quinta-feira, 20 de março de 2014

Da janela

"...Talvez eu seja a única responsável por essa história toda, mas ainda acho triste um mundo em que as pessoas, por pudor, reprimem o que são. Porque, em nossa sociedade, não nos é dado o direito de sermos menos do que perfeitos. Se não sou a Clarice Lispector, é melhor que eu nem escreva! Devemos ser ótimos sempre, bem sucedidos em todos os aspectos, irretocáveis – e até beleza e juventude parece que viraram obrigação. É proibido envelhecer, veja só! Nós, tão vulneravelmente humanos, estamos condenados a sermos super-homens e mulheres-maravilhas.
Por isso vejo como sinal de amadurecimento minha ousadia tímida de escancarar janelas. De dar a cara à tapa. Porque, definitivamente, não sou Clarice, não sou Rosa, não sou Machado. Mas isso não significa que eu não tenha coisas a dizer e que não deva dizê-las, por vaidade ou medo de rejeição.
Cada vez mais, aprendo o quanto é importante que tenhamos nossas janelas abertas para a vida, porque ela nos presenteia, sim, se estivermos atentos e formos flexíveis o bastante para deixá-la entrar pelos batentes. Na minha história, nada do que planejei deu tão certo quanto as coisas imprevistas que a vida me trouxe e eu soube receber de coração.
E é assim, com o coração aberto, que me atrevo a dar-lhes as melhores palavras que eu tiver. Que milagroso será se elas puderem ser recebidas por outros corações abertos.
Então convido vocês a fazerem também aquilo que de gostam porém se envergonham, por talvez não serem suficientemente bons. Escrevam, dancem ou cantem, se desejarem isso. Porque aceitar-se imperfeito e ser capaz de admitir os próprios desejos é aquilo que, em primeiro lugar, nos torna seres livres."
[Daniela Antoniassi]

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