domingo, 25 de março de 2012

Do pássaro

"Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca: 
não do espinho na garganta.

Ele amava a água sem sede,e, 

em verdade,tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.

Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.

Se acaso isso é desventura:

ir-se a vida sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida."

Cecíia Meireles em Retrato Natural (1949) 

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