quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Do amarelo

"De repente eu me vi e vi o mundo. E entendi: o mundo é sempre dos outros. Nunca meu. Sou o pária dos ricos. Os pobres de alma nada armazenam. A ver­tigem que se tem quando num súbito relâmpago-trovoada se vê o clarão do não entender. Eu não en­tendo! Por medo da loucura, renunciei à verdade. Minhas idéias são inventadas. Eu não me responsabi­lizo por elas. O mais engraçado é que nunca aprendi a viver. Eu não sei nada. Só sei ir vivendo. Como o meu cachorro. Eu tenho medo do ótimo e do superlativo. Quando começa a ficar muito bom eu ou descon­fio ou dou um passo para trás. Se eu desse um passo para a frente eu seria enfocada pelo amarelado de es­plendor que quase cega."

[Clarice Lispector - Um Sopro de Vida]

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