sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Pelo telefonema no meio da noite

"Aprendi a me virar sozinha; se eu tô te dando linha, é pra comer você..."

[Ana Carolina - Garganta - CD Ao Vivo]

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Do selvagem coração da vida

"Ela estava só. Estava abandonada, feliz, perto do selvagem coração da vida."


James Joyce, epígrafe do livro de Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eu quero o delírio

Eu quero o delírio.

Eu sou assim.

Não pretendo a integração, mas a abertura e a busca. Encontrar pode ser impossível ou desinteressante. Quero o pressentimento: comprimir a tecla do computador e explodir o ponto e arquear o contorno, varando os limites que a vida há de preencher e o sonho tornará possível.

Quero o delírio que faça as utopias virem sentar-se na minha varanda e escrever no meu computador quando a razão estiver cansada, quando a técnica parecer frívola, ou quando eu estiver descrente.

Posso lhes dizer que somos muitos: em cada um de nós outros esperam apenas o momento de saltar fora, tirar a máscara e revelar o que talvez nos amedronte. E diremos:

- Mas isso, isso aí, também sou eu?

Preciso admitir que a ambivalência nos salva de morrermos na poeira da mesmice. Também admito que seria mais fácil ser sempre o mesmo,seria mais doce levantar cada manhã sem conflito e morrer enfim sem ter jamais duvidado.

Mas não é tão simples. Desculpem, mas não somos isso.

Posso falar por mim ao menos, esta que escreve de um jeito e vive de outro, pensa de um modo mas faz diferente, tendo a marca da incoerência na testa e no coração a miragem de uma explicação para todos os desencontros.

Escuto o meu interior, onde personagens e narrativas aguardam que eu lhes confira a sua falsa realidade. Não falo de personagens e frases apenas, mas da consciência que procura motivo e sentido.

Estou bem acompanhada: comigo estão os meus irmãos, gente da minha raça, todos os que entendem que inventar ou constatar não faz a menor diferença. Somos os doidos, os palhaços, os atores de nossa própria vida: escrevemos com sangue - nas paredes, nas páginas e nas telas dos computadores: tudo só existe na medida em que o tiramos das nossas tripas e parimos do nosso sonho.

Mas também sou uma mulher do meu tempo, e dele quero dar testemunho do jeito que posso: na elaboração das minhas fantasias, mas igualmente escrevendo sobre dor e perplexidade, sobre doença e morte, a palavra na hora errada e o silêncio na hora em que teria sido melhor falar - mas a gente não sabia.

E escrevo sobre sermos responsáveis e inocentes em relação ao que acontece e ao legado que deixamos. A ambivalência que atormenta, por outro lado levanta a poeira da resignação - e faz aparecer o nosso rosto.

E nos salva.

[LUFT, Lya.
Pensar é Transgredir. São Paulo: Record, 2003.]


.

Outro texto dos meus guardados. Não meu, mas sinto como se fosse.

E não morri de calor. Ainda.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Meu mundo

Um texto meu de 2 anos atrás, baseado em Martha Medeiros, bem atual em alguns aspectos, bem obsoleto em outros, mas que resolvi publicá-lo por razões inconscientes.

Até porque tenho encontrado tantos outros autores que falam por mim.


Talvez eu vá morrer de calor essa noite e esteja tendo um pressentimento... é possível.
Detalhe para a data em que o texto foi escrito.


.



Meu mundo
[01 de abril de 2006]

Meu mundo se resume à palavras, pessoas, paixões, perguntas e respostas.


Palavras que me furam, seja por nunca terem sido pronunciadas ou por serem esperadas e não ouvidas, por terem sido lidas e provocarem uma revolução de sentimentos, por serem escritas e assim libertas.


Pessoas que me comovem, todas, cotidianamente. Basta enxergar o melhor lado que cada uma tem a oferecer. Também acredito nas pessoas.


Paixões que me perturbam, presentes, passadas, futuras. Pela humanidade ou por um ser humano, pela grandiosidade e ao mesmo tempo ciclicidade do mundo, pelo especial e pelo único.


Perguntas: sem respostas.

Respostas: não me servem as que tenho.


Meu mundo se resume ao encontro de brisa e temporal, água e fogo, dentro de mim.

À constante perseguição do que ainda não sei, onde não me enxergo, mas me sinto.

Bandeira

Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio, pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
Peixe na boca do crocodilo
Braço da Vênus de Milo acenando tchau

Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal

Nada tenho, vez em quando tudo
Tudo quero, mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(Se é assim quero sim, acho que vim pra te ver)

[Zeca Baleiro]

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Da vida III

"Devemos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos para termos a vida que espera por nós."

[Joseph Campbell]

domingo, 26 de outubro de 2008

Do inferno astral

O que a maioria das pessoas chama de inferno astral, na verdade, refere-se ao mês imediatamente anterior ao aniversário, quando estamos concluindo mais um ciclo de vida, e como é um fim, nossa energia está esgotada.

Quando o Sol retorna ao mesmo lugar que ocupava por ocasião do nascimento, completando sua revolução anual - no dia do aniversário - o ciclo termina, e um novo ciclo é iniciado; astrologicamente, esse momento é conhecido como Revolução Solar, hora de fazer ajustes e corrigir o rumo para poder prosseguir.

O período anterior ao aniversário, é da mesma natureza da décima segunda e última casa zodiacal, a mais misteriosa e difícil de todas, sendo associada às dificuldades e ao Karma. Antigamente se dizia que era a casa dos inimigos ocultos, sofrimento, medo, isolamento e prisão. Atualmente é considerada a casa do inconsciente, pessoal e coletivo, depósito de nossos piores medos e traumas, mas também, de muitos talentos e potencialidades adormecidas. Na verdade, nosso pior inimigo, o mais difícil de vencer, somos nós mesmos. A casa 12 significa o resultado de nossas batalhas pessoais e de nossas ações no final da jornada, a colheita do que semeamos ao longo de um ciclo, seja de um ano, ou de uma vida, o fruto de nossos esforços, para ser saboreado, e a semente, para que possa haver um novo ciclo, ou melhor, um renascimento.

Carl G. Jung afirmou que, quando não estamos em contato consciente com o que nos acontece, tudo acaba nos parecendo obra do Destino, não reconhecemos nosso papel na sua manifestação, não nos sentimos responsáveis por nada; mas, se estivermos conscientemente em contato com nossa vida interior, teremos meios de compreender as fases de crescimento pessoal, enfrentá-las e usá-las como grandes oportunidades de desenvolvimento e transformação pessoal.

Quanto se cresceu interiormente? Quais as metas a atingir no novo ano pessoal que vai se iniciar? Pergunte-se o que realizou, nesse sentido, durante o período que se encerra, e tome algumas resoluções para o período que se inicia, para que o Sol, ao completar mais uma volta, o encontre renovado, pronto para iniciar o novo ciclo cheio de disposição e vontade de aprender e evoluir, mais e mais, a cada dia.

O certo é todos viverem o mês que antecede o aniversário como sendo um período de recolhimento, meditação e interiorização. Outra dica é não iniciar nada novo nessa época. Portanto mudanças, projetos e decisões só pra quando ficar mais velha.

[Marcela Brunn]

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ausência

"Porque tinha suas ausências. O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas. Uma tristeza mais antiga que o seu espírito. Os olhos paravam vazios; diria mesmo um pouco ásperos. A pessoa que estivesse a seu lado sofria e nada podia fazer. Só esperar."

[Clarice Lispector, Felicidade Clandestina]

Do amor

Não amamos o que queremos, mas o que desejamos, mas o que amamos e que não escolhemos. Como poderíamos escolher nossos desejos ou nossos amores, se só podemos escolher em função deles? O amor não se comanda e não poderia, em consequência, ser um dever. Devemos dizer também que virtude e dever são duas coisas diferentes (o dever é uma coerção, a virtude, uma liberdade). O dever é uma coerção, o dever é uma tristeza, ao passo que o amor é uma espontaneidade alegre. “O que fazemos por coerção”, escreve Kant, “não fazemos por amor”.

[André Comte-Sponville, Pequeno tratado das grandes virtudes]


Daqui: http://www.armazem.literario.nom.br/autoresarmazemliterario/eles/martinhocarloshost/complementares/45_complementar45.htm

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sísifo II

"Não existem esforços inúteis, Sísifo ganhava músculos."

[R. Callois, Circonstancielles]


Sim.

Tudo é uma questão de ponto de vista.

Qual o seu?

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sísifo

“...Por toda a eternidade Sísifo foi condenado a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível. Por esse motivo, a tarefa que envolve esforços inúteis passou a ser chamada “Trabalho de Sísifo”.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Da vida II

"A questão da vida que vale a pena viver não é, como costumamos supor, uma questão tão grande e abstrata que só pode ser levantada de maneira apropriada em uma aula de filosofia ou em uma sessão de psicoterapia. Não é uma questão avassaladora de considerar de uma só vez minha vida inteira; é, mais que isso, uma questão de entabular a pergunta muito mais simples e urgente de o que vou fazer agora, nos próximos trinta, sessenta ou noventa minutos de minha vida, pelo resto do dia, então amanhã e no dia seguinte. Qual é, agora, a ação que faria de minha vida uma vida com a qual eu pudesse ficar racionalmente satisfeito? Como devo levar essa vida não é uma questão que pode ser novamente adiada - pois a vida tem a característica insistente de não poder se adiada."

[Mark Kingwell, Aprendendo Felicidade]

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Do aprendizado: posição atual

Muitas vezes, é através do sofrimento que aprendemos, mas é muito melhor aprender sem sofrer, ou aprender com o sofrimento dos outros (sem fazer os outros sofrerem, claro). Contudo, algumas pessoas acham que, como muitas vezes o sofrimento leva ao conhecimento, ele é essencial para todo tipo de conhecimento, ou que quem sofre necessariamente aprende mais do que quem não sofre. Em geral, isso pode ser verdade - o que não quer dizer, em hipótese alguma, que seja sempre verdade. Muita gente sofre e não aprende nunca. Outros aprendem mais rápido e evitam o sofrimento.

Contudo, como o sofrimento tem um custo muito alto para nós, talvez sintamos a necessidade de estabelecer algum tipo de compensação para ele. Não gostamos de pensar que o sofrimento que passamos foi desnecessário ou que poderíamos tê-lo evitado, pois isso significaria admitir que a vida foi pior do que poderia ter sido e que não nos beneficiamos de forma alguma com isso. Achamos que as pessoas que sofreram menos perderam alguma coisa. Seria muito ruim simplesmente aceitar que essas pessoas foram mais felizes do que nós em suas escolhas.

Julian Baggini, Para que serve tudo isso?, Zahar, pg. 170.

domingo, 19 de outubro de 2008

Waking Life

Há seis bilhões de pessoas no mundo, é verdade.


No entanto, suas ações fazem diferença.


Fazem diferença em termos materiais e fazem diferença para outras pessoas.


Servem de exemplo.


A mensagem é: não devemos jamais nos eximir…


e nos vermos como vítimas de várias forças.


Quem nós somos é sempre uma decisão nossa.


A criação vem da imperfeição


Parece ter vindo de um anseio e de uma frustração.


É daí, eu acho, que veio a linguagem.


Quero dizer, veio do nosso desejo de transcender o nosso isolamento…


e de estabelecer ligações uns com os outros.


Devia ser fácil quando era só uma questão de mera sobrevivência.


“Água” .


Criamos um som para isso.


“Tigre atrás de você!”


Criamos um som para isso.


Mas fica realmente interessante, eu acho…


quando usamos esse mesmo sistema de símbolos…


para comunicar tudo de abstrato e intangível que vivenciamos.


O que é “frustração”?


Ou o que é “raiva” ou “amor”?


Quando eu digo “amor” …


o som sai da minha boca e atinge o ouvido de outra pessoa…


viaja através de um canal labiríntico em seu cérebro…


através das memórias de amor ou de falta de amor.


O outro diz que compreende, mas como sei disso?


As palavras são inertes.


São apenas símbolos.


Estão mortas.


Sabe?


E tanto da nossa experiência é intangível.


Tanto do que percebemos é inexprimível.


É indizível.


E, ainda assim, quando nos comunicamos uns com os outros…


e sentimos ter feito uma ligação, e termos sido compreendidos…


acho que temos uma sensação quase como uma comunhão espiritual.


Essa sensação pode ser transitória,


mas é para isso que vivemos...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

é...

Cansei.

Eu, gauche

eu, as errâncias e as erradezas...

Não Lucíola, não voltei atrás na minha decisão...
A história aqui é ouuuuutra... Lembra que há alguns vários meses te contei do irmão da minha amiga, super interessante, e gente boa e tals, só que tinha namorada? Pois bem, eu e as meninas saímos ontem, e ele foi, avulso e soltinho, o que nao significa nada. Conversa vai conversa vem, brincadeiras à parte (fomos ao soho, um bar aqui em bh que tem joguinhos...vc ía gostar.), eu me interessei, novamente, pelo moço. E fiquei naquela de tentar descobrir o estado civil do rapaz. Ele hora nenhuma citou a namorada, ou falou algo do tipo. Possível malandragem? vai saber... e a namorada de 5 anos, que praticamente morava com ele? evaporou? enfim, não rolou nada além de um divertido papo. Mas que ele me atraiu como poucos recentemente, isso sim...
e daí percebi estar procurando mais uma vez, inconscientemente, as coisas erradas...
pq eu sou atraída só pelas barcas furadas, hein?

e ao concluir isso tudo, tive que vir aqui pra te contar.
mas o que consegui exprimir foi apenas a primeira frase acima.
o resto é fruto de uma atualização posterior, pra que você compreendesse o que tentei dizer.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Da palavra

"A palavra é de uma leve substância química que opera as mais violentas alterações."

[Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso]

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Da perda II

"Cada vez preciso menos me exprimir. Também isto perdi?"

[Clarice Lispector, A paixão segundo G. H.]

Do ponto de vista

Hoje nasceu a Giovanna, filha do meu primo quase irmão, logo, minha quase sobrinha!!!
Assim, pela segunda vez, sou quase tia!!!! ÊÊÊÊÊ!!!! Ela tem 51cm e quase 4 kg! E é uma linda!
Foi muito diferente estar dentro de uma maternidade não como interna de obstetrícia, mas sob outro ponto de vista: o dos parentes de pacientes. Tudo bem que eu estava com um crachá verde escrito MÉDICO CONVIDADO, o que me dava permissões pra estar além de onde os outros parentes estavam, mas quem estava ali pelada tomando peridural não era uma paciente qualquer que eu sabia apenas o nome, era a Tati! Que eu convivo há quase 10 anos, que é quase mais prima que o marido dela, e que eu acompanhei durante as 38 semanas de gestação (A Giovanna é GIG, daí a antecipação do parto) .
E depois, o resto da família toda querendo saber o que tava acontecendo, o que era aquilo que estavam enfiando no nariz da neném, que injeção era aquela, que colírio era aquele, "pra que tudo isso? tem algo errado?" Sendo que pra mim era óbvio sinal de que tudo estava certo. Nada além do que a rotina de quando esses pequetitos vêm ao mundo... E que ela não estava vermelha, e sim pletórica... e que aquilo preto não é um cocô parecido com graxa, e sim o mecônio; que a injeção não era vacina, e sim vitamina K....
Isso me deixou uma sensação estranha de que eu nunca vou estar do outro lado novamente. Nunca vou ser uma mera visitante, parente da paciente.
O fato de ser médica me tira a ignorância essencial e necessária à essa posição. A medicina me dá respostas que eu não teria, nesse caso posição super benéfica. Mas e se desse tudo errado? E quando as coisas realmente estiverem complicando e eu souber disso antes dos outros? Sabia ignorância? Mas graças à Deus correu tudo bem. (E ainda estou no lucro de saber o que os outros não sabem. rsssss...)

Bem vinda à vida, Giovanna!
Que você consiga cumprir sua missão nesse caótico mundo.

domingo, 12 de outubro de 2008

Cabide

Música do dia:

"E se eu fingir e sair por ai na noitada
Me acabando de rir
E se eu disser que não digo, e não ligo, e que fico
E que só vou aprontar
É que eu sambo direitinho, assim bem miudinho,
Cê não sabe acompanhar
Vou arrancar sua saia e pôr no meu cabide só pra pendurar
Quero ver se você tem atitude
E se vai encarar

E se eu sumir dos lugares, dos bares, esquinas
E ninguém me encontrar
E se me virem sambando até de madrugada
E você for até lá
É que eu mando direitinho assim bem miudinho,
Sei que você vai gostar
Vou arrancar sua blusa e pôr no meu cabide só pra pendurar
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar

Chega de fazer fumaça, de contar vantagem
Quero ver chegar junto pra me juntar
Me fazer sentir mais viva
Me apertar o corpo e a alma
Me fazendo suar
Quero beijos sem tréguas
Quero sete mil léguas sem descansar
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar.
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar.
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar."

[Ana Carolina, Cabide]

Um dia encontro

"Nem é você que eu espero, já te falei. [...] Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você.
Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado comigo: um dia encontro."


[Caio Fernando Abreu, Dama da Noite]

Da solidão

“Se não houvesse a palavra, a solidão humana seria intolerável.”

[Dostoiévski, Os Irmãos Karamázovi]

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Talvez

Talvez aquele tenha sido um meio de me vingar de todas as decepções.

Talvez a frase tenha sida proferida com a mesma intenção. Possivelmente até com o próposito de colocar culpas... aonde elas já existiam. Ou apenas uma demonstração de seu modo infantil de pensar.

Talvez tenha sido a melhor coisa que aconteceu.
Uma forma de finalmente se colocar um ponto final em algo que jamais teria fim.
Talvez.

Do descanso

"Não sei se quero descansar por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir”

[Clarice Lispector]

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

do indizivel

o que não podemos discutir, devemos ignorar em silêncio.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Da esperança

"A esperança. só a esperança, nada mais. chega-se a um ponto em que não há mais nada senão ela. é então que descobrimos que ainda temos tudo."

[José Saramago]

Do escondido

"...Mas o meu principal está sempre escondido. Sou implícita. E quando vou me explicar perco a úmida intimidade."

[Clarice Lispector, Água Viva]

Da rosa


"Sei da história de uma rosa. Parece-te estranho falar em rosa quando estou me ocupando com bichos? Mas ela agiu de um modo tal que lembra os mistérios animais. De dois em dois dias eu comprava uma rosa e colocava-a na água dentro da jarra feita especialmente para abrigar o longo talo de uma só flor. De dois em dois dias a rosa murchava e eu a trocava por outra. Até que houve determinada rosa. Cor-de-rosa sem corante ou enxerto porém do mais vivo rosa pela natureza mesmo. Sua beleza alargava o coração em amplidões.
Parecia tão orgulhosa da turgidez de sua corola toda aberta e das próprias pétalas que era com uma altivez que se mantinha quase erecta. Porque não ficava totalmente erecta: com graciosidade inclinava-se sobre o talo que era fino e quebradiço. Uma relação íntima estabeleceu-se intensamente entre mim e a flor: eu a admirava e ela parecia sentir-se admirada.. e tão gloriosa ficou na sua assombração e com tanto amor era observada que se passavam os dias e ela não murchava: continuava de corola toda aberta e túmida, fresca como flor nascida. Durou em beleza e vida uma semana inteira. Só então começou a dar mostras de algum cansaço. Depois morreu. Foi com relutância que a troquei por outra. E nunca a esqueci. O estranho é que a empregada perguntou-me um dia à queima-roupa: "e aquela rosa?" Nem perguntei qual. sabia. Esta rosa que viveu por amor longamente dado era lembrada porque a mulher vira o modo como eu olhava a flor e transmitia-lhe em ondas a minha energia. Intuíra cegamente que algo se passara entre mim e a rosa. Esta tinha tanto instinto de natureza que eu e ela tínhamos podido nos viver uma a outra profundamente como só acontece entre bicho e homem."

[Clarice Lispetor, Água Viva]

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Da verdade do amor

Eu que sempre busquei a verdade das coisas, pessoas, e situações me deparei hoje com uma frase que me fez mudar um pouquinho. É mais ou menos assim:

Mais do que o amor à verdade, devemos buscar a verdade do amor.

leiam:
http://www.armazem.literario.nom.br/autoresarmazemliterario/eles/martinhocarloshost/complementares/45_complementar45.htm

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Do compartilhar II

- A gente vai morrer?

- Em algum momento. Não agora.

- E ainda estamos indo para o sul.

- Sim.Para ficarmos aquecidos.

- Sim.Tudo bem.

- Tudo bem o quê?

- Nada. Só tudo bem.

- Vá dormir. Tudo bem.

- Vou apagar a lamparina. Está bem?

- Sim. Está bem.

E então mais tarde na escuridão:

- Posso te perguntar uma coisa?

- Pode. É claro que pode.

- O que você faria se eu morresse?

- Se você morresse eu ia querer morrer também.

- Para poder ficar comigo?

- É. Para poder ficar com você.

- Tudo bem.


[Cormac McCarthy, A Estrada, Alfaguara, p.13]

domingo, 5 de outubro de 2008

ainda sobre a escolha

Toda escolha implica numa perda.

Cabe a nós pesarmos o que buscamos, o que fazemos questão de ganhar e o que podemos nos permitir perder.

Temos escolha

"Eis uma frase, uma verdade, um verso: da pra escolher. Todo dia, ao levantar da cama, eu procuro me lembrar: dá pra escolher. Nem eu nem você estamos jogados ao léu, nas mãos do destino. Não temos controle sobre tudo, mas dá pra escolher entre ter amigos e viver recluso, dá pra escolher entre privilegiar um amor ou ter vários casos superficiais, dá pra escolher entre participar ativamente de um projeto que alavanque nosso bem estar ou ficar de fora apenas criticando, dá pra escolher entre se refugiar num lugar tranquilo ou aprender a lidar com o estresse urbano, dá pra escolher entre levar a vida com bom humor ou levar a vida na ponta da faca.
Tudo é uma escolha, inclusive ser velho ou ser jovem, e isso nao se resolve apenas numa clínica de estética. Todas as nossas escolhas passam pelo estado de espírito. E é ele que vai determinar se vvamos viver uma vida mais simples ou mais complicada, mais solitária ou mais social, mais produtiva ou mais lerda.
(...) Se a escolha será acertada, aí já é outro assunto, o futuro vai dizer. Pensando bem, acertos e erros nem estão em pauta aqui. O que importa é ter consciência de que ficar sentado esperando que a vida escolha por nós não é uma opção confortável como parece. Descansados da silva, vem o tempo e crau: nos ultrapassa"

Martha Medeiros

sábado, 4 de outubro de 2008

Da distância

"Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros."

Poesia Completa de Mário Quintana, pg. 237 (Nova Aguilar)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Do pilates

Finalmente eu descobri a atividade física que no momento eu penso que poderia fazer pro resto da vida: o Pilates. Pra começar, a avaliação fisioterápica foi a mais completa de todas pelas quais eu já passei. A fisioterapeuta analizou desde a posição da minha cabeça até a ponta do pé, literalmente. E descobri que eu tô muito pior que eu imaginava. Posturalmente, eu digo. Descobri que eu piso horrorosamente pra fora não por ter me habituado a andar assim, mas porque senão não consigo mínima estabilidade pra ficar em pé e andar. Isso pq além de ter um pé super cavo (pelo menos isso já sabia), tenho instabilidade ligamentar nos dois tornozelos, incluindo uma possível rotura de ligamentos à esquerda, olha isso... Um tal teste da gaveta positivo bilateral. Bom, ainda estamos no pé. Além disso, minha tíbia é levemente vara, tenho fraqueza na musculatura glútea, desnivelamento de quadril, possivelmente devido à um encurtamento de membro inferior direito, escoliose torácica, fraqueza de serrátil, escápula alada, protusão de ombros, elevação de trapézio à esquerda, protusão de cabeça... além da fraqueza geral especialmente em braços, resultado do sedentarismo. Praticamente uma mostrinha ambulante. E o resultado disso tudo aí só podia ser um: dor. Que eu sinto diariamente, as vezes acordando e indo dormir com ela, as vezes em intensidade suportável sem medicação, as vezes não. E com tantos defeitinhos, é de se esperar que não seja recente. Desde uns 10 anos de idade eu lembro de sentir dor nas costas. Que foi gradativamente piorando com a idade, como tudo na vida. E como não sou masoquista, obviamente já procurei mil e uma maneiras de me ver livre dessas dolores, começando por atividades físicas.
Já fiz ginástica olímpica, judô, dança, natação, hidroginastica, musculação, step e corrida. Que me lembre só essas... E não me adaptei à algumas, outras parei por falta de tempo e nunca mais voltei... A ginástica não passei da segunda aula. Como uma pessoa pé no chão como eu iría conseguir fazer tantas voltas, piruetas e malabarismos? Na verdade, nunca tive força nos braços suficiente para carregar meu próprio peso de cabeça pra baixo. A culpa é da estrela, que eu nunca consegui fazer, nem dentro dágua! Falar em água, tanto a natação quanto à hidroginástica são esportes os quais eu gosto bastante, mas o amor à maciez dos meus cabelos me fez deixar as piscinas. Além disso, o tal nado borboleta me deixava com muuuito mais dores... Musculação sempre achei um saco e uma chatísse, mas deu uma melhoradinha na minha fraqueza geral. Mas tudo que é chato, cansa.
Além das físicas, passei também pelas atividades "alternativas".Cheguei a fazer acupuntura e por incrível que pareça, na época eu me senti melhor. Atribuí a melhora à efeito placebo, mas hoje é comprovado que aqueles choquinhos que eu sentia realmente estavam dessensibilizando a região. Fiz também Reiki, que foi a melhor coisa de todas pra quem precisa relaxar... até dormi... e olha que quem aplicou nem encostou em mim, só na base da energia! E mesmo não acreditando em nada disso na época, comprovei que deu certo...
Agora vamos à parte 2 da avaliação física: condicionamento. Não preciso nem dizer que é péssimo, né? Mas vejam, dos meus míseros 45 kilos que numericamente parecem ser um pouquinho só, né? A avaliadora até falou que eu devo ser a única da academia com peso na casa dos 40... Dá pra imaginar uma pessoa super sarada com tipo uns dez kilos à mais... apesar disso, quase um terço desse peso é gordura, repito, um terço, distribuída por peitos, bundas e banhas localizadas e espalhadas... Claro que essas avaliações são meio utópicas. Imagina eu com 37 kilos, por exemplo, que seria o ideal do percentual de gordura deles... uma marasmática da Biafra, praticamente. Mas, acabou que entrei no programa de condicionamento físico tb, com mil programas pra queimar as gorduras nas esteiras. As aulas são uma delícia, nem se percebe que é ginástica. Juro que já vi diferença na minha postura... e já que é pra ficar gostosa, vamo ficar gostosa direito! Enfim, tô bem empolgada. Daqui a um tempinho eu volto a comentar sobre resultados e se realmente o pilates conseguiu me prender ou não.