sexta-feira, 20 de julho de 2012

Das entrelinhas


"Buscando um email entre zilhões na caixa de entrada, apareceram na busca apenas 4 opções, sendo uma delas o email que eu queria. Só que um deles era pessoal, o que me pareceu muito bizarro, já que os termos buscados eram “empreendedorismo, oportunidades”, acabando por chamar minha atenção mais do que o objetivo da pesquisa.
Eram só umas 15 linhas com muita enrolação, mas o final dizia:
“Ser sempre o idiota que vive a vida sem maiores preocupações, mas não se arrisca a coisa nenhuma em relacionamentos, esperando por uma pessoa que pode ser que nem a existência dele note mais”.
Tava ali, sabe. Tudo que eu passei depois tava ali, bem no início. Não me lembrava de jamais ter lido nada daquilo, mas provavelmente eu peguei as 13 linhas iniciais, nas quais ele falava do tanto que gostava de mim e do tanto que eu era importante, abracei, fiz virar amor e ignorei o final, que tinha um enfático “só que não”.
Ignorei que no final ele dizia que “não se arrisca a coisa nenhuma”, se referindo diretamente a nós, e provavelmente até peguei aquilo como desafio. 
E fica essa história básica de ler as coisas como a gente quer e não como elas são. 
Tivesse sido eu esperta, morria Bahia ali e eu me era poupado quase um ano em que eu, em ataques masoquistas ad eternum, corria atrás de quem, desde início, dizia que por mais que se importasse, não era eu o foco.
Por uma vida em que a gente leia mais as linhas e tente imaginar menos as entrelinhas.
(Adoro escrever entrelinhas porque sempre vejo na palavra estrelinhas)."

[Alice Quintão Soares]

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