Soltou a frase assim, no meio da rua, da boca pra fora, num supetão de pensamento que ela mesma se surpreendeu. Ele riu, sem entender muito bem o que aquilo significava.
Levantou a cabeça, avistou o céu.
Azul, nuvens brancas, como havia de ser.
Nuvens. Pragmaticamente são só nuvens.
Essa densidade formada pela condensação de partículas de água.
Cobriu os olhos dele e sorriu. “Lá em cima tem felicidade”.
É lá no alto que estão as verdades, o elevado, a existência de si.
E o amor.
Mas depois que viramos adultos, nos acostumamos a sempre olhar pra baixo.
O concreto, o palpável, aquilo que cabe dentro das coisas classificáveis. E só.
Aqui embaixo não tem a surpresa, ou o incompreensível, ou o sentir dentro do peito a pequenez das gentes diante do firmamento.
Já o céu é igual em todos os lugares.
Tudo um só, unindo de alguma forma o que somos.
Bichos. Ser, humano.
Ser humano é ser estúpido.
É magoar o que se ama em busca de sensações. De liberdade.
Uma falsa liberdade, porque sem consciência de si, não se é livre.
E daí vem o sofrimento. A dor.
O que se faz é o que se é, o que se tem é o que se é.
E ponto final.
Mas ela não, ela criava seu próprio céu. Dentro.
E acreditava que todos teriam a mesma coragem de perceber o outro. E chorava.
De um choro tão verdadeiro que causava piedade em qualquer um que passasse por sua janela aberta. Menos nele.
Ele, esporadicamente sem culpa pela sua solidão. A dela.
Aceite seu isolamento, mas não concorde.
Abaixe a cabeça como um cavalo amordaçado e fique aí, quietinha, esperando seu dono chegar.
Mal sabe ele que quem mais sofre é aquele que machuca.
O céu dos dois, agora, completamente diferente.
Ana Paula Magalhães
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