segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Vou viajar.

"E decidiu: vou viajar. Porque não morri, porque é verão, porque é tarde demais e eu quero ver, rever, transver, milver tudo que não vi e ainda mais do que já vi, como um danado, quero ver feito Pessoa, que também morreu sem encontrar. Maldito e solitário, decidiu ousado: vou viajar."

Caio Fernando Abreu

Não sei...

"(...)Eu faço que sei, mas sei quase nada. Não sei as coisas mais sérias que se espera que um adulto saiba, como, por exemplo, o que eu quero ser quando crescer. Já cresci?? Pois ainda tenho diversas interrogações sobre o amor, sobre o futuro, sobre a morte e sobre a vida. Não sei por que faço coisas que não tenho vontade. Não sei por que me deixo enganar por mim mesma tantas vezes. Não sei por que me sinto culpada quando nego alguns convites e pedidos. Não sei por que se sentir aprovada pelos outros é tão importante. Não sei por que a solidão é tão temida, já que somente a sós podemos ser 100% quem a gente é.

Não sei por que me dá mais satisfação ficar em casa lendo um livro do que ir a uma festa, não sei por que me atrapalho socialmente, por que me prefiro calada, por que todo mundo parece tão mais à vontade do que eu. E também não sei por que estou chorando, quando choro. Alguém sabe por que está chorando?(...)"

[Martha Medeiros - Não sei não é resposta]

Is it too late?

domingo, 21 de dezembro de 2008

Das mudanças

"Hoje, quando tantas coisas mudaram, é espantoso que tudo não tenha mudado."

[Jean Fourastié, Les Trente Glourieuses, p. 241.]

sábado, 20 de dezembro de 2008

Dos obstáculos

"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida – ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não perguntes, segue-o."

[Nietzsche]

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Da fragilidade

"Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos, começa a passar."

[Caio Fernando Abreu]

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Do movimento

Vou explicar de novo, talvez não me tenha feito entender.

Quero você pra mim, mas isso não lhe dá o direito de agir como quiser. Lembre-se: sentimentos pedem correspondência, e se não nutridos, na melhor das hipóteses, morrem. Não se engane: quando ligo e você não atende, quando falo e você não ouve, quando olho e seu olhar desvia, algo acontece: não há pedido de desculpas, ainda mais quando repetido à exaustão, capaz de curar todas as feridas; se quer curar todas, aja como quem quer curar todas.

Talvez eu veja agora o que já deveria ver desde o início: que nenhum amor deve ser maior que aquele por si mesmo, e que nisto nada há de narcisismo; apenas a constatação de que, em todas as instâncias, é apenas conosco que podemos ter a certeza de sempre estar, a todo dia, em todas as horas, e que da nossa companhia é impossível fugir; assim, da mesma forma, é impossível fugir das cobranças que nos fazemos. Talvez agora eu veja que o egoísmo não é somente introspecctivo, mas também se mostra quando o outro parece-nos mais importante do que aquilo que nos compõe. Talvez eu tenha visto que as noites de choro, o entorpecimento do vinho e os ouvidos amigos não são opção de destino para aquilo que pretendia lhe oferecer.

Talvez eu tenha visto que a quero pra mim, mas não a qualquer preço.

Coloco-me onde devia estar: como quem a vê, como quem a quer, mas como alguém que responde àquilo que recebe.

Minha espera, agora, é em movimento.

[Renato Alt - in Outono]

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Nude

"Don't get any big ideas
They're not gonna happen
You paint yourself white
And feel up with noise
But there'll be something missing

Now that you've found it, it's gone
Now that you feel it, you don't
You've gone off the rails

So don't get any big ideas
They're not going to happen
You'll go to hell for what your dirty mind is thinking

She stands stark naked and she beckons you to bed
Don't go, you'll only want to come back again"

[Nude - Radiohead]

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Daquele tempo

"Daquele tempo nem tão distante, daqueles dias que até hoje duram às vezes duas, às vezes duzentas horas, restou esta sensação de que, como eles, também me vou tombando rápido dentro da boca de um vulcão aberto sem fôlego nem tempo para repetir como numa justificativa, ou oração, ou mantra, enquanto caio sem salvação no fogo que é verdade, que si, que no, que nadie puede mismo vivir sin amor."

[Caio Fernando Abreu - Ovelhas Negras]

sábado, 13 de dezembro de 2008

Da verdade violenta

"Bom, para começo de conversa", comecei, ainda lhe apresentando um sorriso ameno e tranqüilizador, "você é um canalha e sabe disso. Tem medo de alguma coisa, ainda não sei do quê, mas vamos chegar lá. Comigo, você faz de conta que é simplório, um joão-ninguém, mas de si para si tem-se na conta de muito esperto, de importante, de durão. Não tem medo de coisa alguma, não é mesmo? Tudo conversa fiada, e você sabe muito bem. Vive cheio de medo. Diz que agüenta. Agüenta o quê? Um murro no queixo? Claro que agüenta, com uma cara de concreto feito a sua. Mas será que agüenta a verdade?"

[Henry Miller]

Awareness

Da memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão

[Carlos Drummond de Andrade]

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Da missa

"Eu não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechado e cinza, aqui contra a sacada com gotões coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um atrás do outro, que tédio. Agora aparece a gotinha no alto da esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu que a esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo e balouça, já vai cair e não cai, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que pende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidade no mármore.Mas há as que se suicidam e logo se entregam, brotam na esquadria e de lá mesmo se jogam, parece-me ver a vibração do salto, suas perninhas desprendendo-se e o grito que as embriaga nesse nada de cair e aniquilar-se. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adeus gotas. Adeus."

[Júlio Cortázar]

Do limite

"Ninguém sabe o ponto certo de se doar e quanto vale a pena. É verdade... Às vezes, não vale. A gente se dá sem querer nada em troca. Por quanto tempo conseguimos encher copos de água para o outro enquanto morremos de sede? Não será essa atitude uma maneira de simplesmente alimentar o egoísmo do outro? É tão cômodo apenas receber..."

[Débora Böttcher]

Ver vendo III

"O que é mais difícil? O que parece fácil: poder ver com os olhos o que tens diante deles."

[Goethe]

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Das viagens

"Afinal, é tão fácil abalar uma história. Quebrar uma linha de pensamento. Arruinar um fragmento de sonho conduzido com cuidado como se fosse uma peça de porcelana. Embarcar, viajar junto... é a coisa mais difícil de se fazer."

[Arundhati Roy - O Deus das Pequenas Coisas]

Primeiro soneto de meditação (Do ontem)

"Mas o instante passou. A carne nova
Sente a primeira fibra enrijecer
E o seu sonho infinito de morrer
Passa a caber no berço de uma cova.

Outra carne virá. A primavera
É carne, o amor é seiva eterna e forte
Quando o ser que viveu unir-se à morte
No mundo uma criança nascerá.

Importará jamais por quê? Adiante
O poema é translúcido, e distante
A palavra que vem do pensamento

Sem saudade. Não ter contentamento.
Ser simples como o grão de poesia.
E íntimo como a melancolia."

[Vinicius de Moraes]

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Do auto-retrato

"No retrato que me faço
- traço a traço -
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem
mas que um dia existirão…
e, desta lida, em que busco
- pouco a pouco -
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!"

[Mario Quintana]

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Da morte

"Depois de curto sono, acordamos na eternidade. E não haverá mais morte. Morte, tu hás de morrer."

[John Donne]

Da fagulha

"Um monte de lenha ao qual não se encontrou maneira de atear fogo. Falta a fagulha eficaz que faça erguer-se a chama de um ideal vivificante e inquieto sobre o abundante combustível".

[José Enrique Rodó]

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Das aspirações

"Eu escolho
um homem
que não duvide
de minha coragem
que não
me acredite
inocente
que tenha
a coragem
de me tratar como
uma mulher."

[Anais Nin]

Do sonho

Hoje eu tive um sonho.
Vocês irão pensar, e daí, eu tb. Mas é que esse não é um fato costumeiro na minha vida. E eu acredito que eles podem trazer muitas possibilidades de interpretações e múltiplos significados. Estava eu no teatro, semelhante ao qe eu já pisei antes, para realmente interpretar. Juntando minhas coisas pra ir embora, como se tivesse acabado de fazer o que estava ali para. Fui. Pra casa da minha vó, com todas as pessoas da peça, que eram estranhas pra mim. Mas a casa estava cheia de gente. Inclusive uma menina, fisicamente extremamente oposta à real, meio loira até. Com um[o] menino indisponível. Daí ela entra no andar de baixo com outras pessoas estranhas e sai de foco. O indisponível me puxa para o andar de cima, grade de dentro, e a gente se pega. Tesão total. [muitos detalhes pra mim. sem detalhes pra vocês, queridos.] Mas a nóia da indisponibilidade me persegue. Começo a chorar, saio, vou pra dentro. Tento descer as escadas. Ele vem atrás. Ela vem subindo. Saio correndo, chorando e me sentindo a pior de todas as criaturas.
Tudo isso ao som de "Everything in its right place", Radiohead...
E em cores fracas, desbotadas, como de um filme antigo em que já se perderam as cores.

Acordei agora a pouco com uma sensação de angústia e uma vontade de entender o que o meu inconsciente tentou me dizer. Com a cabeça girando, com uma forte impressão de tudo que acabou de acontecer, espiritualmente ou subconscientemente, de acordo com as crenças de cada um.

Mas disso ficou forte pra mim a questão da (in)disponibilidade. A imensa vontade de sair disso tudo e me sentir presa, sem saber porque nem como. Ainda a imensa vontade de liberdade, de não ter nenhum tipo de idéias repressoras, mas a certeza de que essas idéias não só fazem parte de mim, como eu desmoronaria sem elas.
Sim, tenho a certeza de que existem princípios que seguram a casa toda. Sem os quais tudo desmorona.

E o teatro? Talvez estejamos todos representando nesse palco que é a vida... Talvez seja tudo uma ilusao.

Sonhos incrivelmente mexem comigo.
Como se fossem avisos distantes de perigo, de alerta.
E não deixam de ser.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Das luas

"Você vê? as pedras parecem luas também. Ou estrelas, ele diz. Chão de estrelas. Vamos pisar nos astros distraídos? Ele ri. Nesse segundo cheio de riso alguma coisa se adensa. Nossos pés pisam em pedras. Mas por cima dos sapatos, sinto que são frias e duras, e sei que seu significado está em nós, não nelas. Uma vontade que a manhã não venha nunca. Vai voltar a grande busca. As noites vazias. Amargura de estar esperando. Repetir mil vezes: não quero esperar. E a certeza de que esse não querer já traz implícitas as longas caminhadas, o olhar devassando os bares, a náusea, os olhares alheios, a procura, a procura: seus ombros largos, um jeito de quem pisa mesmo em luas, não em pedras."

[caio fernando de abreu]

Do (strip) poker

All-in: nunca.
Aprendi ontem.
; )

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só pertence à minha vida quem de fato está presente nela.

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Lo que importa es la no-ilusión. La mañana nace. (Frida Kahlo, Diários)

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[surto saturtino à 8 mãos, relativo à vida, ao poker, ao strip poker, et al]
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sábado, 6 de dezembro de 2008

Para uma avenca partindo

"Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê."

[Caio Fernando de Abreu]

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Pessoa

"Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um."

[Fernando Pessoa]

Apesar de

"Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse seu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso."

[Clarice Lispector - Uma Apredizagem ou Livro dos Prazeres]

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Do monopólio sentimental

"You fell down of course
and then you got up of course
and started over
forgot my name of course
then you started to remember
pretty tough to think about
the beginning of december
pretty tough to think about
pretty tough to think about
pretty tough to think about

You're looking down again
and then you look me over
we're laying down again
on a blanket in the clover
the same boy you've always known
well I guess I haven't grown
the same boy you've always known
same boy you've always known

Think of what the past did
it could 've lasted
so put it in your basket
I hope you know a strong man
who can lend you a hand
lowering my casket

I thought this is just today
and soon you'd been returning
the coldest blue ocean water
cannot stop my heart and mind
from burning
everyone who's in the know says
that's exactly how it goes
and if there's anything good about me
I'm the only one who knows"

[The white stripes - The same boy you've always know]

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Necessidade

There's a place...

há um lugar no coração que
nunca será preenchido

um espaço

e mesmo nos
melhores momentos
e
nos melhores
tempos

nós saberemos

nós saberemos
mais que
nunca

há um lugar no coração que
nunca será preenchido

e

nós iremos esperar
e
esperar

nesse
lugar.

[Charles Bukowski]

Da asa quebrada II

"Quero uma cartola de mágico,
mas que funcione bem, para enfiar nela meu coração
delirante e retirar uma engrenagem melhor.
Quero esconder na manga, na bolsa,
nessa cartola encantada minha alma falida,
a asa quebrada, tanta contradição.
Prefiro um objeto mais útil:
calculadora de emoção, maquininha de escrever,
relógio de sonho preso num lugar.
(Umas peças de metal enfiadas no peito: só o essencial,
para que a cara não desabe de todo no chão).

[Lya Luft]

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Da minha verdade

“Eu sei de muito pouco. Mas tenho a meu favor tudo o que não sei e - por ser um campo virgem - está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo. Tudo o que eu não sei é que constitui a minha verdade”

[Clarice Lispector]

domingo, 30 de novembro de 2008

Das resoluções

"Eu tinha escolhido assim, num remoto dia qualquer em que deixei de acreditar, não lembraria quando, e isso era para sempre tanto quanto pode ser para sempre o que por estar vivo tem um coração que bate mas, imprevisto e fatal, um dia deixará de bater. Por não querer mais depositar esperanças em nada que pudesse vir de fora, já que de dentro nada mais viria, estava certo, além dessas imagens assustadoras da memória, curvei-me até o chão, uma das mãos na cabeça, como se segurasse o ponto de encontro entre duas asas, a outra procurando o assoalho, como se mergulhasse numa touceira espessa de juncos, até encontrar a grama molhada de beira de rio, tocando a pele fria daquela cobra."

[Caio Fernando Abreu]

Alguns comentários, etílicos (ou não)

Ponto.
Pediu pra parar, parou!

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Ainda bem que o ano está acabando e estou com resoluções de ano novo muito bem estabelecidas, senão, adeus fígado... (depois coloco meus planos zerolésimos aqui).. Cirrose mesmo para uma iniciante tardia ao mundo etílico... Comecei à beber no quarto período de faculdade, aos 21 anos de idade. Depois de vários e vários e váaaaaaaaaaaarios butecos e festinhas sendo a sem graça e/ou diferente da mesa pedindo um refrigerante...

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Sem golo verde pra mim por um bom tempo:
Cheguei em casa às 6:12 (tem um relógio digital desses da prefeitura na porta da minha casa). Foi só eu abrir a porta que escuto a voz da minha mãe: "Isso são horas, minha filha?!? Nossa... perdeu a noção mesmo..." Fui diretinho pro meu quarto, sem escalas. Só que o maldito do energético, não me deitou dormir nem um minutinho sequer. Fiquei rolando na cama igual uma mongolona, até ouvir uns barulhos na cozinha e levantar de vez. Resumindo: tô naquele estado de cansaço e dor muscular de uma noite inteiramente não-dormida + ressaca, associada ao estado alerta de uma anfetamina...

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Se houvesse gravado minhas conversas com minha amiga Jaque ontem à noite, tenho certeza que eu teria um ótimo tema para me auto-divertir por um longo período...

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Puta que Pariu!
Sou a melhor cupida do Brasil!
Em uma semana 3 casais... Que brilho!


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sábado, 29 de novembro de 2008

Será melhor...

"É será melhor
Não procurar
Um novo amor
Até saber
Se o coração
Já se refez

É será melhor
Viver em paz
Eu amei estando só
Portanto a solidão
Não é demais

Se algum dia eu encontrar
Um novo amor
Hei de ter amor pra dar
Amor e paz

Por isso eu vou
Guardar meu peito
Até quando por direito
Este amor chegar"


[Paulinho da Viola]

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

final feliz (pra mim)

Hoje as coisas se resolveram, e percebi que não sou passavel pra trás como imaginava.
Viva! ÊÊÊ!
Nem tenho mais raiva de mim (por esse motivo). Pelo outro motivo, ainda tenho.
: )

E viva o banco do brasil!

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Da minha mais pura verdade

"Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um. O outro pelo qual estou apaixonado me designa a especialidade do meu desejo.
Foram precisos muitos acasos, muitas coincidências surpreendentes (e talvez muitas procuras), para que eu encontre a imagem que, entre mil, convém ao meu desejo.

Eis um grande enigma do qual nunca terei a solução: por que desejo Esse? Por que o desejo por tanto tempo, languidamente? É ele inteiro que desejo (uma silhueta, uma forma, uma aparência)? Ou é apenas uma parte desse corpo? E nesse caso, o que, nesse corpo amado, tem tendência de fetiche em mim? Que porção, talvez incrivelmente pequena, que acidente? O corte de uma unha, um dente um pouquinho quebrado obliquamente, uma mecha, uma maneira de fumar afastando os dedos para falar? De todos esses relevos do corpo tenho vontade de dizer que são adoráveis. Adorável quer dizer: este é meu desejo, tanto que único: “É isso! É exatamente isso (que amo)!”

[Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso, pp.31-2]


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E continuo me perguntando...
"Por que desejo Esse? Por que o desejo por tanto tempo, languidamente?..."
Que raiva de mim... Muita.
O que está atrás de nós e o que está à nossa frente são coisa pouca, comparado ao que está dentro de nós.

Ralph Waldo Emerson

triste

pq to me sentindo a pessoa mais passável pra trás que existe no mundo, assim como a mais idiota, e a que mais confia nos outros sem poder. e como ninguem gosta de sentir assim, to triste e com muita raiva de mim.
amém.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

"Às vezes me sinto muito só.
Sem ontem e sem amanhã.
Não adianta que haja pessoas em volta de mim.
Mesmo as mais queridas.
Só se está só ou acompanhado, dentro de si mesmo.
Estou muito só hoje.
Duas ou três lembranças que me fizeram companhia, desde segunda-feira, eu já gastei.
Não creio que, amanhã, aconteça alguma coisa de melhor..."

Antônio Maria,
em seu Diário.

Do coração íntimo

"Há muitas coisas em seu coração que você nunca deve contar a ninguém.
Seria baratear o seu íntimo sair espalhando-as por aí."

[Greta Garbo]

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Do Algo

"Um embrião cansado invade a escuridão da caverna procurando uma saída. Escuto o eco rebatido nas paredes da carne refletindo no olho o desespero da solidão. A preguiça é o sono dos mortos. Minha euforia necessita de calma, e minha calma, de euforia. Que se foda o resto do resto da sobra do que resta. O restante é o que eu quero. O amor do instante é o instante em que estamos perto da batida perfeita. Os olhos são o início do real. Meu cigarro tem um tempo de vida. Minha vida necessita de um cigarro. O que fazer? O que comer? Será que minha mãe tá certa? Definitivamente, não. Preciso de um coração que bata descompassado, sem ritmo e sem melodia. Não quero a batida perfeita. Quero o descompasso. Me dê uma pista, uma lágrima… Mas me dê algo."

[cão sem dono - filme]

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Relicário

"É uma índia com colar
A tarde linda que não quer se pôr
Dançam as ilhas sobre o mar
Sua cartilha tem o "A" de que cor?

O que está acontecendo?
O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou

E são dois cílios em pleno ar
Atrás do filho vem o pai e o avô
Como um gatilho sem disparar
Você invade mais um lugar onde eu não vou

O que você está fazendo?
Milhões de vasos sem nenhuma flor
O que você está fazendo?
Um relicário imenso desse amor

Sobe a lua, porque longe vai?
Corre o dia tão vertical
O horizonte anuncia com o seu vitral
Que eu trocaria a eternidade por essa noite

Porque está amanhecendo?
Peço o contrário, ver o sol se por
Porque está amanhecendo?
Se não vou beijar seus lábios quando você se for

Quem nesse mundo faz o que há durar
Pura semente, dura o futuro amor
Eu sou a chuva pra você secar
Pelo zunido das suas asas você me falou

O que você está dizendo?
Milhões de frases sem nenhuma cor
O que você está dizendo?
Um relicário imenso desse amor

O que você está dizendo?
O que você está fazendo?
Porque que está fazendo assim?
Está fazendo assim!"

[Relicário - Nando Reis/Cassia Eller]

domingo, 23 de novembro de 2008

Do hoje II

Você se aproxima de mim
Com esses modos estranhos e eu digo que sim
Mas teus olhos castanhos
Me metem mais medo que um dia de sol
E quando você me envolver
Nos seus braços serenos eu vou me render
Mas seus olhos morenos
Me metem mais medo que um raio de sol

[Tom Jobim]

sábado, 22 de novembro de 2008

Eu, Amelie

"Sabe a garota do copo de água?
- Sei.
- Se parece distante, talvez seja porque está pensando em alguém.
- Em alguém do quadro?
- Não, um garoto com quem cruzou em algum lugar, e sentiu que eram parecidos.
- Em outros termos, prefere imaginar uma relação com alguém ausente que criar laços com os que estão presentes.
- Ao contrário, talvez tente arrumar a bagunça da vida dos outros.
- E ela? E a bagunça na vida dela? Quem vai pôr ordem?"

[O Fabuloso destino de Amelie Poulan]

Da lei

"Sempre sei, realmente. Só o que eu quis, todo o tempo, o que eu pelejei para achar, era uma só coisa - a inteira - cujo significado e vislumbrado dela eu vejo que sempre tive. A que era: que existe uma receita, a norma dum caminho certo, estreito, de cada uma pessoa viver - e essa pauta cada um tem - mas a gente mesmo, no comum, não sabe encontrar; como é que sozinho, por si, alguém ia poder encontrar e saber? Mas, esse norteado, tem. Tem que ter. Se não, a vida de todos ficava sendo sempre o confuso dessa doideira que é. E que: para cada dia, e cada hora, só uma ação possível da gente é que consegue ser a certa. Aquilo está no encoberto: mas, fora dessa conseqüência, tudo o que eu fizer, o que o senhor fizer, o que o beltrano fizer, o que todo-o-mundo fizer, ou deixar de fazer, fica sendo falso, e é o errado. Ah, porque aquela outra é a lei, escondida e vivível mas não achável, do verdadeiro viver: que para cada pessoa, sua continuação, já foi projetada, como o que se põe, em teatro, para cada representador - sua parte, que antes já foi inventada, num papel..."

[João Guimarães Rosa - Grande Sertao: Veredas]

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Canto de Ossanha

"O canto da mais difícil
E mais misteriosa das deusas
Do candomblé baiano
Aquela que sabe tudo
Sobre as ervas
Sobre a alquimia do amor"

Deaaá! Deeerê! Deaaá!

O homem que diz dou
Não dá
Porque quem dá mesmo
Não diz
O homem que diz vou
Não vai
Porque quando foi
Já não quis
O homem que diz sou
Não é
Porque quem é mesmo é
Não sou
O homem que diz tô
Não tá
Porque ninguém tá
Quando quer
Coitado do homem que cai
No canto de Ossanha
Traidor
Coitado do homem que vai
Atrás de mandinga de amor...

Vai, vai, vai, vai...
Não Vou
Vai, vai, vai, vai...
Não Vou
Vai, vai, vai, vai...
Não Vou
Vai, vai, vai, vai...
Não Vou...

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou

Não
Eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...

Amigo sinhô
Saravá
Xangô me mandou lhe dizer
Se é canto de Ossanha
Não vá
Que muito vai se arrepender
Pergunte pro seu Orixá
O amor só é bom se doer
Pergunte pro seu Orixá
O amor só é bom se doer...

Vai, vai, vai, vai
Amar
Vai, vai, vai, vai
Sofrer
Vai, vai, vai, vai
Chorar
Vai, vai, vai, vai
Dizer...

Que eu não sou ninguém de ir
Em conversa de esquecer
A tristeza de um amor
Que passou

Não!
Eu só vou se for pra ver
Uma estrela aparecer
Na manhã de um novo amor...

Vai, vai, vai, vai
Amar
Vai, vai, vai, vai
Sofrer
Vai, vai, vai, vai
Chorar
Vai, vai, vai, vai
Dizer...

[Vinícius de Moraes]

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Das pedrinhas


"De vez em quando a alegria
atira pedrinhas em minha janela.
Quer avisar-me que está lá esperando.
Mas hoje me sinto calmo
quase, diria, equânime.
Vou guardar a angústia em seu esconderijo
e deitar-me de cara ao teto,
que é uma posição galharda e cômoda
para filtrar notícias e acreditar nelas.

Quem sabe onde estarão minhas próximas pegadas,
ou quando minha história vai ser contada?
Quem sabe que conselhos ainda vou inventar,
e que atalho acharei para não segui-los?

Está certo, não brincarei de despejo,
não disfarçarei a recordação com esquecimentos.
Muito fica por dizer e calar,
e também ficam uvas para encher a boca.

Está bem, me dou por convencido.
Que a alegria não atire mais pedrinhas.
Abrirei a janela.
Abrirei a janela."


[Mário Benedetti]

domingo, 16 de novembro de 2008

Do ontem

" Neste dia perfeito em que tudo amadurece e não é somente a fruta que se amorena, um raio de sol caiu sobre a minha vida: olhei para trás, olhei para a frente, nunca tinha visto tantas e tão boas coisas de uma só vez. Não foi em vão que enterrei hoje o meu quadragésimo quarto ano: eu podia enterrá-lo – o que nele era vida está salvo, é imortal."

[Nietzshe - Ecce homo]

sábado, 15 de novembro de 2008

Do hoje

"De repente as coisas não precisam fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é.
Hoje está um dia de nada. Hoje é zero na hora. Existe por acaso um número que não é nada? que é menos que zero? que começa no que nunca começou porque sempre era? e era antes de sempre? Ligo-me a esta ausência vital e rejuvenesço-me todo, ao mesmo tempo contido e total. Redondo sem início e sem fim. eu sou o ponto antes do zero e do ponto final. Do zero ao infinito vou caminhando sem parar. Mas ao mesmo tempo tudo é fugaz. Eu sempre fui e imediatamente não era mais. O dia corre lá fora à toa e há abismos de silêncios dentro de mim. A sombra de minha alma é o corpo. O corpo é a sombra de minha alma. Sou feliz na hora errada. Infeliz quando todos dançam. Me disseram que os aleijados se rejubilam assim como me disseram que os cegos se alegram. É que os infelizes se compensam. Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro"

[Clarice Lispector]

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Da asa quebrada

Porque já faz algum tempo que as ilusões não me bastam.
Não me contento com pouco, quero mais.
Mereço bem mais.
Mereço a vida real.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Das cidades

"O amor é difícil, mas pode luzir em qualquer ponto da cidade.
E estamos na cidade"

[Ferreira Gullar]

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Poética

"De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O oeste é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
- Meu tempo é quando."

[Vinicius de Moraes]

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

: - )

Hoje entrou na minha vida Dona Helena, uma senhorinha de 94 anos com a seguinte mensagem: "a vida é muito boa, eu não quero morrer!"

e hoje é isso aí que eu queria dizer, ô vida boa...

[não, ainda não aniversariei mas acho que a nuvenzinha preta em cima de mim já passou]

domingo, 9 de novembro de 2008

Dos meus desenganos

"Se um dia meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar

Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos ficou, ficou
Só um amor pode apagar"

[Paulinho da Viola]

Do muitíssimo inesperado

"Algo está sempre por acontecer. O imprevisto improvisado e fatal me fascina"

[clarice lispector]
.

"Quem é homem de bem, não trai

O amor que lhe quer seu bem
Quem diz muito que vai, não vai
E assim como não vai, não vem
Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém
O dinheiro de quem não dá
É o trabalho de quem não tem
Capoeira que é bom, não cai
E se um dia ele cai, cai bem!

Capoeira me mandou
Dizer que já chegou
Chegou para lutar

Berimbau me confirmou
Vai ter briga de amor
Tristeza, camará


Se não tivesse o amor
Se não tivesse essa dor
E se não tivesse o sofrer
E se não tivesse o chorar
Melhor era tudo se acabar

Eu amei, amei demais
O que eu sofri por causa do amor
Ninguém sofreu
Eu chorei, perdi a paz
Mas o que eu sei
É que ninguém nunca teve mais
Mais do que eu"

[vinicius de moraes]

nada melhor pra dançar à dois que um bom samba... e vc coração, fica quieto.
imprevisto e super inesperado encontro, incrível sintonia nas danças e na pele, mas fica quieto.
vc só vai querer alguém agora se EU deixar.
e tenho dito.

sábado, 8 de novembro de 2008

It feels so good when stop...


Maybe we like the pain. Maybe we're wired that way. Because without it, I don't know; maybe we just wouldn't feel real. What's that saying? Why do I keep hitting myself with a hammer? Because it feels so good when I stop.
What are you suffering for?
Your pride or some kind of personal war?

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Fatos que me fazem crer em inferno astral

1. Acordei às 8:55 mesmo tendo colocado o despertador para tocar às 7:30.
(vc pode pensar: "tudo bem isso acontece comigo sempre"... mas continua lendo.

2. Resolvi pegar um taxi, mesmo a distância sendo curta, devido ao atraso de mais de uma hora. Na hora de pagar, descubro que não tenho dinheiro! Lembrei da minha bolsinha de moedas. Praticamente despejei um cofrinho sobre o taxista, de tanta moeda que ele recebeu. E com isso gastei o tempo que levaria fazendo o percurso a pé na contagem de moedas...

3. Ao chegar na empresa, 22.o andar, a clínica está simplesmente lotada de gente, o oposto de todas as sextas-feiras normais em que costuma ser bem fraquinho o movimento.

4. Logo após minha chegada, a puxa-saco da dona vira pra mim e pergunta se posso ficar até mais tarde, pra compensar o atraso. O que me significou um estado de semi-jejum de aproximadamente 12 horas, já que não deu tempo de tomar café da manhã e comi apenas uma barrinha de cereais que por sorte tava na minha bolsa.

5. Falando em bolsa, ao abrir a minha, pegar o jaleco e iniciar os exames, descubro que meus aparelhos (estetoscópio e esfigmomanômetro) ficaram em casa ao medir a PA da minha mãe. Olha que maravilha...

6. Comecei a usar os da Dra.-dona-da-clínica e estou lá no batente, quando escuto o barulho na sala ao lado, dela chegando pra atender, apesar de sexta não costumar trabalhar... E me pede os aparelhos dela!

Acho que vou parar de contar da minha vida, senão vou atrair mais coisa ruim... Daqui a pouco vou estar contando é da bomba que foi cair em cima de mim, ou coisas bem improváveis ou azaradas do gênero...
Mas confesso que tô começando a acreditar nessas coisas astrológicas...
E pela primeira vez, não vendo a hora de chegar logo o dia 15 de novembro...

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Do amarelo

"De repente eu me vi e vi o mundo. E entendi: o mundo é sempre dos outros. Nunca meu. Sou o pária dos ricos. Os pobres de alma nada armazenam. A ver­tigem que se tem quando num súbito relâmpago-trovoada se vê o clarão do não entender. Eu não en­tendo! Por medo da loucura, renunciei à verdade. Minhas idéias são inventadas. Eu não me responsabi­lizo por elas. O mais engraçado é que nunca aprendi a viver. Eu não sei nada. Só sei ir vivendo. Como o meu cachorro. Eu tenho medo do ótimo e do superlativo. Quando começa a ficar muito bom eu ou descon­fio ou dou um passo para trás. Se eu desse um passo para a frente eu seria enfocada pelo amarelado de es­plendor que quase cega."

[Clarice Lispector - Um Sopro de Vida]

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Do dia

Ela é pequenina. Consegue ser ainda mais baixinha que eu. Mas é gorduchinha, daquelas fofas que dá vontade de abraçar. Batalhadora, ficou viúva muito nova, aos 20, com uma adolescente e um garoto de 2 anos pra criar mas nunca desanimou e criou os dois filhos com o suor do seu trabalho, em uma época em que raras mulheres trabalhavam. E as que o faziam eram taxadas de mulheres da vida. Possui ainda hoje uma das melhores memórias que conheci, especialmente no quesito números, com cerca de 100 números de telefones decorados. (Sério.)Extremamente prendada, pinta, borda, desenha e costura com exímia perfeição. Nasceu no mesmo ano que meu time do coração, o Cruzeiro, e apesar dos seus atuais 87 anos, é super moderna: tem celular, acessa a internet e lê emails. A casa dela é uma extensão da minha, onde tenho roupas, pijamas, armário e cama, além é claro de escova de dentes. É fã de Fanta, coxinha e pão de queijo, mas atualmente resolveu virar vegetariana, deixando de comer tudo que tenha animais. Foi ela quem me deu meu primeiro banho em uma bacia e jarra que enfeitam a casa dela até hoje. Tem um coração gigante, e nele cabem vários e várias queridas. O meu lugarzinho é especial, tenho certeza. Assim como o dela no meu coração.

Ela é a Dona Hylka, a minha Vota querida, que tá fazendo parabéns hoje e veio com um papo muito ruim de que vai ser o último... Vida longa e muita saúde à essa pessoinha que é das que mais amo no mundo!

Do lord ou dos buddy pokes

"Alô!
Sabe esses dias
Em que horas dizem nada
E você nem troca o pijama
Preferia estar na cama
Um dia, a monotonia
Tomou conta de mim
É o tédio
Cortando os meus programas
Esperando o meu fim...

Sentado no meu quarto
O tempo vôa
Lá fora a vida passa
E eu aqui à tôa
Eu já tentei de tudo
Mas não tenho remédio
Prá livrar-me desse tédio..."

[Tédio - biquini cavadão]

Ai ai...

domingo, 2 de novembro de 2008

Da aurora

"Se não há coragem, que não se entre. Que se espere o resto da escuridão diante do silêncio, só os pés molhados pela espuma de algo que se espraia de dentro de nós. Que se espere. Um insolúvel pelo outro. Um ao lado do outro, duas coisas que não vêem na escuridão. Que se espere. Não o fim do silêncio, mas o auxílio bendito de um terceiro elemento: a luz da aurora."

[Clarice Lispector - Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres]

Do paco pigalle ou do meu primeiro forró à três

"A música na sombra,
o ritmo no ar
Um animal que ronda
no véu do luar
Eu saio dos seus olhos
eu rolo pelo chão
Feito um amor que queima
magia negra
Sedução

Como uma deusa
você me mantém
E as coisas que você me diz
Me levam além

Aqui nesse lugar
Não há rainha ou rei
Há uma mulher e um homem
Trocando sonhos fora da lei

Como uma deusa
você me mantém
E as coisas que você me diz
Me levam além
Tão perto das lendas,
tão longe do fim
A fim de dividir
no fundo do prazer
o amor e o poder

A música na sombra
o ritmo no ar
um animal que ronda
no véu do luar

Tão perto das lendas,
tão longe do fim
A fim de dividir
no fundo do prazer
o amor e o poder

Como uma deusa
você me mantém
E as coisas que você me diz
Me levam além
Tão perto das lendas,
tão longe do fim
A fim de dividir
no fundo do prazer
o amor e o poder"

[Rosana - O amor e o poder]

Hahahaha... melhor dos últimos tempos!

E o lema é: quem não me quer, não me merece!
E que viva assim, bem longe de mim.
Yeah!

E quem quer, ou finge que, que queira direito.
Tenho dito.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Pelo telefonema no meio da noite

"Aprendi a me virar sozinha; se eu tô te dando linha, é pra comer você..."

[Ana Carolina - Garganta - CD Ao Vivo]

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Do selvagem coração da vida

"Ela estava só. Estava abandonada, feliz, perto do selvagem coração da vida."


James Joyce, epígrafe do livro de Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eu quero o delírio

Eu quero o delírio.

Eu sou assim.

Não pretendo a integração, mas a abertura e a busca. Encontrar pode ser impossível ou desinteressante. Quero o pressentimento: comprimir a tecla do computador e explodir o ponto e arquear o contorno, varando os limites que a vida há de preencher e o sonho tornará possível.

Quero o delírio que faça as utopias virem sentar-se na minha varanda e escrever no meu computador quando a razão estiver cansada, quando a técnica parecer frívola, ou quando eu estiver descrente.

Posso lhes dizer que somos muitos: em cada um de nós outros esperam apenas o momento de saltar fora, tirar a máscara e revelar o que talvez nos amedronte. E diremos:

- Mas isso, isso aí, também sou eu?

Preciso admitir que a ambivalência nos salva de morrermos na poeira da mesmice. Também admito que seria mais fácil ser sempre o mesmo,seria mais doce levantar cada manhã sem conflito e morrer enfim sem ter jamais duvidado.

Mas não é tão simples. Desculpem, mas não somos isso.

Posso falar por mim ao menos, esta que escreve de um jeito e vive de outro, pensa de um modo mas faz diferente, tendo a marca da incoerência na testa e no coração a miragem de uma explicação para todos os desencontros.

Escuto o meu interior, onde personagens e narrativas aguardam que eu lhes confira a sua falsa realidade. Não falo de personagens e frases apenas, mas da consciência que procura motivo e sentido.

Estou bem acompanhada: comigo estão os meus irmãos, gente da minha raça, todos os que entendem que inventar ou constatar não faz a menor diferença. Somos os doidos, os palhaços, os atores de nossa própria vida: escrevemos com sangue - nas paredes, nas páginas e nas telas dos computadores: tudo só existe na medida em que o tiramos das nossas tripas e parimos do nosso sonho.

Mas também sou uma mulher do meu tempo, e dele quero dar testemunho do jeito que posso: na elaboração das minhas fantasias, mas igualmente escrevendo sobre dor e perplexidade, sobre doença e morte, a palavra na hora errada e o silêncio na hora em que teria sido melhor falar - mas a gente não sabia.

E escrevo sobre sermos responsáveis e inocentes em relação ao que acontece e ao legado que deixamos. A ambivalência que atormenta, por outro lado levanta a poeira da resignação - e faz aparecer o nosso rosto.

E nos salva.

[LUFT, Lya.
Pensar é Transgredir. São Paulo: Record, 2003.]


.

Outro texto dos meus guardados. Não meu, mas sinto como se fosse.

E não morri de calor. Ainda.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Meu mundo

Um texto meu de 2 anos atrás, baseado em Martha Medeiros, bem atual em alguns aspectos, bem obsoleto em outros, mas que resolvi publicá-lo por razões inconscientes.

Até porque tenho encontrado tantos outros autores que falam por mim.


Talvez eu vá morrer de calor essa noite e esteja tendo um pressentimento... é possível.
Detalhe para a data em que o texto foi escrito.


.



Meu mundo
[01 de abril de 2006]

Meu mundo se resume à palavras, pessoas, paixões, perguntas e respostas.


Palavras que me furam, seja por nunca terem sido pronunciadas ou por serem esperadas e não ouvidas, por terem sido lidas e provocarem uma revolução de sentimentos, por serem escritas e assim libertas.


Pessoas que me comovem, todas, cotidianamente. Basta enxergar o melhor lado que cada uma tem a oferecer. Também acredito nas pessoas.


Paixões que me perturbam, presentes, passadas, futuras. Pela humanidade ou por um ser humano, pela grandiosidade e ao mesmo tempo ciclicidade do mundo, pelo especial e pelo único.


Perguntas: sem respostas.

Respostas: não me servem as que tenho.


Meu mundo se resume ao encontro de brisa e temporal, água e fogo, dentro de mim.

À constante perseguição do que ainda não sei, onde não me enxergo, mas me sinto.

Bandeira

Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio, pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Eu não quero aquele
Eu não quero aquilo
Peixe na boca do crocodilo
Braço da Vênus de Milo acenando tchau

Não quero medir a altura do tombo
Nem passar agosto esperando setembro, se bem me lembro
O melhor futuro este hoje escuro
O maior desejo da boca é o beijo
Eu não quero ter o tejo escorrendo das mãos
Quero a Guanabara, quero o Rio Nilo
Quero tudo ter, estrela, flor, estilo
Tua língua em meu mamilo água e sal

Nada tenho, vez em quando tudo
Tudo quero, mais ou menos quanto
Vida vida, noves fora, zero
Quero viver, quero ouvir, quero ver
(Se é assim quero sim, acho que vim pra te ver)

[Zeca Baleiro]

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Da vida III

"Devemos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos para termos a vida que espera por nós."

[Joseph Campbell]

domingo, 26 de outubro de 2008

Do inferno astral

O que a maioria das pessoas chama de inferno astral, na verdade, refere-se ao mês imediatamente anterior ao aniversário, quando estamos concluindo mais um ciclo de vida, e como é um fim, nossa energia está esgotada.

Quando o Sol retorna ao mesmo lugar que ocupava por ocasião do nascimento, completando sua revolução anual - no dia do aniversário - o ciclo termina, e um novo ciclo é iniciado; astrologicamente, esse momento é conhecido como Revolução Solar, hora de fazer ajustes e corrigir o rumo para poder prosseguir.

O período anterior ao aniversário, é da mesma natureza da décima segunda e última casa zodiacal, a mais misteriosa e difícil de todas, sendo associada às dificuldades e ao Karma. Antigamente se dizia que era a casa dos inimigos ocultos, sofrimento, medo, isolamento e prisão. Atualmente é considerada a casa do inconsciente, pessoal e coletivo, depósito de nossos piores medos e traumas, mas também, de muitos talentos e potencialidades adormecidas. Na verdade, nosso pior inimigo, o mais difícil de vencer, somos nós mesmos. A casa 12 significa o resultado de nossas batalhas pessoais e de nossas ações no final da jornada, a colheita do que semeamos ao longo de um ciclo, seja de um ano, ou de uma vida, o fruto de nossos esforços, para ser saboreado, e a semente, para que possa haver um novo ciclo, ou melhor, um renascimento.

Carl G. Jung afirmou que, quando não estamos em contato consciente com o que nos acontece, tudo acaba nos parecendo obra do Destino, não reconhecemos nosso papel na sua manifestação, não nos sentimos responsáveis por nada; mas, se estivermos conscientemente em contato com nossa vida interior, teremos meios de compreender as fases de crescimento pessoal, enfrentá-las e usá-las como grandes oportunidades de desenvolvimento e transformação pessoal.

Quanto se cresceu interiormente? Quais as metas a atingir no novo ano pessoal que vai se iniciar? Pergunte-se o que realizou, nesse sentido, durante o período que se encerra, e tome algumas resoluções para o período que se inicia, para que o Sol, ao completar mais uma volta, o encontre renovado, pronto para iniciar o novo ciclo cheio de disposição e vontade de aprender e evoluir, mais e mais, a cada dia.

O certo é todos viverem o mês que antecede o aniversário como sendo um período de recolhimento, meditação e interiorização. Outra dica é não iniciar nada novo nessa época. Portanto mudanças, projetos e decisões só pra quando ficar mais velha.

[Marcela Brunn]

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Ausência

"Porque tinha suas ausências. O rosto se perdia numa tristeza impessoal e sem rugas. Uma tristeza mais antiga que o seu espírito. Os olhos paravam vazios; diria mesmo um pouco ásperos. A pessoa que estivesse a seu lado sofria e nada podia fazer. Só esperar."

[Clarice Lispector, Felicidade Clandestina]

Do amor

Não amamos o que queremos, mas o que desejamos, mas o que amamos e que não escolhemos. Como poderíamos escolher nossos desejos ou nossos amores, se só podemos escolher em função deles? O amor não se comanda e não poderia, em consequência, ser um dever. Devemos dizer também que virtude e dever são duas coisas diferentes (o dever é uma coerção, a virtude, uma liberdade). O dever é uma coerção, o dever é uma tristeza, ao passo que o amor é uma espontaneidade alegre. “O que fazemos por coerção”, escreve Kant, “não fazemos por amor”.

[André Comte-Sponville, Pequeno tratado das grandes virtudes]


Daqui: http://www.armazem.literario.nom.br/autoresarmazemliterario/eles/martinhocarloshost/complementares/45_complementar45.htm

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sísifo II

"Não existem esforços inúteis, Sísifo ganhava músculos."

[R. Callois, Circonstancielles]


Sim.

Tudo é uma questão de ponto de vista.

Qual o seu?

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sísifo

“...Por toda a eternidade Sísifo foi condenado a rolar uma grande pedra de mármore com suas mãos até o cume de uma montanha, sendo que toda vez que ele estava quase alcançando o topo, a pedra rolava novamente montanha abaixo até o ponto de partida por meio de uma força irresistível. Por esse motivo, a tarefa que envolve esforços inúteis passou a ser chamada “Trabalho de Sísifo”.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Da vida II

"A questão da vida que vale a pena viver não é, como costumamos supor, uma questão tão grande e abstrata que só pode ser levantada de maneira apropriada em uma aula de filosofia ou em uma sessão de psicoterapia. Não é uma questão avassaladora de considerar de uma só vez minha vida inteira; é, mais que isso, uma questão de entabular a pergunta muito mais simples e urgente de o que vou fazer agora, nos próximos trinta, sessenta ou noventa minutos de minha vida, pelo resto do dia, então amanhã e no dia seguinte. Qual é, agora, a ação que faria de minha vida uma vida com a qual eu pudesse ficar racionalmente satisfeito? Como devo levar essa vida não é uma questão que pode ser novamente adiada - pois a vida tem a característica insistente de não poder se adiada."

[Mark Kingwell, Aprendendo Felicidade]

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Do aprendizado: posição atual

Muitas vezes, é através do sofrimento que aprendemos, mas é muito melhor aprender sem sofrer, ou aprender com o sofrimento dos outros (sem fazer os outros sofrerem, claro). Contudo, algumas pessoas acham que, como muitas vezes o sofrimento leva ao conhecimento, ele é essencial para todo tipo de conhecimento, ou que quem sofre necessariamente aprende mais do que quem não sofre. Em geral, isso pode ser verdade - o que não quer dizer, em hipótese alguma, que seja sempre verdade. Muita gente sofre e não aprende nunca. Outros aprendem mais rápido e evitam o sofrimento.

Contudo, como o sofrimento tem um custo muito alto para nós, talvez sintamos a necessidade de estabelecer algum tipo de compensação para ele. Não gostamos de pensar que o sofrimento que passamos foi desnecessário ou que poderíamos tê-lo evitado, pois isso significaria admitir que a vida foi pior do que poderia ter sido e que não nos beneficiamos de forma alguma com isso. Achamos que as pessoas que sofreram menos perderam alguma coisa. Seria muito ruim simplesmente aceitar que essas pessoas foram mais felizes do que nós em suas escolhas.

Julian Baggini, Para que serve tudo isso?, Zahar, pg. 170.

domingo, 19 de outubro de 2008

Waking Life

Há seis bilhões de pessoas no mundo, é verdade.


No entanto, suas ações fazem diferença.


Fazem diferença em termos materiais e fazem diferença para outras pessoas.


Servem de exemplo.


A mensagem é: não devemos jamais nos eximir…


e nos vermos como vítimas de várias forças.


Quem nós somos é sempre uma decisão nossa.


A criação vem da imperfeição


Parece ter vindo de um anseio e de uma frustração.


É daí, eu acho, que veio a linguagem.


Quero dizer, veio do nosso desejo de transcender o nosso isolamento…


e de estabelecer ligações uns com os outros.


Devia ser fácil quando era só uma questão de mera sobrevivência.


“Água” .


Criamos um som para isso.


“Tigre atrás de você!”


Criamos um som para isso.


Mas fica realmente interessante, eu acho…


quando usamos esse mesmo sistema de símbolos…


para comunicar tudo de abstrato e intangível que vivenciamos.


O que é “frustração”?


Ou o que é “raiva” ou “amor”?


Quando eu digo “amor” …


o som sai da minha boca e atinge o ouvido de outra pessoa…


viaja através de um canal labiríntico em seu cérebro…


através das memórias de amor ou de falta de amor.


O outro diz que compreende, mas como sei disso?


As palavras são inertes.


São apenas símbolos.


Estão mortas.


Sabe?


E tanto da nossa experiência é intangível.


Tanto do que percebemos é inexprimível.


É indizível.


E, ainda assim, quando nos comunicamos uns com os outros…


e sentimos ter feito uma ligação, e termos sido compreendidos…


acho que temos uma sensação quase como uma comunhão espiritual.


Essa sensação pode ser transitória,


mas é para isso que vivemos...

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

é...

Cansei.

Eu, gauche

eu, as errâncias e as erradezas...

Não Lucíola, não voltei atrás na minha decisão...
A história aqui é ouuuuutra... Lembra que há alguns vários meses te contei do irmão da minha amiga, super interessante, e gente boa e tals, só que tinha namorada? Pois bem, eu e as meninas saímos ontem, e ele foi, avulso e soltinho, o que nao significa nada. Conversa vai conversa vem, brincadeiras à parte (fomos ao soho, um bar aqui em bh que tem joguinhos...vc ía gostar.), eu me interessei, novamente, pelo moço. E fiquei naquela de tentar descobrir o estado civil do rapaz. Ele hora nenhuma citou a namorada, ou falou algo do tipo. Possível malandragem? vai saber... e a namorada de 5 anos, que praticamente morava com ele? evaporou? enfim, não rolou nada além de um divertido papo. Mas que ele me atraiu como poucos recentemente, isso sim...
e daí percebi estar procurando mais uma vez, inconscientemente, as coisas erradas...
pq eu sou atraída só pelas barcas furadas, hein?

e ao concluir isso tudo, tive que vir aqui pra te contar.
mas o que consegui exprimir foi apenas a primeira frase acima.
o resto é fruto de uma atualização posterior, pra que você compreendesse o que tentei dizer.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Da palavra

"A palavra é de uma leve substância química que opera as mais violentas alterações."

[Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso]

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Da perda II

"Cada vez preciso menos me exprimir. Também isto perdi?"

[Clarice Lispector, A paixão segundo G. H.]

Do ponto de vista

Hoje nasceu a Giovanna, filha do meu primo quase irmão, logo, minha quase sobrinha!!!
Assim, pela segunda vez, sou quase tia!!!! ÊÊÊÊÊ!!!! Ela tem 51cm e quase 4 kg! E é uma linda!
Foi muito diferente estar dentro de uma maternidade não como interna de obstetrícia, mas sob outro ponto de vista: o dos parentes de pacientes. Tudo bem que eu estava com um crachá verde escrito MÉDICO CONVIDADO, o que me dava permissões pra estar além de onde os outros parentes estavam, mas quem estava ali pelada tomando peridural não era uma paciente qualquer que eu sabia apenas o nome, era a Tati! Que eu convivo há quase 10 anos, que é quase mais prima que o marido dela, e que eu acompanhei durante as 38 semanas de gestação (A Giovanna é GIG, daí a antecipação do parto) .
E depois, o resto da família toda querendo saber o que tava acontecendo, o que era aquilo que estavam enfiando no nariz da neném, que injeção era aquela, que colírio era aquele, "pra que tudo isso? tem algo errado?" Sendo que pra mim era óbvio sinal de que tudo estava certo. Nada além do que a rotina de quando esses pequetitos vêm ao mundo... E que ela não estava vermelha, e sim pletórica... e que aquilo preto não é um cocô parecido com graxa, e sim o mecônio; que a injeção não era vacina, e sim vitamina K....
Isso me deixou uma sensação estranha de que eu nunca vou estar do outro lado novamente. Nunca vou ser uma mera visitante, parente da paciente.
O fato de ser médica me tira a ignorância essencial e necessária à essa posição. A medicina me dá respostas que eu não teria, nesse caso posição super benéfica. Mas e se desse tudo errado? E quando as coisas realmente estiverem complicando e eu souber disso antes dos outros? Sabia ignorância? Mas graças à Deus correu tudo bem. (E ainda estou no lucro de saber o que os outros não sabem. rsssss...)

Bem vinda à vida, Giovanna!
Que você consiga cumprir sua missão nesse caótico mundo.

domingo, 12 de outubro de 2008

Cabide

Música do dia:

"E se eu fingir e sair por ai na noitada
Me acabando de rir
E se eu disser que não digo, e não ligo, e que fico
E que só vou aprontar
É que eu sambo direitinho, assim bem miudinho,
Cê não sabe acompanhar
Vou arrancar sua saia e pôr no meu cabide só pra pendurar
Quero ver se você tem atitude
E se vai encarar

E se eu sumir dos lugares, dos bares, esquinas
E ninguém me encontrar
E se me virem sambando até de madrugada
E você for até lá
É que eu mando direitinho assim bem miudinho,
Sei que você vai gostar
Vou arrancar sua blusa e pôr no meu cabide só pra pendurar
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar

Chega de fazer fumaça, de contar vantagem
Quero ver chegar junto pra me juntar
Me fazer sentir mais viva
Me apertar o corpo e a alma
Me fazendo suar
Quero beijos sem tréguas
Quero sete mil léguas sem descansar
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar.
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar.
Quero ver se você tem atitude e se vai me encarar."

[Ana Carolina, Cabide]

Um dia encontro

"Nem é você que eu espero, já te falei. [...] Ele é de um jeito que ainda não sei, porque nem vi. Vai olhar direto para mim. Ele vai sentar na minha mesa, me olhar no olho, pegar na minha mão, encostar seu joelho quente na minha coxa fria e dizer: vem comigo. É por ele que eu venho aqui, boy, quase toda noite. Não por você, por outros como você.
Pra ele, me guardo. Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado comigo: um dia encontro."


[Caio Fernando Abreu, Dama da Noite]

Da solidão

“Se não houvesse a palavra, a solidão humana seria intolerável.”

[Dostoiévski, Os Irmãos Karamázovi]

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Talvez

Talvez aquele tenha sido um meio de me vingar de todas as decepções.

Talvez a frase tenha sida proferida com a mesma intenção. Possivelmente até com o próposito de colocar culpas... aonde elas já existiam. Ou apenas uma demonstração de seu modo infantil de pensar.

Talvez tenha sido a melhor coisa que aconteceu.
Uma forma de finalmente se colocar um ponto final em algo que jamais teria fim.
Talvez.

Do descanso

"Não sei se quero descansar por estar realmente cansada ou se quero descansar para desistir”

[Clarice Lispector]

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

do indizivel

o que não podemos discutir, devemos ignorar em silêncio.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Da esperança

"A esperança. só a esperança, nada mais. chega-se a um ponto em que não há mais nada senão ela. é então que descobrimos que ainda temos tudo."

[José Saramago]

Do escondido

"...Mas o meu principal está sempre escondido. Sou implícita. E quando vou me explicar perco a úmida intimidade."

[Clarice Lispector, Água Viva]

Da rosa


"Sei da história de uma rosa. Parece-te estranho falar em rosa quando estou me ocupando com bichos? Mas ela agiu de um modo tal que lembra os mistérios animais. De dois em dois dias eu comprava uma rosa e colocava-a na água dentro da jarra feita especialmente para abrigar o longo talo de uma só flor. De dois em dois dias a rosa murchava e eu a trocava por outra. Até que houve determinada rosa. Cor-de-rosa sem corante ou enxerto porém do mais vivo rosa pela natureza mesmo. Sua beleza alargava o coração em amplidões.
Parecia tão orgulhosa da turgidez de sua corola toda aberta e das próprias pétalas que era com uma altivez que se mantinha quase erecta. Porque não ficava totalmente erecta: com graciosidade inclinava-se sobre o talo que era fino e quebradiço. Uma relação íntima estabeleceu-se intensamente entre mim e a flor: eu a admirava e ela parecia sentir-se admirada.. e tão gloriosa ficou na sua assombração e com tanto amor era observada que se passavam os dias e ela não murchava: continuava de corola toda aberta e túmida, fresca como flor nascida. Durou em beleza e vida uma semana inteira. Só então começou a dar mostras de algum cansaço. Depois morreu. Foi com relutância que a troquei por outra. E nunca a esqueci. O estranho é que a empregada perguntou-me um dia à queima-roupa: "e aquela rosa?" Nem perguntei qual. sabia. Esta rosa que viveu por amor longamente dado era lembrada porque a mulher vira o modo como eu olhava a flor e transmitia-lhe em ondas a minha energia. Intuíra cegamente que algo se passara entre mim e a rosa. Esta tinha tanto instinto de natureza que eu e ela tínhamos podido nos viver uma a outra profundamente como só acontece entre bicho e homem."

[Clarice Lispetor, Água Viva]

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Da verdade do amor

Eu que sempre busquei a verdade das coisas, pessoas, e situações me deparei hoje com uma frase que me fez mudar um pouquinho. É mais ou menos assim:

Mais do que o amor à verdade, devemos buscar a verdade do amor.

leiam:
http://www.armazem.literario.nom.br/autoresarmazemliterario/eles/martinhocarloshost/complementares/45_complementar45.htm

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Do compartilhar II

- A gente vai morrer?

- Em algum momento. Não agora.

- E ainda estamos indo para o sul.

- Sim.Para ficarmos aquecidos.

- Sim.Tudo bem.

- Tudo bem o quê?

- Nada. Só tudo bem.

- Vá dormir. Tudo bem.

- Vou apagar a lamparina. Está bem?

- Sim. Está bem.

E então mais tarde na escuridão:

- Posso te perguntar uma coisa?

- Pode. É claro que pode.

- O que você faria se eu morresse?

- Se você morresse eu ia querer morrer também.

- Para poder ficar comigo?

- É. Para poder ficar com você.

- Tudo bem.


[Cormac McCarthy, A Estrada, Alfaguara, p.13]

domingo, 5 de outubro de 2008

ainda sobre a escolha

Toda escolha implica numa perda.

Cabe a nós pesarmos o que buscamos, o que fazemos questão de ganhar e o que podemos nos permitir perder.

Temos escolha

"Eis uma frase, uma verdade, um verso: da pra escolher. Todo dia, ao levantar da cama, eu procuro me lembrar: dá pra escolher. Nem eu nem você estamos jogados ao léu, nas mãos do destino. Não temos controle sobre tudo, mas dá pra escolher entre ter amigos e viver recluso, dá pra escolher entre privilegiar um amor ou ter vários casos superficiais, dá pra escolher entre participar ativamente de um projeto que alavanque nosso bem estar ou ficar de fora apenas criticando, dá pra escolher entre se refugiar num lugar tranquilo ou aprender a lidar com o estresse urbano, dá pra escolher entre levar a vida com bom humor ou levar a vida na ponta da faca.
Tudo é uma escolha, inclusive ser velho ou ser jovem, e isso nao se resolve apenas numa clínica de estética. Todas as nossas escolhas passam pelo estado de espírito. E é ele que vai determinar se vvamos viver uma vida mais simples ou mais complicada, mais solitária ou mais social, mais produtiva ou mais lerda.
(...) Se a escolha será acertada, aí já é outro assunto, o futuro vai dizer. Pensando bem, acertos e erros nem estão em pauta aqui. O que importa é ter consciência de que ficar sentado esperando que a vida escolha por nós não é uma opção confortável como parece. Descansados da silva, vem o tempo e crau: nos ultrapassa"

Martha Medeiros

sábado, 4 de outubro de 2008

Da distância

"Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros."

Poesia Completa de Mário Quintana, pg. 237 (Nova Aguilar)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Do pilates

Finalmente eu descobri a atividade física que no momento eu penso que poderia fazer pro resto da vida: o Pilates. Pra começar, a avaliação fisioterápica foi a mais completa de todas pelas quais eu já passei. A fisioterapeuta analizou desde a posição da minha cabeça até a ponta do pé, literalmente. E descobri que eu tô muito pior que eu imaginava. Posturalmente, eu digo. Descobri que eu piso horrorosamente pra fora não por ter me habituado a andar assim, mas porque senão não consigo mínima estabilidade pra ficar em pé e andar. Isso pq além de ter um pé super cavo (pelo menos isso já sabia), tenho instabilidade ligamentar nos dois tornozelos, incluindo uma possível rotura de ligamentos à esquerda, olha isso... Um tal teste da gaveta positivo bilateral. Bom, ainda estamos no pé. Além disso, minha tíbia é levemente vara, tenho fraqueza na musculatura glútea, desnivelamento de quadril, possivelmente devido à um encurtamento de membro inferior direito, escoliose torácica, fraqueza de serrátil, escápula alada, protusão de ombros, elevação de trapézio à esquerda, protusão de cabeça... além da fraqueza geral especialmente em braços, resultado do sedentarismo. Praticamente uma mostrinha ambulante. E o resultado disso tudo aí só podia ser um: dor. Que eu sinto diariamente, as vezes acordando e indo dormir com ela, as vezes em intensidade suportável sem medicação, as vezes não. E com tantos defeitinhos, é de se esperar que não seja recente. Desde uns 10 anos de idade eu lembro de sentir dor nas costas. Que foi gradativamente piorando com a idade, como tudo na vida. E como não sou masoquista, obviamente já procurei mil e uma maneiras de me ver livre dessas dolores, começando por atividades físicas.
Já fiz ginástica olímpica, judô, dança, natação, hidroginastica, musculação, step e corrida. Que me lembre só essas... E não me adaptei à algumas, outras parei por falta de tempo e nunca mais voltei... A ginástica não passei da segunda aula. Como uma pessoa pé no chão como eu iría conseguir fazer tantas voltas, piruetas e malabarismos? Na verdade, nunca tive força nos braços suficiente para carregar meu próprio peso de cabeça pra baixo. A culpa é da estrela, que eu nunca consegui fazer, nem dentro dágua! Falar em água, tanto a natação quanto à hidroginástica são esportes os quais eu gosto bastante, mas o amor à maciez dos meus cabelos me fez deixar as piscinas. Além disso, o tal nado borboleta me deixava com muuuito mais dores... Musculação sempre achei um saco e uma chatísse, mas deu uma melhoradinha na minha fraqueza geral. Mas tudo que é chato, cansa.
Além das físicas, passei também pelas atividades "alternativas".Cheguei a fazer acupuntura e por incrível que pareça, na época eu me senti melhor. Atribuí a melhora à efeito placebo, mas hoje é comprovado que aqueles choquinhos que eu sentia realmente estavam dessensibilizando a região. Fiz também Reiki, que foi a melhor coisa de todas pra quem precisa relaxar... até dormi... e olha que quem aplicou nem encostou em mim, só na base da energia! E mesmo não acreditando em nada disso na época, comprovei que deu certo...
Agora vamos à parte 2 da avaliação física: condicionamento. Não preciso nem dizer que é péssimo, né? Mas vejam, dos meus míseros 45 kilos que numericamente parecem ser um pouquinho só, né? A avaliadora até falou que eu devo ser a única da academia com peso na casa dos 40... Dá pra imaginar uma pessoa super sarada com tipo uns dez kilos à mais... apesar disso, quase um terço desse peso é gordura, repito, um terço, distribuída por peitos, bundas e banhas localizadas e espalhadas... Claro que essas avaliações são meio utópicas. Imagina eu com 37 kilos, por exemplo, que seria o ideal do percentual de gordura deles... uma marasmática da Biafra, praticamente. Mas, acabou que entrei no programa de condicionamento físico tb, com mil programas pra queimar as gorduras nas esteiras. As aulas são uma delícia, nem se percebe que é ginástica. Juro que já vi diferença na minha postura... e já que é pra ficar gostosa, vamo ficar gostosa direito! Enfim, tô bem empolgada. Daqui a um tempinho eu volto a comentar sobre resultados e se realmente o pilates conseguiu me prender ou não.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Do hacker (verborréia)

Hoje passei a tarde na casa da minha vó. Isso porque a Oi ligou avisando que o computador dela estava enviando spam e lixo eletrônico em geral pro Brasil todo e ela tem apenas algumas noções de internet básica. (Sim, minha vó lê e envia emails, até com anexos! E aprendeu tudo em uma aula de um dia comigo! Ela não é demais?!?)
Chequei lá tava o meu tio (que entende menos que a minha vó de computador) e o moço que estava prestando assistência técnica fuçando. Segundo o moço, o cara que hackeou (ele não soube dizer se foi alguém, mas só pode ter sido...) fez alguma coisa lá que o firewall não funcionava e nem podia ser ligado, além de apagar o antivírus. Logo, todas as pragas e pestes internéticas do universo estavam habitando o coitado. Foi preciso formatar tudo...
Ah, se eu soubesse que ía rolar isso tudo tinha levado o meu tb pra dar uma limpa geral e tirar essa minha agora certeza de que sou hackeada...
Não pensem que sou maluca, já cheguei a procurar um especialista por causa dessa nóia. Mas me disseram que isso não chega a ser nem transtorno de personalidade...
Sinal de que a perseguição é real, como pude notar, e não fruto de uma mente conturbada.

Agora, racionalmente, sei que não faz sentido. Tipo, quem não só teria interesse, mas seria atoa o suficiente, pra ficar ME vigiando? Tantas vidas mais legais e mais divertidas e mais cheias-de-coisas-erradas (ou certas...)acontecendo agora que a minha...
Aí começo a viajar. Talvez seja um psicopata planejando fazer algo que não presta comigo. Preciso deixar uma carta nas minhas coisas avisando; pra analisarem meu computador se eu aparecer morta, assim tão jovem e cheia de vida. Talvez uma paixão platônica que não tem as caras de se revelar. [não acredito nessa versão, elaborada pelo meu amigo das madrugadas, pq por pior que o cara se imagine, ele saberia o quanto sou/estou zerola e ía chegar em mim, tipo: "nó, a seca dela tá tão grande que ela vai até me querer..."] Sim, sempre penso no meu hacker como sendo um homem, pq uma mulher não iria fazer uma coisa dessas, se não tivesse algum objetivo muito específico. Acho que nem assim. [Se bem que estou falando por mim, e nem por todas as outras do universo. E olha que pra bater minha curiosidade... tá difícil.] E se for um grupo de homens? Com o único e exclusivo objetivo de analisar o comportamento feminino típico e pegaram como exemplo justo eu, o mais atípico dos seres do gênero.
Tá, nem tanto, né?

O que eu tô querendo dizer com esse tanto de palavra aí em cima é que, querido hacker, mostre sua cara. Sei que vc me acompanha. E preciso saber seus objetivos, antes de resolver tomar alguma atitude drástica. (ui!)

Pensamentos do dia

Tem gente que gosta é de reclamar, viu?
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Pq as vezes, repito, as vezes, é preferível um dia muito atarefado, do que ficar a tôa. [sempre tive dificuldades com o ócio, esse ano tô lidando melhor com ele. só espero não me tornar uma viciada.]
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Não quero nem ver essa tal mudança gramatical querendo abolir todos os assentos... [sim, com ss]

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Ainda bem que não investi meu dinheiritcho em bolsa nenhuma, como vários sugeriram... rá! ser medrosa pode ser ótimo em alguns momentos!

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Informação e conhecimento.
Basicamente é pra isso que recebo.
Ou que pagamos rotineiramente.

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Algumas coisas fazem falta.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Do fim do amor II

Ótimo texto sobre tema abordado previamente, do fim do amor.
[especialmente pra Lucíola e pros meus amigos da faculdade, que nem sonham com a "homenagem"]

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O amor não acaba, nós é que mudamos
Martha Medeiros


Um homem e uma mulher vivem uma intensa relação de amor, e depois de alguns anos se separam, cada um vai em busca do próprio caminho, saem do raio de visão um do outro. Que fim levou aquele sentimento? O amor realmente acaba?

O que acaba são algumas de nossas expectativas e desejos, que são subtituídos por outros no decorrer da vida. As pessoas não mudam na sua essência, mas mudam muito de sonhos, mudam de pontos de vista e de necessidades, principalmente de necessidades.

O amor costuma ser amoldado à nossa carência de envolvimento afetivo, porém essa carência não é estática, ela se modifica à medida que vamos tendo novas experiências, à medida que vamos aprendendo com as dores, com os remorsos e com nossos erros todos.

O amor se mantém o mesmo apenas para aqueles que se mantém os mesmos. Se nada muda dentro de você, o amor que você sente, ou que você sofre, também não muda.

Amores eternos só existem para dois grupos de pessoas. O primeiro é formado por aqueles que se recusam a experimentar a vida, para aqueles que não querem investigar mais nada sobre si mesmo, estão contentes com o que estabeleceram como verdade numa determinada época e seguem com esta verdade até os 120 anos. O outro grupo é o dos sortudos: aqueles que amam alguém, e mesmo tendo evoluído com o tempo, descobrem que o parceiro também evoluiu, e essa evolução se deu com a mesma intensidade e seguiu na mesma direção. Sendo assim, conseguem renovar o amor, pois a renovação particular de cada um foi tão parecida que não gerou conflito.

O amor não acaba. O amor apenas sai do centro das nossas atenções. O tempo desenvolve nossas defesas, nos oferece outras possibilidades e a gente avança porque é da natureza humana avançar. Não é o sentimento que se esgota, somos nós que ficamos esgotados de sofrer, ou esgotados de esperar, ou esgotados da mesmice. Paixão termina, amor não. Amor é aquilo que a gente deixa ocupar todos os nossos espaços, enquanto for bem-vindo, e que transferimos para o quartinho dos fundos quando não funciona mais, mas que nunca expulsamos definitivamente de casa.

domingo, 28 de setembro de 2008

Soneto da desesperança

De não poder viver na esperança
Transformou-a em estátua e deu-lhe um nicho
Secreto, onde ao sabor do seu capricho
Fugisse a vê-la como uma criança.

Tão cauteloso fez-se em seus cuidados
De não mostrá-la ao mundo, que a queria
Que por zelo demais, ficaram um dia
Irremediavelmente separados.

Mas eram tais os seus ciúmes dela
Tão grande a dor de não poder vivê-la,
Que em grande desespero, resolveu-se: Mato-a.

E foi assim que triste como um bicho
Uma noite subiu até o nicho
E abriu o coração diante da estátua.

[Vinicius de Moraes]

sábado, 27 de setembro de 2008

Do balde II

E o balde continua de pé, graças ao papo da madrugada com meu amigo distante, ao qual agradeço pela segunda vez.

Nada como ter certeza das coisas...
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Da paranóia II

Esse é um texto fidelíssimo à paranóia, vindo de um blog sem noção de legal: http://eugostodeumacoisaerrada.wordpress.com/2008/05/21/338/

Concordo com algumas coisas, discordo de outras, mas é uma visão interessante.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Do ontem (consequentemente, do amanhã)

É engraçado perceber o quanto ás vezes acabo confiando coisas tão íntimas pra pessoas distantes geograficamente, enquanto pessoas tão fisicamente próximas nunca chegaram perto de alguns tipos de intimidade... Funciona como uma espécie de catarse. Como se pudesse falar tudo o que penso, jogar tudo pra fora, pelo fato da pessoa não estar aqui ao meu lado. Não é a primeira vez que isso acontece. Provavelmente nem vai ser a última.
Mas em geral, acabo recebendo conselhos que costumam ser muito válidos e mexer muito com meu modo de pensar. Muitas vezes reafirmando o que eu sempre pensei e estava me esquecendo. Outras vezes trazendo novos substratos que consequentemente trazem novas maneiras de pensar.
Toda troca é válida. Todo diálogo gratificante. (acredito até mesmo numa troca de xingamentos!). Todo tipo de relacionamento enriquecidor. Seja ele real, virtual, sexual, ilusório...

E se meu companheiro/psicólogo de ontem estiver lendo isso, coisa que acho difícil, mas... de qualquer forma agradeço pela super produtiva conversa da madrugada...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Da prudência

"Algumas pessoas distinguem realmente o certo do errado e, o que é mais importante, em quaisquer circustâncias, desde que possam, vão agir de acordo com as distinções que elas próprias estabeleceram. Embora não sejam santos, nem heróis, e embora não escutem a voz de Deus, nem vejam a luz universal da natureza, elas sabem e mantêm a diferença entre o bem e o mal."

Hannah Arendt, Responsabilidade e Julgamento, Companhia das Letras, pg. 18.

Da razão

Cada um pensa ter suas razões.
Talvez todas sejam boas.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Não estou lá com muitas idéias do que postar... Houveram uns dias em que estava com a cabeça a mil, mas a falta de tempo e paciência para ligar esse pc que trabalha a passos de tartaruga manca e passar meus pensamentos para a tela me venceu...

To aqui as voltas com um trabalhinho sobre relação médico-paciente e , não só agora, mas talvez agora mais conscientemente, me dei conta do quão complicado é isso e do que realmente pode ser chamado de relação médico paciente...

existe alguma relação possível com um paciente que não responde a estímulos externos que não aqueles dolorosos? será que eles entem o que acontece? Será que aquelas mínimas reações que pensamos ser involuntarias têm algum propósito?

papo chato? ... talvez... Mas alguém tem uma luz?

Do entendimento II

"O que eu sinto eu não ajo.
O que ajo não penso.
O que penso não sinto.
Do que sei sou ignorante.
Do que sinto não ignoro.
Não me entendo e ajo como se me entendesse"

[Clarice Lispector, Descoberta do mundo. Rocco. pag.465]

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Tô numa fase super Clarice.
Sim, eu tenho fases de obsessão por cada um dos meus autores preferidos. Clarice, a mais master plus de preferida, está bombando em mim, no momento. Como se as palavras todas, fossem minhas, através dela.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Do balde

Chutar ou não chutar, eis a questão.