"Não virá", pensou sem querer. E surpreendeu-se: não esperava ninguém.
Ninguém viria. Talvez um dia, quem sabe. Alguém, algum dia. "Não virá", repetiu. Depois pensou em Bruno, que se afastava, levado pelo navio. Parecia que tudo aquilo tinha acontecido há muito tempo, que não houvera solução nem resposta para nada. Ninguém, nada, nunca. As palavras presentes em todas as frases, com uma fatalidade um tanto cômica. Então, de repente, sem pretender, respirou fundo e pensou que era bom viver. Mesmo que as partidas doessem, e que a cada dia fosse necessário adotar uma nova maneira de agir e de pensar, descobrindo-a inútil no dia seguinte — mesmo assim era bom viver. Não era fácil, nem agradável. Mas ainda assim era bom.
Tinha quase certeza.
[Caio fernando de abreu]
segunda-feira, 20 de julho de 2009
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