"Quando o amor perde o cabaço, acabou. Amor tem que ser virgem, sonhar, sorrir de canto, meio envergonhado, acreditando que o mundo é bom. Aquele feeling inocente, a sensação de uma criança de dez anos que tem certa noção do que é tesão, mas não traz maldade. Amor e cabaço precisam estar de mãos dadas. Quando o amor perde a castidade, desfaz-se. É quando você se olha no espelho no dia seguinte e sente que algo que estava ali foi embora. E nunca mais voltará. Nunca mais. E perde a ingenuidade. Amor descabaçado. O banho morno demorado depois do sexo febril. E virou adulto. O amor. Tomando pílula, usando camisinha, indo ao ginecologista. É assim que é. E é assim que acontece quando se cresce. O amor endurece, enruga, cria pé de galinha. Depois disso não se tem mais paciência pra essa coisa infantil. E não sabia se iria conseguir amar desse jeito, porque o seu amor ainda usava fraldas. Não. Não sabia se conseguiria ver o seu não primeiro amor ser tomado assim, violentamente. Não teve nem um jantar, um vinhozinho, uma conversa mole ao pé do ouvido, não. Foi tudo assim na surdina da noite, rápido, como o movimento frenético de quadris adolescentes que não sabem a hora de parar. E continuavam horas a fio, metendo. Enfiando um no coração do outro a estaca rígida desse amor de agora."
[Ana Paula Magalhães]
sábado, 15 de fevereiro de 2014
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