que o ar estava cheio de cantos de ave, e que, como perfumes antigos em cetins, o marulho esfregado das folhas estava mais entranhado em nós de que a consciência de o ouvirmos. E assim o murmúrio das aves, o sussurro dos arvoredos e o fundo monótono esquecido do mar eterno punham à nossa vida abandonada uma auréola de não a conhecermos. Dormimos ali acordados dias, contentes de não ser nada, de não ter desejos nem esperanças, de nos termos esquecido da cor dos amores e do sabor dos ódios.

Ali vivemos horas cheias de um outro sentirmo-las, horas de uma imperfeição vazia e tão perfeitas por isso, tão diagonais à certeza retângula da vida. Horas imperiais depostas, horas vestidas de púrpura gasta, horas caídas nesse mundo de outro mundo mais cheio de orgulho de ter mais desmanteladas angústias.
E doía-nos gozar aquilo, doía-nos.

Porque apesar do que tinha de exílio calmo, toda essa paisagem nos sabia a sermos deste mundo, toda ela era úmida de um vago tédio, triste e enorme e perverso como a decadência de um império ignoto. Nas cortinas da nossa alcova a manhã é uma sombra de luz. Meus lábios, que eu sei que estão pálidos, sabem um ao outro a não quererem ter vida.

O ar do nosso quarto neutro é pesado como um reposteiro. A nossa atenção sonolente ao mistério de tudo isto é mole como uma cauda de vestido arrastada num cerimonial no crepúsculo. Nenhuma ânsia nossa tem razão de ser. Nossa atenção é um absurdo consentido pela nossa inércia alada. Não sei que óleos de penumbra ungem a nossa idéia do nosso corpo. O cansaço que temos é a sombra de um cansaço. Vem-nos de muito longe, como a nossa idéia de haver a nossa vida. Nenhum de nós tem nome ou existência plausível. Se pudéssemos ser ruidosos ao ponto de nos imaginarmos rindo, riríamos sem dúvida de nos imaginarmos vivos. O frescor aquecido dos lenços acaricia-nos (a ti como a mim decerto) os pés que se sentem, um ao outro nus."

[Fernando pessoa - O eu profundo e outros eus]

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Do exílio

"Éramos impessoais, ocos de nós, outra coisa qualquer. Éramos aquela paisagem esfumada em consciência de si própria. E assim como ela era duas — de realidade que era, e ilusão — assim éramos nós obscuramente dois, nenhum de nós sabendo bem se o outro não era ele-próprio, se o incerto outro vivera. Quando emergimos de repente ante o estagnar dos lagos sentíamo-nos a querer soluçar. Ali aquela paisagem tinha os olhos rasos de água, olhos parados cheios de tédio inúmero de ser. Cheios, sim, do tédio de ser qualquer coisa, realidade ou ilusão — e esse tédio tinha a sua pátria e a sua voz na mudez e no exílio dos lagos... E nós, caminhando sempre e sem o saber ou querer, parecia ainda assim que nos demorávamos à beira daqueles lagos, tanto de nós com eles ficava e morava, simbolizado e absorto. "

[Fernando Pessoa - o eu profundo e outros eus]

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Dos ecos

"E assim nós morremos a nossa vida, tão atentos separadamente a morrê-la que não reparamos que éramos um só, que cada um de nós era uma ilusão do outro, e cada um, dentro de si, o mero eco do seu próprio ser.(...) "
Ou de outros.

[Fernando Pessoa - O eu profundo e outros eus ]

domingo, 28 de julho de 2013

Do ego


Saudades de mim.

sábado, 27 de julho de 2013

Das proparoxítonas

Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Do telefone

 "Baby, eu sei que é assim."

[Caetano Veloso]

terça-feira, 23 de julho de 2013

Da ação e reação

''Querer-se livre é também querer livres os outros''.

[Simone de Beauvoir]

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Do hábito

''Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.'' 


[ Bertold Brecht]

terça-feira, 16 de julho de 2013

Do blues

"Eu, feito uma gema, me desmilinguindo toda ao som do blues..."

[Chico Buarque - A história de Lily Braun]

terça-feira, 9 de julho de 2013

Do hoje

Somos nossas escolhas.

Independente dos caminhos por onde elas nos levem, ou deixem de nos levar.

domingo, 30 de junho de 2013

Do desistir de desistir

"Amou tanto, tanto que doeu tanto, tanto e ainda mais. Optou então pelo caminho que parecia mais fácil. Nunca mais. Decidiu não merecer sofrer e expurgou a dor até deixar de sentir. Até esquecer. Até não saber mais como sentir quase nada. Volta e meia se deparava com as inconvenientes lembranças do sentimento enterrado. Às vezes vacilava, mas sempre conseguia colocar uma nova pá de cal.
Depois que o tempo (sempre o tempo) foi diluindo qualquer boa lembrança do amor falecido, sobrou medo e uma razão descabida, exagerada para tudo quanto fosse emoção. Mas foi como se nada de importante acontecesse (e é sempre desse modo), como um choque, se deparou novamente com a aflição e deleite de viver como quem está sempre pronto pra fazer sorrir. Lembrou como é bom se doar de graça, dormir pouco mesmo tendo que acordar cedo, ceder sem sentir dor, mudar de opinião, admirar imperfeições, sorrir a tôa, dormir suspirando, lembrar do outro pelo cheiro e fazer planos. Sim, fazer planos. Não há nada mais delicioso do que fazer planos pra dois.
Outro golpe. Uma rasteira sem aviso prévio. Outra vez aquele buraco profundo que surge no chão, engole e leva para o vazio. Doeu. Dói. Não dava para enterrar dessa vez. Não dava pra comprar um sapato, mudar de cidade, mudar o cabelo, pintar as paredes, mudar de profissão. Precisou assumir a dor, deixá-la transparecer no olhar, nos gestos, na boca do estômago. Como gente grande, que não mostra, mas também não esconde as cicatrizes.
Sem certezas, com as pernas ainda fracas e ainda algumas mil lágrimas atrás dos olhos, desistiu de desistir. Deseja então, profundamente, tentar fazer alguém feliz sem hesitar. Nem que seja só enquanto durar. Nem que seja até doer outra vez. E dói."

[Clarissa Amorim]

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Do transbordar

"Não procure alguém que te complete. 
Complete a si mesmo e procure alguém que te transborde."

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Do querer

"Quando estou longe
Quero ficar perto
Quando estou perto
Quero ficar dentro
Quando estou dentro
Quero ficar mudo
Quando estou mudo
Quero dizer tudo"

[Itamar Assumpção]

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Da minha mentira


"É que minha verdade, junto a sua, não sabe o que fazer.
Ou mentimos, ou nos afastamos.
Ainda que se afastar seja só uma outra maneira de mentir."

[Vitor Freire]

terça-feira, 28 de maio de 2013

Dos caminhos

"Abro caminhos sem saber sobre sua serventia futura. Ligará o quê ao quê? 
Afluentes avulsos se encontram nas vias paralelas, comentam, falam de mim pelas perpendiculares. 
Abro caminhos sem saber quando estou asfaltando antigas estradas ou inventando novos chãos. 
Não pergunto, sigo, faço, ímpeto. Não é sempre assim. 
Abro caminhos sem saber da minha própria direção, porque minha sina está desamparada. 
Tudo é lazer, tudo é trabalho. 

Abro caminhos sem saber. 
A verve transborda nessas temporadas cheias de ausência do amor. 
Quando vier, teremos muito espaço para se perder, penso. Bobagem, e de bobagens também se compõe caminhos consistentes. 

Não há preparo. 
Existe só o ímpeto, um corpo atormentado que descobriu seu jeito de existir. 
Uns se recolhem, as vezes adoecem, esperam novas colheitas como se a entre-safra afetiva fosse um inverno. 
Eu não trabalho na perspectiva das estações. 
Nada me garante que haverá sequer um outono. 
O meu corpo é o caminho mais longo que já abri. 
A perspectiva é o asfalto dos pragmáticos. 
Eu, sigo no chão da minha introspectiva."
[Vitor Freire]

terça-feira, 14 de maio de 2013

Do sapato

"No tempo da vida.
Um quarto para nada...
Os doze murmúrios 
De uma badalada.
A noite, soberba,
vestida de estrelas.
Sapato de tango.
Sempre, sempre
A dançar."

[filipa vera jardim]

sábado, 11 de maio de 2013

Do agora

Se ela dança, eu danço.

terça-feira, 7 de maio de 2013

Do credo


"Não, meu senhor,
eu não quero a verdade.
Quero apenas algo para acreditar
Te digo, na sinceridade,
meu samba é sem respostas
minha dor sem vaidade
e se esconde em qualquer idade
Quero apenas algo para acreditar
Uma frase alugada, melodia de mão-beijada
Alguma coisa que eu não consiga duvidar.

Não, meu senhor,
eu não quero a verdade.
Quero apenas algo para acreditar
De novo alguma coisa que meu coração não consiga duvidar."

[vitor freire]


domingo, 5 de maio de 2013

I aint got nothing but love, baby.. Eight days a week.

sábado, 4 de maio de 2013

A meia verdade é uma mentira inteira.

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Quando se tem muito a dizer, é hora de falar pouco.

.

Eu nunca desisto do que ainda não existe.

.

Essa não era a vida que ela esperava. Demorou um bom tempo pra perceber que esse foi o problema: ela ficou esperando.


quinta-feira, 2 de maio de 2013

Do calar

"Me gustas cuando callas porque estás como ausente,
y me oyes desde lejos, y mi voz no te toca.
Parece que los ojos se te hubieran volado
y parece que un beso te cerrara la boca.
Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.

Me gustas cuando callas y estás como distante.
Y estás como quejándote, mariposa en arrullo.
Y me oyes desde lejos, y mi voz no te alcanza:
déjame que me calle con el silencio tuyo.
Déjame que te hable también con tu silencio
claro como una lámpara, simple como un anillo.
Eres como la noche, callada y constelada.
Tu silencio es de estrella, tan lejano y sencillo.

Me gustas cuando callas porque estás como ausente.
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto."


[Pablo Neruda]

terça-feira, 30 de abril de 2013

"O acaso é o grão-senhor"


"Eu quis te convencer, mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade


Eu quis te convencer, mas chega de insistir
Caberá ao nosso amor o que há de vir
Pode ser a eternidade má
Caminho em frente pra sentir saudade


Paper clips and crayons in my bed
Everybody thinks that I am sad
I'll take a ride in melodies and bees and birds
Will hear my words
Will be both us and you and them together


I can forget about myself
Trying to be everybody else
I feel alright that we can go away
And please my day
I'll let you stay with me if you surrender"

sexta-feira, 26 de abril de 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Silencio. 

No hay banda.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Do equilíbrio

"Mas duas pessoas não se equilibram muito tempo lado a lado, cada qual com seu silêncio; um dos silêncios acaba sugando o outro, e foi quando me voltei para ela, que de mim não se apercebia. Segui observando seu silêncio, decerto mais profundo que o meu, e de algum modo mais silencioso. E assim permanecemos outra meia hora, ela dentro de si e eu imerso no silêncio dela, tentando ler seus pensamentos depressa, antes que virassem palavras.'' 

[Chico Buarque - Budapeste]

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Dont live me high.
Dont live me dry.

Live. Life. Leave.

terça-feira, 16 de abril de 2013

domingo, 14 de abril de 2013

Do não dito

"Tenho andado distraído 
Impaciente e indeciso 
Ainda estou confuso só que agora é diferente 
Tô tão tranquilo e tão contente

Quantas chances desperdicei 
Quando o que eu mais queria era provar pra todo mundo 
Que eu não precisava provar nada pra ninguem

Me fiz em mil pedaços para você juntar
E queria sempre achar explicação pra o que sentia 
Como um anjo caído fiz questão de esquecer 
Que mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira

Mas não sou mais tão criança 
A ponto de saber tudo 

Já não me preocupo se eu não sei por que 
As vezes o que eu vejo quase ninguém vê
Eu sei que você sabe quase sem querer 
Que eu vejo o mesmo que você

Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente um dos Deuses mais lindos 
Sei que as vezes uso palavras repetidas
Mas, quais são as palavras que nunca são ditas?"


[Renato Russo/Dado Villa-Lobos - Quase sem querer]

sábado, 13 de abril de 2013

http://poraosombrio.blogspot.com.br/2012/03/do-passaro.html

Da expressão da verdade

"Enquanto a verdade é a plenitude da alma que pode às vezes transbordar na pura insipidez da linguagem, pois nenhum de nós pode jamais expressar a medida exata de suas necessidades ou de seus pensamentos ou de suas tristezas, e a fala humana é como um tambor rachado em que tamborilamos ritmos ásperos para os ursos dançarem, desejaríamos compor uma música que derretesse as estrelas."

[Gustave Flaubert - Madame Bovary]

domingo, 7 de abril de 2013

Dos caminhos

"Se existe um caminho para o Melhor, ele exige uma visão completa do Pior."

[Thomas Hardy]

sábado, 6 de abril de 2013

Do movimento

"Aqueles olhos fundos, quando a cor da retina fica úmida, aquele olhar que não deveria ser descrito, mas aqui estamos nesse erro. 
Ninguém fica melhor depois do sofrimento. 
E toda a bibliografia que melhora a humanidade, talvez a torne menos úmida. 
A gente só continua, se movimenta. 
Vai pra frente, dando vazão ao instinto de progresso que permanece. 
Ou dá voltas, sucumbindo ao ritmo próprio da vida - esse fenômeno da repetição. 
Ou enterra-se, sendo fiel ao inevitável movimento, mas por dentro.
Apertei seu ombro, como quem pressiona o botão REC do gravador mais high-tech que pode existir.

- Eu era legal, mas aí, aconteceu isso."

[Vitor Freire]

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Da nascença



"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras fatigadas de informar. 
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água, pedra, sapo. 
Entendo bem o sotaque das águas. 
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. 
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo."

[Manoel de barros]

sábado, 30 de março de 2013

Da porta

"O que sobra é feito um cômodo dentro da gente, cheio de móveis e objetos valiosos, porém trancado. E estamos sempre no corredor, olhando para a porta fechada. Sentimos saudades do que está ali dentro, mas não podemos nem temos como entrar. Como disse um grego que viveu e amou há 2.500 anos: não somos mais aquelas pessoas nem é mais o mesmo aquele rio.
Uma vez vi um filme, não me lembro qual, em que um sujeito declarava: “Se duas pessoas que um dia se amaram não puderem ser amigas, então o mundo é um lugar muito triste”. 
O mundo é um lugar triste, mas não porque ex-amantes não podem ser amigos: sim porque o passado não pode ser recuperado. Eis a verdade banal que descobrimos, frustrados, ao fim de cada encontro: toda memória é um luto pelo que vamos deixando para trás."

[antonio prata - folha de s p - ex]

quinta-feira, 28 de março de 2013

Da prisão

''(E o que mais dói) é viver num corpo que é um sepulcro que nos aprisiona (segundo Platão) do mesmo modo como a concha aprisiona a ostra.'' 

[Frida Kahlo]

quarta-feira, 27 de março de 2013

Do espaço



I will shape myself into your pocket
Invisible
Do what you want
Do what you want


I will shrink and I will disappear
I will slip into the groove and cut me off
And cut me off


There's an empty space inside my heart
Where the weeds take root
And now I'll set you free
I'll set you free


Slowly we unfurl
As lotus flowers
'Cos all I want is the moon upon a stick
Just to see what if
Just to see what is


I can't kick your habit
Just to fill your fast ballooning head
Listen to your heart


We will shrink and we'll be quiet as mice
And while the cat is away
Do what we want
Do what we want


There's an empty space inside my heart
Where the weeds take root
So now I'll set you free
I'll set you free


'Cos all I want is the moon upon a stick
Just to see what if
Just to see what is


The bird lights float into my room
Slowly we unfurl
As lotus flowers
'Cos all I want is the moon upon a stick
I dance around the pit
The darkness is beneath


I can't kick your habit
Just to feed your fast ballooning head
Listen to your 
[Radiohead - Lotus flower]

segunda-feira, 25 de março de 2013

Ironia do destino

Sim, Pearl Jam.
Sim, Black.
Sim, it´s over.
Sem tequila, sem carta, sem nada. Passando reto.
E o troco ainda virá.
Aguarde...
Thanks, Claudia!

Das cicatrizes


"Não morremos de velhos, morremos das velhas feridas."  

[Ernest Hemingway]

quarta-feira, 20 de março de 2013

Do tempo


"Chega um tempo em que não se diz mais: meu
Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos
edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação."

[Carlos Drummond de Andrade]

terça-feira, 19 de março de 2013

Da lógica

"Nenhuma lógica é capaz de impedir o homem que quer viver."

[Franz Kafka]

sexta-feira, 15 de março de 2013


Do desejo

“Pense no que desejar”, comandava à fantasia, “não precisa ter medo de mim. Pode voar no mais alto céu ou cair no mais fundo abismo, pois, na essência, são a mesma coisa: desejo”.

[Isaac B. Singer, Amor e Exílio: Memórias]

sábado, 9 de março de 2013

Do turbilhão

"Tentou se saciar como um louco, mas pela sede que ficou, percebeu que foi pouco.
Num turbilhão, pensou na línguas que se tocavam, nos pelos na nuca trêmula, na respiração. 
Difícil renúncia. 
O óbvio que se fez de rogado, hoje lateja na carne e na mente insana. 
De solidão, emudeceu, sem explicações. 
Tentando se livrar do martírio das ações, ou da ausência delas, mais uma vez emudeceu diante do momento desregrado. Naquele lugar, nada o pertencia, só um amor inerente. 
Então, pediu que tirassem o seu retrato. Pediu que fizessem um registro das suas formas, do seu rosto inerte e dos raios de felicidade que ainda continham nele.
Queria esse registro. 
Era preciso estancar a luz que ainda tinha em seus olhos, sem maquiagem nem verbos. Congelou o sorriso. E a carne do lábio insistia em tremer. 
Cada vez mais convencido da imagem que via, o intelecto não resolveu a questão. 
Como não sentir o chão se abrir como um pesadelo? Não negava a rejeição, mas também não sucumbia aos olhares alheios, viris, pelejantes.
E, assim, procurou os seus vários eus, ficou nu de vaidade, cheio de flashes. Perdidos como um dia de cão.
Suados, a cada movimento.
Sóbrios, como um velho sentimento. 
E o amor? Vive a morrer… De amor."

[Turbilhão - Tita de Paula]

quarta-feira, 6 de março de 2013

Do fruto maduro

"Tudo nos falta quando estamos em falta conosco mesmos."

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"As flores da vida são aparições fugídias. Quantas delas se estiolam sem deixar vestígios! Quão poucas produzem frutos e ainda assim, desses frutos, quãos poucos chegam à maturidade! E, no entanto, ainda sobram muitos; e, no entanto... ó meu irmão, poderemos nós desprezar os frutos maduros e deixar que apodreçam sem havê-los saboreado?"

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[Os sofrimentos do jovem Werther - Goethe]

domingo, 3 de março de 2013

Do álbum

"Teria gostado de te conhecer
quando tinhas aquele gesto
da fotografia
e ainda faltávamos nós
no álbum.

Sabes,
ter-me-ias enamorado."

[Antonio Silvera]

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Da saída

''Não estou desesperada, não mais que sempre estive, não estou bêbada nem louca, estou é lúcida pra caralho e sei claramente que não tenho nenhuma saída.''

[Caio Fernando Abreu]

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013


"La vie ne vaut d'être vécue
Sans amour
Mais c'est vous qu il'avez voulu
Mon amour"

[Serge Gainsbourg - La Javainese]

I can't work...


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Valentine's Day

"There is no such thing as free time.
There is no such thing as work time.
There is no such thing as play time.
There is no such thing as down time. 
There is no such thing as spare time.
There is no such thing as quality time.
There is no such thing as the right time.
There is no such thing as the wrong time.
There is only time.
The rarest and most precious gift I can give you seems to be the one thing I never have enough of to spare, but I promise to give you as much as I have and will make even more + more to give you. 

Can these seconds and minutes slowly grow into hours and days and perhaps weeks, months and years?  In the name of St. Valentine can you be mine?"

[Rob Ryan]

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Foi sim

"Dois mil cigarros.
E uma centena de milhas
de parede a parede.
Uma eternidade e meia de vigílias
mais brancas que a neve.

Toneladas de palavras
velhas como pegadas
de um ornitorrinco na areia.

Uma centena de livros que ficaram por escrever.
Uma centena de pirâmides que ficaram por construir.

Lixo.
Pó.

Amargo
como o princípio do mundo.

Acredita em mim quando digo
que foi belo."

[Miroslav Holub - Amor]

domingo, 3 de fevereiro de 2013

sábado, 26 de janeiro de 2013

Das memórias

"Que é que eu vou fazer pra te esquecer?
Sempre que eu já nem me lembro, lembras pra mim
Cada sonho teu me abraça ao acordar...

Que é que eu vou fazer pra te deixar?
Sempre que eu apresso o passo, passas por mim
E o silêncio teu me pede pra voltar...

Que é que eu vou fazer pra te lembrar?
Como tantos que eu conheço e esqueço de amar
Em que espelho teu, sou eu que vou estar?


[Caetano Veloso - Pra te lembrar]

Do escudo

"Tenho medo de já ter perdido muito tempo. Tenho medo que seja cada vez mais difícil. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapaçar dentro de uma solidão - escudo."

[Caio Fernando Abreu]

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Do agora

O amor nos tempos do agora.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Oração do dia

"Seja qual for a dificuldade, persevera no bem. 
Fracasso é lição. 
Dor é porta de acesso a esferas superiores. 
Quem te agride não te conhece por dentro. 
Os que te desprezam, desconhecem tua essência.
Pensa no bem e esquece do mal.
Rompe as algemas que te atam ao pessimismo.
Mentaliza o progresso e abraça a tarefa nobilitante. 
O tempo tudo encaminha e a tudo corrige.
Segue para frente, confiando em Deus e em ti. 
A felicidade do amanhã começa no pensamento que cultivares agora. 
Abraça o ideal elevado, entregando-te ao bem possível. 
No final, a vitória será sempre o amor."

[Clayton B. Levy]

Sem depois 2

"Não quero o primeiro beijo:
basta-me
o instante antes do beijo.
Quero-me
corpo ante o abismo,
terra no rasgão do sismo.
O lábio ardendo
entre tremor e temor,
o escurecer da luz
no desaguar dos corpos:
o amor
não tem depois.
Quero o vulcão
que na terra não toca:
o beijo antes de ser boca."

[Mia Couto - Beijo in "Tradutor de chuvas"]

domingo, 20 de janeiro de 2013

Da confidência

"Porque a minha mão infatigável
procura o interior e o avesso
da aparência
porque o tempo em que vivo
morre de ser ontem
e é urgente inventar
outra maneira de navegar
outro rumo outro pulsar
para dar esperança aos portos
que aguardam pensativos"


[Mia Couto- Confidência]

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Da sombra

"Andei por abrigos extensos. 
Mas não encontrei sombra senão na palavra."

[Mia Couto]

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Sem depois

"Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só meus dedos murcharam, decepados.

Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só meus olhos
se desfizeram, redondas cinzas.

Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há domingos?"


[Mia Couto - Excerto do poema "Sem depois"]

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Das ordens

"Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.

Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto"

[Paulo Leminski]

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

domingo, 13 de janeiro de 2013

Do que eu preciso

"Preciso de alguém, e é tão urgente o que digo. Perdoem excessivas, obscenas carências, pieguices, subjetivismos, mas preciso tanto e tanto. Perdoem a bandeira desfraldada, mas é assim que as coisas são-estão dentro-fora de mim: secas. Tão só nesta hora tardia - eu, patético detrito pós-moderno com resquícios de Werther e farrapos de versos de Jim Morrison, Abaporu heavy-metal -, só sei falar dessas ausências que ressecam as palmas das mãos de carícias não dadas.
(...) Para ficar ao lado, cúmplice, dividindo o astral, o ritmo, a over, a libido, a percepção da terra, do ar, do fogo, da água, nesta saudável vontade insana de viver. 
Preciso de alguém que eu possa estender a mão devagar sobre a mesa para tocar a mão quente do outro lado e sentir uma resposta como - eu estou aqui, eu te toco também. Sou o bicho humano que habita a concha ao lado da conha que você habita, e da qual te salvo apenas porque te estendo a minha mão. No meio da fome, do comício, da crise, no meio do vírus, da noite e do deserto - preciso de alguém para dividir comigo essa sede. Que vontade, que vontade enorme de dizer outra vez meu amor, depois de tanto tempo, e tanto medo. Esse simples mas proibido agora: o de tocar no outro. (…)

Mas finjo de adulto, digo coisas falsamente sábias, faço caras sérias, responsáveis. Engano. Mistifico. Disfarço esta sede de ti, meu amor que nunca veio - viria? virá? - e minto não, já não preciso. 
Preciso sim, preciso tanto. 
Alguém que aceite tanto os meus sonos demorados quanto minhas insônias insuportáveis. Tanto meu ciclo ascético Francisco de Assis como meu ciclo etílico Bukowskiano. Que me desperte com um beijo, abra a janela para o sol ou a penumbra. (...) Para continuar vivendo preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você.
Tenho urgência de ti, meu amor. Para te tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. (...) 
Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã."

[Caio Fernando Abreu]

sábado, 12 de janeiro de 2013

Da insanidade

"But I don't want to go among mad people - Alice remarked.

Oh, you can't help that - said the Cat - we're all mad here.
I'm mad. You're mad.

How do you know I'm mad? - said Alice.

You must be - said the Cat - or you wouldn't have come here."

[Alice in the Wonderland - Lewis Carroll]

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013


"Nos próximos dias que vão de 11/01 (Hoje) até 17/01, o planeta Mercúrio estará se aspectando harmoniosamente com a Lua do seu mapa de nascimento, Ariadne. Esta tende a ser uma fase bastante propícia para tomar decisões que se pautam tanto em processos racionais quanto em sua intuição. A sua percepção das coisas estará mais completa, e este aspecto favorece o entendimento, os estudos, os escritos e as trocas intelectuais.
Você perceberá que está mais eloqüente do que o usual, e neste momento podem ocorrer muitas conversas e notícias de pessoas que há muito tempo você não via. O estímulo positivo de Mercúrio lhe permitirá compreender coisas que você antes não entendia muito bem, sobretudo no que diz respeito a acontecimentos passados que você não processou legal. Esta é uma fase de insights e de esclarecimentos, Ariadne."