sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Dos sonhos


"Sonharás uns amores de romance, quase impossíveis. Digo-lhe que faz mal, que é melhor contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir."

[Machado de Assis]

Do não


"Não pode ou não quer? 
Não consegue, ou nunca tentou?  
Não sabe, ou finge não saber? 
 Não ama, ou só tem medo?
O que você tanto esconde?"

[Caio Augusto Leite]

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Será?

"A gente sempre procura um amor que dure o mais possível.
Pra mim é horrível eu aceitar o fato de que eu tô em disponibilidade afetiva. Esse espaço branco entre dois encontros pode esmagar completamente uma pessoa. Por isso eu acho que a gente se engana, muitas vezes. Aparece uma pessoa qualquer e então tu vai e inventa uma coisa que na realidade não é. E tu vai vivendo aquilo, porque não agüenta o fato de estar sozinho."

[Caio Fernando de Abreu]

quarta-feira, 26 de setembro de 2012


Mas gosto, gosto das pessoas. Não sei me comunicar com elas, mas gosto de vê-las, de estar ao seu lado, saber suas tristezas, suas asperezas, suas vidas. Às vezes também me dá uma bruta raiva delas, de sua tristeza, sua mesquinhez. Depois penso que não tenho direito de julgar ninguém, que cada um pode - e deve - ser o que é, ninguém tem nada com isso. Em seguida, minha outra parte sussurra em meus ouvidos que aí, justamente aí, está o grande mal das pessoas: o fato de serem como são e ninguém poder fazer nada. Só elas poderiam fazer alguma coisa por si próprias, mas não fazem porque não se veem, não sabem como são. Ou, se sabem, fecham os olhos e continuam fingindo, a vida inteira fingindo que não sabem.

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 25 de setembro de 2012

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

domingo, 23 de setembro de 2012

Post de 19/09/08


"A distância que separa os sentimentos das palavras. Já pensei nisso. E o mais curioso é que no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo. Ou pelo menos o que me faz agir não é, seguramente, o que eu sinto mas o que eu digo."

Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Do verde

    "Não desejei senão estar ao sol ou à chuva -
    Ao sol quando havia sol
    E à chuva quando estava chovendo
    (E nunca a outra cousa),
    Sentir calor e frio e vento,
    E não ir mais longe.


    Uma vez amei, julguei que me amariam,
    Mas não fui amado.
    Não fui amado pela unica grande razão -
    Porque não tinha que ser.


    Consolei-me voltando ao sol e a chuva,
    E sentando-me outra vez a porta de casa.
    Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
    Como para os que o não são.
    Sentir é estar distraido."


    [Fernando Pessoa/Alberto Caieiro]

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Das lágrimas

Nesse momento em que escrevo, choro.
Por tudo o que é e não devia ser.
Por tudo que foi e não é mais.
Por não conseguir fazer mais do que faço e nem ser mais do que sou.
Por não conseguir fazer dos meus sentimentos palavras.
Por não conseguir fazer do espaço o meu espaço, e do tempo o meu tempo.
Por me sentir tão vulnerável e ao mesmo tempo tão inatingível.
Por querer acreditar no não-palpável, mas não conseguir mais.
Por sentir apesar de não querer.

Aqui choro no escuro.
Sozinha. Calada.
Por não conseguir viver alheia.
E ainda assim ter que viver.
Alheia.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Do desejo - Post de 10/08/08

"É horrível na vida da gente ficar sem alguma coisa que nós queremos; mas caramba, o que me enfurece é não poder dar a alguém alguma coisa que a gente queria que ele tivesse."

[Truman Capote]

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Do resumo - Post de 18/09/08


"Afinal nessa busca de prazer está resumida a vida animal. A vida humana é mais complexa: re­sume-se na busca do prazer, no seu temor, e sobre­tudo na insatisfação dos intervalos.
É um pouco sim­plista o que estou falando, mas não importa por en­quanto. Compreende? Toda ânsia é busca de prazer. Todo remorso, piedade, bondade, é o seu temor. Todo o desespero e as buscas de outros caminhos são a insatisfação. Eis aí um resumo, se você quer. Com­preende?"

[Clarice Lispector-  Perto do Coração Selvagem]

Pensamento do dia

Gato escaldado tem medo de água fria.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

E eu não trabalho com menage-a-trois.

E aí? Como é que faz?
Não faz, né?

I'm ready - Post de 06/04/12


domingo, 16 de setembro de 2012


I'm still just a rat in a cage..

Recomeçando o blog?!? Post de 29/07/08


Disparo contra o sol
Sou forte, sou por acaso
Minha metralhadora cheia de mágoas
Eu sou um cara

Cansado de correr
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada
Eu sou mais um cara

Mas se você achar
Que eu tô derrotado
Saiba que ainda estão rolando os dados
Porque o tempo, o tempo não pára

Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

Eu não tenho data pra comemorar
Às vezes os meus dias são de par em par
Procurando uma agulha num palheiro

Nas noites de frio é melhor nem nascer
Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
E assim nos tornamos brasileiros
Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Transformam o país inteiro num puteiro
Pois assim se ganha mais dinheiro

A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára

Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades
O tempo não pára
Não pára, não, não pára

[Cazuza]

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Das mãos

"As mãos tateiam
Por baixo do pano, 
Mais leves do que o sono
De um soldado.

No vale dos encantos
Onde tudo é possível
Um homem sonha que caminha
Sobre um chão de mosaicos.

Ele penetra
Os recessos de um livro,
Abre a fonte lacrada.

Um cheiro de açucena
(E não o vinho)
O embriaga.

Nunca sua fantasia ousara
Frequentar um palácio
De perfumes e licores
Preexistentes à vontade.

O amor vem quando quer
E se vai antes que a noite
Se desfaça.

Esconde o poeta nesses versos
A suave gradação entre os sentidos
E o insondável.

[Mariana Ianelli ]

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Do fogo


"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira."

[Rubem Alves]

Do coração

"Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos."


[Carlos Drummond de Andrade]

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Da vida real

"Quanto à moça, ela vive num limbo impessoal, sem alcançar o pior nem o melhor. 
Ela somente vive, inspirando e expirando, inspirando e expirando. Na verdade — para que mais que isso? (...)  Para adormecer nas frígidas noites de inverno enroscava-se em si mesma, recebendo-se e dando-se o próprio parco calor.  Dormia exausta, dormia até o nunca..." 

[Clarice Lispector]


sábado, 1 de setembro de 2012


Dos diálogos platônicos: conversando com os dedos

"- Eu quero saber o que você ía falar
- Nada de importante.
- Mesmo assim eu gostaria saber, saber o que há contigo agora.
- Eu também.
- Espero que não seja nada comigo.
- Pode ser.
- E o que pode ser?
- Nada de ruim, simplesmente quando eu não tô muito legal você não tem a mínima paciência.
- Desculpa. Sou assim mesmo.
- Assim como?
- Meio sem paciência.
- Pois é. E eu sou uma chata. Disse que era chata. Muito chata.
- Chata, um saco, mas mesmo assim continuo gostando de você mais do que deveria.
- Pode até ser. Mas não tem paciência. Acho que nem eu tenho.
- Me beija.
- Onde?
- Onde eu possa sentir seu gosto.
- Mesmo que eu esteja meio amarga?
- Tá bom. Não quer não beija.
- Só fiz uma pergunta!
- Sim.
- Sim o quê?
- Mesmo que você esteja meio amarga.
- Puta que pariu!
- Eu já respondi sua pergunta. E daí?
- Como?
- Não se faz.
- Como assim?
- Tudo bem. Era apenas um beijo mesmo. Igual a qualquer outro.
- Se você queria por que não o fez?
- Quando? Onde? Como?
- Pois é exatamente o que eu gostaria saber.
- Ontem, hoje, amanhã. Mês que vem, mês passado. No ano novo, no ano velho, no próximo século. Na minha cama, na sua cama, no cinema, no carro, no sofá, em cima desta mesma, na torre, no céu, no inferno, no banheiro, no motel, na praia, na serra, no restaurante, no bar, no shopping, no provador de roupas das lojas americanas. Como? Como, eu não sei.
- Eu iria perguntar exatamente isso: como?
- Do seu jeito.
- O que houve?
- Fiquei muda. Cega. Surda. Calma. Enlouquecida. Desmemoriada. Enraivecida. Convencida.... convencida de que eu preciso de você.
- Pra quê?
- Pra tudo.
- Eu amo você.
- Estou com fome.
- Às vezes odeio todos que me prendem. Às vezes preciso muito dos poucos que conseguem me prender.
- Eu consigo prender você?
- Já respondi isto.
- Quando?
- Quando disse que preciso de você.
- Eu também preciso de você. Mas às vezes parece que você não percebe isso e, outras, parece que você não precisa de mim.
- Simplesmente vivemos em uma ilha paradigmática repleta de diálogos platônicos."

[André Takeda]