quarta-feira, 3 de abril de 2013

Da nascença



"Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras fatigadas de informar. 
Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água, pedra, sapo. 
Entendo bem o sotaque das águas. 
Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. 
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.

Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo."

[Manoel de barros]

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