quarta-feira, 4 de abril de 2012

Do não-dito

"Fato: porque tudo são fatos, só eles existem, mas isso é outra história; uma história jamais fica suspensa: ela se consuma no que se interrompe, ela é cheia de pontos finais internos, o que agente imagina que poderia ser talvez uma continuação às vezes não passa de um novo capítulo, eventualmente conservando os mesmos personagens do anterior, mas seguindo uma ordem cujas regras nos são ilusioriamente ás vezes familiares? ou internamente aleatórias? Isso eu não sei, mas a verdade é que chega-se sempre longe demais quando não se quer Ir Direto Aos Fatos, e o problema de Ir Direto Aos Fatos é que não há cir-cun-ló-qui-os então, e a maioria das vezes a graça reside justamente nesses Vazios Vultuosos Virtuosos, digamos assim: que não haja beleza aos fatos desde que vá direto a eles? Ou que não exista mistérios, que haja insuportavelmente dispensável gostar dos tais circunlóquios. Ultrapasse-os, ordeno. Acontece que. Não, nada acontece, mas por favor, não falemos disso agora."


[Caio Fernando Abreu]

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