quinta-feira, 30 de julho de 2009

Do fluir

"Certo, muitas ilusões dançaram - mas eu me recuso a descrer absolutamente de tudo, eu faço força para manter algumas esperanças acesas, como velas. Também não quero dramatizar e fazer dos problemas reais monstros insolúveis, becos-sem-saída. Nada é muito terrível. Só viver, não é? A barra mesmo é ter que estar vivo e ter que desdobrar, batalhar um jeito qualquer de ficar numa boa. O meu tem sido olhar pra dentro, devagar, ter muito cuidado com cada palavra, com cada movimento, com cada coisa que me ligue ao de fora. Até que os dois ritmos naturalmente se encaixem outra vez e passem a fluir. Porque não estou fluindo."

[Caio Fernando Abreu]

terça-feira, 28 de julho de 2009

Do inferno

"Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço."

[Italo calvino, in Cidades Invisíveis]

sábado, 25 de julho de 2009

E tenho dito.

"Escuta, não dou lições nem esmolas, quando eu me dou, é por inteiro."

[Walt Whitman]
Tirei carteira!!!!!!!!

Yeah!!!!!!!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Do atraso

“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer..."

[Clarice Lispector]


Coincidência eu ter lido essa frase que exprime tanto o que tem passado na minha cabeça nos últimos dias: o quanto eu sou atrasada em alguns aspectos da vida em comparação às outras pessoas...

Claro, cada um é único. Óbviamente não se deve comparar vidas, etc, etc, etc...
Mas certos tipos de comparações são inevitáveis. Especialmente quando é você que se sente algumas vezes o E.T. da história.

Por exemplo, meu primeiro beijo foi aos 15 anos. Enquanto minhas amigas beijaram com 12, 13 anos... Foi com um menino qualquer que conheci numa festinha do Minas... Acabei me obrigando a ficar com o Murilo (esse era o nome dele) porque eu era a única da minha turma que era B.V e estava me sentindo muito mal. E além disso, ele ainda era do segundo ano. Uau! Mas que foi muito péssimo, isso foi.
E só 3 anos depois tive coragem de beijar outro cara.

Inevitavelmente o padrão-barrichello vem se repetindo em vários outros assuntos da minha vida...

Enquanto o pessoal que formou comigo tá todo mundo terminando uma primeira residência, estudando para a segunda, eu mal consegui escolher a área que quero... E mesmo assim, cada dia penso em outra coisa diferente...

Sexta faço mais um exame de direção para tirar carteira de motorista.
Sim, menos de 4 meses para completar 27 anos e não tenho carteira.
Espero que esse atraso de quase uma década seja suficiente para cumprir meu carma com Deus, ou seja lá o que for isso, e eu tire logo essa porcaria!!! Não aguento mais ser ilegal, passar do lado do carro da polícia pensando: "não tenho carteira, e se vcs lerem meu pensamento, to muito fudida e não vou ter mesmo no próximo ano..."

Sem falar na questão amorosa-sexual, em que estou muito atrás de qualquer garotinha de 20 anos do mundo de hoje... Mas como sei que a tendência para o atraso é habitual, ainda tô no prazo de achar um coraçãozinho com uma ereçãozinha pra chamar de meu e tirar o tempo perdido...

Afinal, a esperança tá entubada no CTI mas ainda não morreu!
Ainda...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Do ir e vir

"Não virá", pensou sem querer. E surpreendeu-se: não esperava ninguém.
Ninguém viria. Talvez um dia, quem sabe. Alguém, algum dia. "Não virá", repetiu. Depois pensou em Bruno, que se afastava, levado pelo navio. Parecia que tudo aquilo tinha acontecido há muito tempo, que não houvera solução nem resposta para nada. Ninguém, nada, nunca. As palavras presentes em todas as frases, com uma fatalidade um tanto cômica. Então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte — mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom.
Tinha quase certeza.

[Caio fernando de abreu]

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Da lei

Sentir primeiro, pensar depois
Perdoar primeiro, julgar depois
Amar primeiro, educar depois
Esquecer primeiro, aprender depois

Libertar primeiro, ensinar depois
Alimentar primeiro, cantar depois

Possuir primeiro, contemplar depois
Agir primeiro, julgar depois

Navegar primeiro, aportar depois
Viver primeiro, morrer depois.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Do cansaço

"Ah! Que coisa mais insuportável, a lucidez das pessoas fatigadas! Mil vezes a obtusidade dos que amam, dos que cegam de ciúmes, dos que sentem falta e saudade."

[Antônio Maria]

terça-feira, 14 de julho de 2009

Do que eu queria meeeeesmo

"O que eu queria mesmo, era um ombro onde pudesse encostar a cabeça, uma mão passando na minha testa, uma outra mão perdida dentro da minha. O que eu queria era alguém que me recolhesse como um menino desorientado numa noite de tempestade, me colocasse numa cama quente e fofa, me desse um chá de laranjeira e me contasse uma estória. Uma estória muito longa sobre um menino só e triste que achou, uma vez, durante uma noite de tempestade, alguém que cuidasse dele."

[Caio Fernando Abreu]

sábado, 11 de julho de 2009

"Pense no que desejar”, comandava à fantasia, “não precisa ter vergonha de mim. Pode voar no mais alto céu ou cair no mais fundo abismo, pois, na essência, são a mesma coisa".

[Isaac B. Singer, Amor e Exílio: Memórias]
"Se tua dor te aflige,
faz dela um poema"

[Eça de Queiroz]
porque as vezes eu tenho a sensação que não caibo em mim de tanta saudade...

saudade do que foi.
do que não foi.
de quem ficou pra trás.
de quem vem pela frente...
saudade de tudo que deixei pra trás.
de todos que deixei pra trás.
saudades imensas.
muito maiores que eu.

Do dotô

Hoje rolou uma festa junina do hospital. Óbviamente fui, à carater ainda.
Conversa com um, conversa com outro, eis que o médico que faz US quinzenalmente aqui na cidade veio até mim e começou a puxar papo. Papo vai, papo vem.. onde eu vou, ele vai atrás... e eu achando aquele trem esquisito, será que ele tá deslocado? ou isso é uma mascação? Eu já sabendo que ele é casado, e ele sempre com a mão no bolso.
Eis que numa roda me perguntam se tenho namorado e respondo que não. Aí alguém que já devia estar percebendo aquele suposto interesse dele, na mesma hora perguntou: "uai, e vc doutor?"
eu e outra menina que estávamos na roda viramos juntas: "olha pra mão dele que vc vê..." Ele ficou sem graça demais.

Mas não desistiu.

Engatou de me contar segredos à respeito de um outro médico da cidade, ao pé do ouvido. E veio com um papo de que namorou 3 meses e casou com 6, porque a namorada tinha engravidado, mas que ela não sabia se queria aquilo mesmo...apesar de ele sempre ter essa vontade de casar, de ter filho. Que ele tenta, faz de tudo, mas tá sem rumo. Pq ao mesmo tempo que tá casado, eles não dão certo mais...

Enfim, uma conversa pra boi dormir, que tenho certeza teve o objetivo de tentar me convencer lá ou posteriormente a ter algo com ele. Ninguém sai contando essas coisas pessoais assim pra quem não tem tanta intimidade sem nenhum objetivo.

Dançamos muito forró e sertanejo. Ele tava tentando me convencer à ir pro bar da praça depois da festa, junto com um outro médico e a namorada, mas acabei saindo à francesa, sem nem me despedir.
Aliás, que francesa nada, saí fugida mesmo.(É a liberdade de dirigir, ainda quem sem carteira.)

32 anos, bom papo, interessante, inteligente, pegável.
Mas casado não pego nem morta.
Nem morta meeeeeeeeesmo. Ainda mais com filho!

Tá querendo mesmo, amiguinho?
Descasa então que a gente conversa... que a bonitinha aqui não é trouxa não.
Ah não? Ô que pena, fica pra próxima, vida.

E esse foi o mais próximo que estive de uma pegação desde que vim para a roça...
Lamentável.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Do voo

"Voa coração. Ou então arde."

[Eugenio de Andrade]

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Do destino

"E senti um amor imenso. Por tudo, sem pedir nada de volta. Não-ter pode ser bonito, descobri. Mas pergunto inseguro, assustado: a que será que se destina?"

[Caio Fernando de Abreu]

Da (bendita) dismenorréia

Como que por um passe de mágica foi se embora a loucura, o desequilíbrio, o desespero, a depressão, a instabilidade, a solidão e tudo de negro que estava reinando por aqui e por cima da minha cabeça nos últimos dias.

Graças à Deus porque eu já não estava me aguentando de tão crisenta!

Me diagnostiquei como uma possível doente psiquiátrica (tá, a verdade é que eu sempre desconfiei disso, só nunca achei um diagnóstico que coubesse) de uma tal Disforia da Fase Lútea, que se resolve instantaneamente às custas de mar vermelho e dismenorréia. Mas se não tratada se repete à cada ciclo menstrual causando mais insanidade por mais alguns dias...

Eu já tinha percebido que a maluquice toda era cíclica etc e tals, mas não o tanto que dar um menstruadinha solucionava a crise repentinamente.

O diagnóstico mesmo é feito pela observação de 12 meses anteriores sintomáticos e mais 3 meses prospectivamente.

Resolvi me auto-tratar inicialmente com vitaminas e ACO, vamo ver no que dá... Mas só ciclo que vem dá pra saber. E se necessário encaro medicação psiquiátrica.

Só de pensar em não ficar doida como fico, faço tudo...

[Nossa, mulher tem cada coisa viu...
Tem hora que eu não sei se fico com inveja dos homens de não terem essas loucuras ou dó de terem que aguentar umas coisas assim vindas de nós...]

sábado, 4 de julho de 2009

"Como numa orgia, como num vício, como numa tara, como num inconfessável ritual sadomasoquista, ela entregava-se aos blues amargos, cafés fortes, tabacos lentos... Ainda à procura da grande história."

[Caio Fernando Abreu]

sexta-feira, 3 de julho de 2009

amanhã vai ser outro dia.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

faz de conta que não precisava morrer de saudade, faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus, não Lóri mas o seu nome secreto que ela por enquanto ainda não podia usufruir, faz de conta que vivia e não que estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte, faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que ela era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os punhos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta, faz de conta que se descontraía o peito e uma luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranquilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro - pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado; ela saíra agora da voracidade de viver.


[Clarice Lispector]

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Da escrita

Ontem eu estava tão deprimido que consegui escrever apenas meia página aqui. Mas acho que disse tudo que eu sentia, tudo que me fazia triste. Escrever mais não teria sido um consolo, porque sei que o motivo deste diário é unicamente solidão e, quando ela não mais existir, o diário também não mais existirá. Escrever, ontem, teria sido como se a solidão ficasse ainda mais clara. Cada linha que eu vencesse, cada página branca seria essa solidão gritada em todas as palavras escritas, fossem elas quais fossem: "Tu estás só, tu estás só." Hoje não me sinto menos só, apenas menos triste. Por isso tenho vontade de escrever. Escrever muito.

[caio fernando abreu]

Do dizer

"Quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis. Remexo o cérebro e ela vêm, não rara, mas toneladas. Deixam sempre um gosto de poeira na boca — a poeira do que e tentava expressar, e elas dessolveram. Quanto mais palavras ocorrem para vestir uma idéia, mais essa idéia resiste a ser identificada. As sucessivas roupas sufocam a sua nudez. E todas as palavras são uma grande bolha de sabão, às vezes brilhante, mas circundando o vazio."

[caio fernando abreu]