terça-feira, 31 de julho de 2012

Do poder de uma frase

"Nas metrópoles gigantescas como SP, BH, Rio, Salvador, Porto Alegre, Recife, Fortaleza e outros tantos formigueiros, haja encontros e desencontros. Alguns não tão graves, acontecem; outros, infinitamente dolorosos, nos perturbam os sentidos, fazem a gente maldizer os céus, os astros, o destino, a camada de ozônio.


Fica tudo na base do "a gente se vê"... E adeus! Não que fosse acontecer um casamento ou algo do gênero a partir daquele esbarrão gostoso - nada disso, mas foram momentos bonitos, fortes, que se acabam ali mesmo, na poeira da estrada, numa tarde fria, em um café da manhã, numa simples despedida.


"A gente se vê." 
Pronto, eis a senha para o terror, o "never more", o nunca mais do corvo do Edgar A. Poe no pé do ouvido.


Nada mais detestável de ouvir do que essa maldita frase.


Jovens mancebos, evitem essa sentença mais sem graça. 
Raparigas em flor, esqueçam, esqueçam...


Melhor dizer logo que vai comprar cigarro, o velho king size com filtro do abandono. 
Melhor dizer que vai pra nunca mais. 
Melhor o silêncio, o telefone na caixa postal, o telefone desligado, o desprezo propriamente dito, o desprezo on the rocks.


A gente se vê uma ova. 
Seja homem, seja mulher de verdade, troque de palavras, use o código do bom-tom e da decência. 
A gente se vê é a mãe, a vovozinha, ora, ora.


Esse "a gente se vê" deveria ser proibido por lei. 
Constar nos artigos constitucionais, ser crime inafiançável no Código Penal.
A gente se vê é pior do que "a gente se esbarra por ai".
Pior do que deixar ao acaso, que jamais abolirá a saudade, que vira uma questão de azar e sorte.


Melhor dizer logo de uma vez: "Foi bom, meu bem, mas não te quero mais". 
YO NO TE QUIERO MÁS, como na camiseta mexicana que ganhei da Rita Wainer, uma ex que me aturou lindamente. Dizer foi bom meu bem e pronto, ficamos por aqui, assim é a vida, sempre mais para curta do que longa-metragem.


A gente se vê é a bobeira-mor dos tempos do amor líquido e do sexo sem compromisso. 
A gente se vê, tô fora.


Seja homem, seja mulher, diga na lata.


Não engane a moça, que a moça é fino trato, que não merece desdém ou o quém quém do pato da Bossa Nova.


A fila anda, jogue limpo, sem essa de beque da roça para cima do futebol-arte da jovem.


A gente se vê. Corta para uma multidão no Morumbi, em busca do tetra da Libertadores.


A gente se vê. Corta para clássico no Maracanã.


A gente se vê. Corta para a São João com a Ipiranga.


A gente se vê. Corta para um engarrafamento gigante na marginal do Tietê.


A gente se vê. Corta para a Praça Castro Alves no encontro de trios elétricos.


A gente se vê. Corta para o carnaval do Galo da Madrugada.


A gente se vê. Então aproveita e vai ver se eu estou na esquina!"


[Xico Sá - Adaptado] 
Daqui: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=785535

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Do dito pelo não dito - o medo

  Hoje tive uma vontade enorme de colocar no papel as coisas que já me incomodaram por terem sido importantes ou que ainda me incomodam por estarem presentes de alguma maneira.
O que não foi escrito, resolvido está.
Aí comecei essa verborragia maluca, essa expressão desenfreada, e com isso a auto-análise (óbvia e necessária) e um medo grande: será que tô perto de morrer ou com um tumor cerebral bem ali no lobo frontal pra justificar tamanha mudança de comportamento? Ou será um trantorno de personalidade borderline que se transformou em uma psicose e tô precisando tipo de uma Risperidona ou uma Olanzapina?
Porque toda essa expressão justo agora? Tô realmente assustada.


  Cadê aquela menina que tinha vergonha de conversar com estranhos? Que não ía na esquina sem estar acompanhada pra não se sentir deslocada? A que nunca colocou um cigarro na boca mas que aprendeu como enrolar um? Aquela que (ainda) fica vermelha quando tem muita gente olhando pra ela? Realmente está perdendo o medo da exposição sem medidas? Porque pra mim expressar sentimentos em plena world wibe web, é o mesmo que dar a cara pro mundo pisar. Bom, ela está aqui, mas acho que tá mais valente. Forte eu não digo.


  Parece que passei a me conhecer mais nesses últimos tempos, a me aceitar mais como sou, sem máscaras, sem pose, sem tentar ser o que não sou, sem tentar esconder nada de ninguém.  E passei ainda a procurar ter ao meu redor quem me aceite e goste de mim assim, quem compartilha comigo dos mesmos ideais de vida e das mesmas crenças básicas em relação ao mundo. O que não significa que eu tenha me fechado pra convivência com os diferentes, muito pelo contrário, acho que é tão rica essa troca de experiências, e tão elucidante. E ao mesmo tempo o que nos faz mudar pra melhor e crescer é exatamente o conhecer de novos mundos e de novas pessoas e realidades. Acabamos nos abrindo pra horizontes inimaginados e "a mente que se abre a uma nova idéia jamais retorna ao seu tamanho original". (Eu realmente adoro citações, como pode ser facilmente percebido por qualquer um que entra neste blog e percebe que o mesmo é quase todo feito delas desde sempre.) 
  Pensando sempre tanto nessa questão da dificuldade de comunicação humana em que mesmo falando a mesma língua, as pessoas muitas vezes não conseguem se entender, resolvi querer me comunicar melhor. Tentar me expressar com mais clareza pra ter a sensação de estar sendo compreendida em maior profundidade. Confesso que ainda não tive grandes resultados mas pra mim o importante está sendo o caminho, a tentativa, que aparentemente pode ter sido um dos fatores que levou à toda uma mudança. Outros fatores que desencadeam mudanças podem ser a terapia (eterna), os fatos da vida, o fim do mundo em 20 de dezembro de 2012, a sensação de morte iminente, uma inconsequência nova e inapropriada ou sei lá, confesso que eu não sei mais o que. 
Eu descobri que tenho a alma feita de uma espécie de borracha que vai se moldando e mudando com o tempo e com as experiências, mas sem perder seu formato original já que a minha essência e os meus valores continuam os mesmos. 


Nossa, tô completamente viajandona nesse texto! Nú! Que medo.
(O que a borracha tem a ver com a verborragia, alguém me explica?)
Acho que a hipótese do tumor cerebral é muito plausível ou a do surto psicótico. Se bem que surto não é, porque o sentimento que tenho é justo o contrário, o de que se eu não escrever aí sim eu vou ficar muito doida.
É, definitavamente eu preciso de uma ressonância de crânio now.


.


Aproveito para agradecer a minha atual incrível audiência.
O meu blog era uma espécie de diário semi-secreto e como tal eu não divulgava o endereço pra quase ninguém. Desde que eu resolvi divulgar o endereço no fb, há algumas semanas, passou de uma média de uma visitação por dia (juro que me excluindo, ok? rs) pra cerca de 40 visitas diárias.
Muito mais gente interessada no que escrevo e/ou publico do que eu podia imaginar. Uau.
Ainda não sei se isso é bom ou ruim, mas pelo menos foi um número que me surpreendeu.
E enquanto não decidi se devo agradecer ou não, agradeço.  : )

Do dito pelo não dito - o hoje

Bom, já te escrevi sobre isso, mas não custa repetir já que você esquece rápido.
No dia em que te conheci eu senti uma coisa, um sentimento de sintonia, uma sensação de reconhecimento, ainda que estivéssemos cada um voltado para as suas histórias passadas e sua dor recente. Mas eu te reconheci. Talvez estivessemos vibrando na mesma sintonia exatamente pelas feridas. 
Você ainda tava na Crise, e eu ainda num Alô...
Mas já houve nesse momento pra mim uma luz na escuridão. Alguma outra pessoa no mundo conseguia me despertar alguma coisa, e isso era bom.


Desse último encontro, eu percebi que já não tinha volta. A química. A intimidade dos corpos. O calor. Agora você era o terceiro, e isso era sem volta. Pelo menos, quando eu estiver morrendo e ver passar uma história da minha vida na minha cabeça, você vai estar nela ainda que não queira estar. 
Se é amor, se é paixonite, se é sonho, ou se é só viagem errada, eu ainda não sei. 
Só sei que me faz sentir.
Esse sentimento só foi se concretizando à cada vez que encontramos ou que trocávamos algumas ideias, e a vontade de fazer isso crescer e ir crescendo era cada vez maior. O que eu não percebia, ou não queria perceber é que essa sementinha só crescia dentro de mim. Que no seu jardim existiam outras flores e outros amores. 


Aí veio a preguiça.
Aí veio a distância. 
Aí vieram os silêncios. 
Aí vieram as recusas, apesar da minha insistência.
Aí vieram os nãos. 
Aí veio o questionamento se eu deveria realmente desistir, e com ele o "deixa a vida" e o "deixa pra lá". 
Eu tenho uma doideira dentro de mim que me faz persistir nas coisas até aonde a razão me mandar.
Mas acho que esse momento chegou. Será?


O bom da dúvida virar certeza é que abre o espaço pra que possa surgir a felicidade, seja ela aqui e agora no tornar real, ou uma felicidade novinha no que ainda está porvir.
Mas alguém tem alguma certeza de alguma coisa? Bom, eu acho que tenho. Certeza do hoje.
Sei o que sinto hoje, e sei como penso hoje. Sei o que quero hoje.
E sei que amanhã as coisas já podem mudar e não serem mais as mesmas. 
Por isso é importante não perder o momento, aproveitar as faíscas e os instantes.
Mas tenho ainda outra certeza: a de tentar fazer tudo o que eu posso pra ir atrás do que eu quero.
E só isso já me deixa em paz.


E como um Rolling Stones, eu digo "you can't always get what you want, but if you try sometimes you just might find you get what you need"...

Do dito pelo não dito - o não

Não.
Eu não vou sair com você só porque você está insistindo e insistindo e insistindo e mandando mensagem e convidando, e reconvidando... Não que eu não gosto que insistam, muito pelo contrário.
Gosto muito de pessoas que demonstram interesse quando estão realmente interessadas. 
Gosto de demonstrações de afeto. Gosto sim de quem insiste, de quem luta, de quem corre atrás do que quer..


Mas eu sou muito sincera em relação ao que eu sinto.
Eu sei que você mora aqui na esquina, que minhas amigas te acham lindo e que as coisas seriam muito mais fáceis se eu simplesmente resolvesse ceder e pronto. Já que "suas intenções não são as que eu estou pensando", estaríamos aí namorando e aos fins de semana passeando pela praça de mão dadas.
Ó, que bucólico.


Acontece que "eu não mando no querer", e sem estar querendo, nada feito. Eu sou assim.
Eu preciso estar sentindo alguma coisa, qualquer coisa, senão não dá. 
E com você simplesmente não rolou nada.
E te falo que tentei. Acho a coisa mais estranha do mundo tentar gostar de alguém, porque pra mim a coisa normalmente é assim ou gosta ou não gosta, mas até tentar eu juro que tentei quando saíamos.
Mas eu não senti aquela saudade logo ao se despedir. Não senti aquela vontade de saber notícias durante a semana. Não senti aquela vontade de ver de novo e de novo. Não senti aquele calor subindo, nem aquela vontade de não desgrudar da pele do outro. Não aconteceram grandes arrepios e nem os suspiros ao pensar neles. 
Não senti, simplesmente.
Te peço desculpas por isso tudo, mas não mando no que sinto.
Aliás, acho que quem descobrir como mandar nos sentimentos, vira o rei do mundo.


E uma dúvida, se você está "percebendo que estou um pouco melancólica", e sabe que não é por você, como consegue ainda assim insistir, me explica? 
Se até você percebe que meus pensamentos e com eles meu coração no momento estão na mão de uma outra pessoa que é tipo o seu oposto: Mora em outra cidade, não lembra que eu existo, aliás pra completar até me mandou desistir dele (bom, pra mim foi quase assim). Mas isso já foi assunto de outro texto, e outra história. Quem leu, leu. Quem não leu, azar.


E de tudo fica aquela velha e boa frase da Marilyn Monroe: "Não me falta homem. O que está me faltando é amor."
Assino embaixo, Marilyn.
Eu não curto essa de ficar por ficar, pra não ficar sozinha. 
Eu preciso de sentimento ou no mínimo de sensação.
E tenho dito.






Do dito pelo não dito - o ontem

2006.
Você.
De você eu só tenho lembranças boas, tanto dos momentos reais quanto dos tempos em que éramos companheiros diários nas intermináveis e imprescindíveis horas de conversas internéticas, nos fazendo estar mais próximos que nunca. E me fazendo ter a certeza que o melhor lugar do mundo era aqui do lado de trás dessa máquina.
Nas pequenas coisas. Nos atos mais simples do dia, como um escovar de dentes ou um buenas antes de dormir. No comentar das bobagens do dia-a-dia. Nos desenhos mais lindos que alguém já conseguiu fazer. Nos símbolos-códigos que só nós conseguíamos entender. (Bom, você ainda usa essas "metáforas", e eu mesmo sem querer entendo de quase um tudo, apesar de ficar quietinha e me fazer de desentendida.. só lamento. rss..) Na criatividade. Na sensibilidade. Na meiguísse disfarçada com um suposta capa de azedume.
Sinto muito mais falta do que você pode imaginar. Será que só eu sinto falta disTo e de tudo mais?
Você talvez não saiba das coisas assim tão explicítas mas foi a pessoa que me fez me sentir mais compreendida nesse mundo. Mesmo talvez sendo só uma sensação minha, sentir aquilo era muito bom. 
E me faz ter saudades muito boas daquela época.


2012.
Hoje.
Tudo tão diferente. O que aconteceu, foi só a distância? Aonde nos perdemos?
Mudamos tanto assim a ponto de não conseguir estar tão próximos mais? Ou o problema é justamente a proximidade, que traz a necessidade de uma proximidade ainda maior que é como um querer estar dentro do outro e isso te incomoda tanto a ponto de preferir fugir à encarar a realidade?
Não só te incomoda como ruiria toda a sua realidade atual de sentir mais-ou-menos e que inacreditavelmente te satisfaz.
O que me incomoda é o fato de a gente não ter tido a história que merecia. Não que a gente não tenha tido, porque se virou memória é porque teve. Mas não do jeito que poderia ter sido. Na verdade, o que não me conformou foi o interromper das coisas como eram.
O que me incomoda é o fato de ver que o medo e a insegurança, meus e seus, terem dominado tudo e acabarem tão maiores do que a cumplicidade e a certeza.
E de tudo fica o "e se...", o afastamento e a falta.


Eu concluí que assusto as pessoas. Eu ainda tô tentando descobrir ao certo porquê.
Talvez seja porque não é qualquer um que é capaz de lidar com o que é sincero, com o que é inteiro, com o que é pra valer, com o que te faz sentir que está vivo. Como eu faço, como eu sou e como eu quero.
Mas mesmo quando as coisas ainda não eram claras assim, eu ainda assustava. e aí?
Incógnita eterna.


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"E que não importa o tamanho da distância, nunca esqueça que o simples fato de existir mudou pra sempre a minha vida e que o mundo me pareceu muito mais bacana depois que descobri que você existia."

[Ana Jácomo]

sábado, 28 de julho de 2012

Da espera


"Sempre existe no mundo uma pessoa que espera a outra, seja no meio de um deserto, seja no meio das grandes cidades. E quando estas pessoas se cruzam, e seus olhos se encontram, todo o passado e todo o futuro perde qualquer importância, e só existe aquele momento."
[Paulo Coelho]

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Do sumiço

Assim.

Pluft.

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Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse...


[Caio Fernando de Abreu]

Do complicado


"Me goste com problemas. Me goste sem problemas. Me goste confuso. Me goste perdido. Me goste agitado. Me goste transtornado. Me goste de qualquer jeito.
Se vem do coração, por mais complicado que você seja, te dou a mão. 
E te abro os braços".

[Clarissa Corrêa]

Da sensação


"Não existe pessoa certa ou vida errada. 
Simplesmente nos impulsionamos em direção ao primeiro sinal de amor compartilhado, alguma fagulha ou sensação que utopicamente nos distancie da morte, rejuvenesça, preste algum significado ao ato natural de trocar o ar dos pulmões."

[Gabito Nunes]

Do livro

"Ainda falta te dizer isso: 
Que nem tudo o que veio 
Chegou por acaso 
Que há flores que de ti dependem, 
Que foste tu que deixaste algumas lâmpadas acesas 
Que há na brancura do papel alguns sinais de tinta indecifráveis
E que esse é apenas 
Um dos capítulos do livro 
Em que tudo se lê 
E nada está escrito."


[Albano Martins]

10 mandamentos de Dawkins

1. Não faça aos outros o que não quer que façam com você;
2. Em todas as coisas, faça de tudo para não provocar o mal;
3. Trate os outros seres humanos, as outras criaturas e o mundo em geral com amor, honestidade, fidelidade e respeito;
4. Não ignore o mal nem evite administrar a justiça, mas sempre esteja disposto a perdoar erros que tenham sido reconhecidos por livre e espontânea vontade e lamentados com honestidade;
5. Viva a vida com um sentimento de alegria e deslumbramento;
6. Sempre tente aprender algo de novo;
7. Ponha todas as coisas à prova; sempre compare suas idéias com os fatos, e esteja disposto a descartar mesmo a crença mais cara se ela não se adequar a eles;
8. Jamais se autocensure ou fuja da dissidência; sempre respeite o direito dos outros discordar de você;
9. Crie opiniões independentes com base em seu próprio raciocínio e em sua experiência; não se permita ser dirigido pelos outros;
10. Questione tudo.


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Não sou atéia. Acredito em Deus, e muito. 
Mas esses mandamentos do Richard Dawkins fazem muito mais sentido pra mim, até porque o decálogo da bíblia cabe com perfeição dentro desses mandamentos de cá. 

Da direção

"Não se trata da arte de dar à alma o poder de ver, porque ela já o possui, mas de buscar orientar o que não está voltado para a direção que deveria, nem olha para onde é preciso."


[Platão - A República]

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Da psicanálise

"Nao importa o que fizeram com você.
O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você."

[Jean Paul Sartre]

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A vida tem que ser analisada. Sempre.

Das metades


"Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também."
[Oswaldo Montenegro - Metade]

Do que eu sei...



"...o bom é ser feliz ao lado de alguém."

[5 a seco - Vem]

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Do controle

"Somos inocentes em pensar, que sentimentos são coisas passíveis de serem controladas. Eles simplesmente vêm e vão, não batem na porta, não pedem licença. Invadem, machucam, alegram. São imprevisíveis e sua única regra é a inconstância total. É irônico que justamente por isso, eles sejam tão perfeitos."


[Caio Fernando de Abreu]

Preciso parar.


[Caio Fernando de Abreu - Morangos Mofados pag. 66]

terça-feira, 24 de julho de 2012

Da dispnéia

"Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho. Sou dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que as vezes me cansa. Por isso, não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, voracidade e falta de ar."
[Clarice Lispector]

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Da vida-drama - excertos de pensamentos

Espelho espelho meu, existe alguém no mundo mais dramática do que eu?


Culpa dessa mistura do sangue italiano com o não menos fácil dos "Mello" levando a essa intensidade no bom e no ruim, no real e no imaginário, na felicidade e na dor.
E aí pra não me internarem com a certeza de que sou maluca, eu tento não expressar isso a todo instante, mas não é sempre que dá pra fingir ser normal.


Ah nem, viu...
Juro que eu queria ser mais água com açúcar, se pudesse.


Se bem que pensando melhor acho que eu não queria não.
A vida deve ser tão mais sem graça...


Ah, aliás tem uma palavra que talvez seja mais adequeada pra essas definições: lunática.
Aquela que é do mundo da lua.

Do intervalo

"O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades."

Do sempre fabuloso Vinícius de Moraes

domingo, 22 de julho de 2012

Do durante

"Certamente, uma metafísica do antes e do depois - do anterior à vida e posterior à morte - inicial da criação e exponente do sopro - até se insinua, chamada: Amor, o céu nunca visitado -, Deus, o com nunca conversado. Mas, - da corrida dos segundos - do tropel dos cascos do relógio - de uns poucos dias prosaicos -, sua poesia. Do durante."

[Alberto Pucheu]

sábado, 21 de julho de 2012

Sei lá..

Quando tem não quer.
Quando não tem quer.
É?
Acho errado.

Do não esperar

"Mudo.
Depois de hoje,
Depois de tudo.
Eu queria a palavra.
Eu queria era o som.

Mundo.
Hoje eu o carrego de volta,
Hoje eu o carrego de burro.
De ti já nao espero mais nada.
De ti já nao espero o "absurdo"."

[Leonardo Schneider]

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Do grande crime impunível

"Eu te amo, disse ela então com ódio para o homem cujo grande crime impunível era o de não querê-la."

[Clarice Lispector]

Das entrelinhas


"Buscando um email entre zilhões na caixa de entrada, apareceram na busca apenas 4 opções, sendo uma delas o email que eu queria. Só que um deles era pessoal, o que me pareceu muito bizarro, já que os termos buscados eram “empreendedorismo, oportunidades”, acabando por chamar minha atenção mais do que o objetivo da pesquisa.
Eram só umas 15 linhas com muita enrolação, mas o final dizia:
“Ser sempre o idiota que vive a vida sem maiores preocupações, mas não se arrisca a coisa nenhuma em relacionamentos, esperando por uma pessoa que pode ser que nem a existência dele note mais”.
Tava ali, sabe. Tudo que eu passei depois tava ali, bem no início. Não me lembrava de jamais ter lido nada daquilo, mas provavelmente eu peguei as 13 linhas iniciais, nas quais ele falava do tanto que gostava de mim e do tanto que eu era importante, abracei, fiz virar amor e ignorei o final, que tinha um enfático “só que não”.
Ignorei que no final ele dizia que “não se arrisca a coisa nenhuma”, se referindo diretamente a nós, e provavelmente até peguei aquilo como desafio. 
E fica essa história básica de ler as coisas como a gente quer e não como elas são. 
Tivesse sido eu esperta, morria Bahia ali e eu me era poupado quase um ano em que eu, em ataques masoquistas ad eternum, corria atrás de quem, desde início, dizia que por mais que se importasse, não era eu o foco.
Por uma vida em que a gente leia mais as linhas e tente imaginar menos as entrelinhas.
(Adoro escrever entrelinhas porque sempre vejo na palavra estrelinhas)."

[Alice Quintão Soares]

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Do incompreendido

"As coisas mais importantes são as mais difíceis de expressar. São coisas das quais você se envergonha, pois as palavras as diminuem - as palavras reduzem as coisas que pareciam ilimitáveis quando estavam dentro de você à mera dimensão normal quando são reveladas. Mas é mais que isso, não? As coisas mais importantes estão muito perto de onde seu segredo está enterrado, como pontos de referência para um tesouro que seus inimigos adorariam roubar. E você pode fazer revelações que lhe são muito difíceis e as pessoas o olharem de maneira esquisita, sem entender nada do que você disse nem por que eram tão importantes que você quase chorou quando estava falando. Isso é pior, eu acho. Quando o segredo fica trancado lá dentro não por falta de um narrador, mas de alguém que compreenda."


[Stephen King]

Façamos (Vamos amar)


quarta-feira, 18 de julho de 2012

Da noite

"Por causa de meu amigo
Aguardo a grande noite sem receios.
Quando a noite cai, meu amigo desperta;
Vou até ele; e nos consolamos longamente.
Ele passeia meus olhos pelos jardins das estrelas.
Eu lhe falo das grandes árvores do Norte
E dos frios açudes onde a lua,
Pastora do céu, como uma amante, vai banhar-se;
Ele me explica que só as coisas perecíveis
É que inventam suas palavras
E aquelas que não devem perecer
Se calam para sempre, com o tempo inteiro a seu dispor -
E que a sua eternidade as manifesta."

[André Gide]

Da vã pergunta

"Já tive medo.
Já tive coragem.
Já tive certezas.
Hoje só tenho uma dúvida:
Eu tenho você?"

[Fábio Vanzo]

terça-feira, 17 de julho de 2012

Dos silêncios e dúvidas

"Olhos que recolhem 
Só tristeza e adeus
Pra que outros olhem
Com amor os seus.


Mãos que só despejam
Silêncios e dúvidas
Para que outras sejam
Das suas, viúvas.


Lábios que desdenham
Coisas imortais
Para que outros tenham
Seu beijo demais.


Palavras que dizem
Sempre um juramento
Para que precisem
Dele, eternamente."


[Vinicius de Moraes]

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Dos atos

"Eu quero de fato são os atos.
Marcados, datados, fragmentados.
Guardados, contidos, em vários vidrinhos.
Colocá-los em minha estante.
Pra que eu possa vê-los.
Apreciá-los.
E quando velho,
estiver com a casa lotada de frascos,
quero quebrá-los um à um.
Para lembrar, satisfeito do meu feito,
A importância que teve cada minuto."


[Leonardo Schneider]

domingo, 15 de julho de 2012

Vem



"Antes eu não sabia
porque é que se deve
- dia após dia –
andar sempre em frente
até como se diz
o corpo aguentar.
Agora sei.
Se vieres comigo
digo-te."
[José Agustin Goytisolo]

sábado, 14 de julho de 2012

Da poesia

"A poesia seria cúmplice, desde o início, desse sentimento que se chama amor. Eu acho que é uma coisa perfeitamente lógica, natural, porque a poesia, se vocês olharem bem, ela é o amor entre os sons e os sentimentos. Ela já é na sua substância, intrinsecamente, ela já é amor, já é aproximação, no sentido que é amor entre os sons e os sentidos, num sentido que a prosa não é. É por isso que a poesia não morre. Por que essa coisa tão inútil que não consegue sequer se transformar decentemente em mercadoria num mundo mercatório, esse mundo em que vivemos? Qualquer editor principiante sabe: poesia não vende. Existe esse hiato, realmente poesia não vende, e é bom que não venda! Sabe aqueles que reclamam dizendo, é um absurdo, um país como o nosso, não sei o quê, tchê, tchê, pá, pá, e poesia não vende. Vamos nos rejubilar. Poesia não vende. Poesia é ato de amor entre o poeta e a linguagem. E esse é um território como se fosse assim uma reserva ecológica do mercado em que vivemos que resiste ao fato de se transformar em mercadoria. Não é uma infelicidade e nenhuma inferioridade da poesia escrita, falando da poesia escrita, da poesia, escrita, da poesia livro, a dificuldade dela em se transformar em mercadoria é uma grandeza. Quem não entender isso não entende a verdadeira natureza da poesia, ela é feita de uma substância que é, basicamente, rebelde à transformação em mercadoria. A gente pode criar um mundo assim, um império total da mercadoria, tudo pode ser vendido, coisas, sensações, as coisas mais incríveis, os momentos mais emocionantes. Uma coisa, porém, não pode ser transformada em mercadoria, que é o amor. Amor é dado de graça, alguém pode comprar amor? Pode-se comprar o sexo de outra pessoa, mas o amor a gente sabe que é o último reduto que resiste à transformação em mercadoria.”


[Paulo Leminski]

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Do desligar

"Caí em meu patético período de desligamento. Muitas vezes, diante de seres humanos bons e maus igualmente, meus sentidos simplesmente se desligam, se cansam, eu desisto. Sou educado. Balanço a cabeça. Finjo entender, porque não quero magoar ninguém. Este é o único ponto fraco que tem me levado à maioria das encrencas. Tentando ser bom com os outros, muitas vezes tenho a alma reduzida a uma espécie de pasta espiritual. Deixa pra lá. Meu cérebro se tranca. Eu escuto. Eu respondo. E eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali."


[charles bukowski]

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Do 6

Hoje seis meses de mudança, em que a solidão me acompanhou e permaneceu comigo a maior parte do tempo entremeada por vislumbres de tentativas (frustras) e uma longínqua possibilidade de amor com rios de ilusão.
Possibilidade que possui um coracão com tanta gente, e tanta bagunça que acaba confundindo quem está ao redor querendo um pedacinho dele.
Possibilidade essa que se encontra no mesmo tempo que eu, mas não no mesmo espaço. 
Tempo em que muitos planos foram completamente destruídos e passei a questionar o que (não) estou fazendo com minha vida, com meu presente e com meus sentimentos.
Apesar de algumas respostas já existirem e me surprenderem positivamente, ainda me restam tantas dúvidas, tanta insegurança, tanto medo. Sei que mais me incomoda é o talvez, o incerto.. o "e se". 
Mas será que alguém tem certeza de alguma coisa? Bom, eu já tive algumas. 
E que invariavelmente acabaram descendo pelo ralo.


Tento continuar acreditando em alguma coisa, que o que está por vir será infinitamente melhor que o que foi. Porque se eu perder essa faísca e deixar a desesperança dominar, aí tenho certeza: não me restará mais nada. 
Quanto tempo mais esperando?
Quantos sonhos mais desmoronados e ilusões esfareladas nesse meio do caminho? 
Quantos planos modificados e reconstruídos inúmeras e inúmeras e inúmeras vezes pra se adequar à realidade? E que realidade é essa? E é ela que eu quero? E o que eu faço pra mudar o que não quero? 
E como não acabar endurecendo com todas essas mortes? Como não se deixar iludir tão facilmente?
Como não perder o brilho diante da vida? Como aprender a não se entregar ao sentir?


Tantos questionamentos e por enquanto só uma resposta: 
Sentir é sofrer. 

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Das palavras

"Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras."

(ou sentimentos...)

[Manoel de Barros in "O Guardador de Águas"]


domingo, 8 de julho de 2012

The only one



But I'm not the only one...
Hope someday you'll join us..

sábado, 7 de julho de 2012

Do defeito

"...Porque só beijo quem amo
Só abraço quem gosto
Só me dou por paixão


Eu só sei amar direito
Nasci com esse defeito
No coração."


[Maria Bethânia - Barulho]

Do convite

"Nunca peça o que deveria ser oferecido". - do Filme Winters Bone (2010).

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Ai meu coração..

"Eu tão isósceles,
você ângulo,
hipóteses sobre meu tesão,


teses, sínteses, antíteses,
vê bem onde pises,
pode ser meu coração."


[Paulo Leminski]

Da iaiá


"Iaiá, se eu peco é na vontade
de ter um amor de verdade.
Pois é que assim, em ti, eu me atirei
e fui te encontrar
pra ver que eu me enganei.
Depois de ter vivido o óbvio utópico
te beijar
e de ter brincado sobre a sinceridade
e dizer quase tudo quanto fosse natural
Eu fui praí te ver, te dizer:
Deixa ser.
Como será quando a gente se encontrar ?
No pé, o céu de um parque a nos testemunhar.
Deixa ser como será!
Eu vou sem me preocupar.
E crer pra ver o quanto eu posso adivinhar.
De perto eu não quis ver
que toda a anunciação era vã.
Fui saber tão longe
mesmo você viu antes de mim
que eu te olhando via uma outra mulher.
E agora o que sobrou:
Um filme no close pro fim.
Num retrato-falado eu fichado
exposto em diagnóstico.
Especialistas analisam e sentenciam:
Oh, não!
Deixa ser como será.
Tudo posto em seu lugar.
Então tentar prever serviu pra eu me enganar.
Deixa ser.
Como será.
Eu já posto em meu lugar
Num continente ao revés,
em preto e branco, em hotéis.
Numa moldura clara e simples sou aquilo que se vê"
[Los Hermanos - Retrato pra iáiá]

domingo, 1 de julho de 2012

The scientist


Das algemas



"Ando muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblíquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas."

[Manoel de Barros]