sexta-feira, 10 de junho de 2016

Feliz dia dos namorados

"Com a sombra do dia 12 se aproximando e uma análise de vivências minhas e de outras mulheres eu preciso escrever.
Além de sempre ter estado no papel de alguém que dispensa cuidados, alguém que sempre aguenta tudo, alguém "que não se atinge", que é forte, eu me encontro numa fase muito particular de militância, pondo sempre em xeque os privilégios que um homem tem naturalmente e, à cima de tudo, dentro de um relacionamento heteronormativo. É de se esperar portanto, que esse combo (vivência + militância) me protegesse de relacionamentos destrutivos, depreciativos, viciosos. Eu, que tantas vezes disse pra amigas "você nao precisa disso", já devia saber reconhecer o "isso" e me blindar, me esquivar, me preservar. Mas nós não levamos em conta nessa álgebra social o elemento crucial no desenvolvimento da equação: eu sou gente. Nós, mulheres, somos gente. E a gente é passível de tomar um nocaute desse "isso", apesar de negar isso. É o que torna as coisas ainda mais difíceis. Talvez aquela sua amiga "boazinha demais" que você ficava puxando a orelha por gostar /sofrer/ perdoar/(...) demais, passe por isso mais saudavelmente que você, oh caminhoneira inabalável stone heart.
Quando a gente se percebe humana e vive todas as fases d"isso", a gente sempre lida com uma negação fudida do que sente, seja bom ou ruim. E isso cansa pra cacete!!!!

Dia dos namorados ta chegando, minhas amigas, e eu posso garantir que tem muuuita gente que tá dentro, querendo sair e que ta fora, querendo entrar. Os dois lugares são incômodos. Sempre falta alguma coisa. Os homens nao nasceram pra dar, eles não aprenderam a dar. Os homens aprenderam a receber, desde cedo. Eles gostam de receber.
Eu não conheço um homem, que nesse contexto, saiba o significado de sacrifício. Nós, entretanto, somos criadas pra estar sempre prontas para, à qualquer sinal de demanda de um homem, dar tudo que temos e não temos.
Só que no final do dia isso dói.
No final das contas uma hora isso pesa e muito! A gente se culpa, se sente insuficiente, sente ciúmes.
Nós não devemos mendigar amor, gente, isso não faz o menor sentido. Amor é sublime. E não estou falando só de amor romântico. Por exemplo, olha o seu relacionamento com sua melhor amiga.
É mútuo. É cúmplice. É saudável. Você se importa com ela, ela se importa contigo. Premissa básica, oras! Por isso ela foi elevada ao status de *melhor* amiga. Se não, naturalmente a vida traz outra pessoa pra preencher esse lugar.
E como, por que diabos, a gente aceita menos que isso das nossas relações e parceiros?
Uma pessoa que entre tantas a gente escolhe pra direcionar atenção, afeto, tempo, corpo e espírito.
Devoção.
É isso que nos ensinam a ser, desde cedo. Devotas. Mas, obviamente, é claro que a gente quer um feed.
A gente também quer atenção, afeto, tempo, corpo, espírito e devoção!
Entretanto mais uma vez a gente aprendeu a aceitar o pouco que vem, quando/se vem. Às mulheres nao foi permitido o direito de querer mais.
E mesmo que a gente não tenha nada de volta, lá estamos nós. Prontas para suprir. Prontas pra viver o papel que nos foi designado. Prontas pra aceitar que não tem nada em troca.
Não tem troca.
Prontas para, mais uma vez, dar tudo que temos e o que nao temos.
Mas a gente quer mais. Muito mais.

Feliz dia dos namorados."

[Lohanye Garcia]

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