domingo, 30 de janeiro de 2011

Ele insistia. Era teimoso, não se contentava com o eu-te-amo. Insistia, insistia.

— Diga que é para sempre.

Ela, querendo ser totalmente sincera, respondia:

— Para sempre… não, não posso dizer.

Engraçado que, lá no fundo, sabia que era para sempre, mas desconfiava de promessas que não pudessem ser cumpridas por culpa da vida. Era como prometer que não se iria morrer.

— Por que você não diz, hem Maria? Você não me ama de verdade?

— E como, João! Amo a você até mais do que a mim mesma, mas a vida…

— Pois eu digo sem medo: amo você para sempre, sempre, sempre…

Maria ria entre feliz e sem graça. E entregava-se a esse amor que fazia cada minuto parecer o sempre.

Um dia João chega muito solene e pede-lhe:

— Maria, mesmo que não seja, diga pra mim que é pra sempre, tá? Quero ouvir “para sempre”.

E Maria passou a dizer o advérbio. A princípio tímida; depois categoricamente.

— Eu te amo, João.

— Muito?

— Muito — respondia ela.

— Para sempre?

— Para sempre — confirmava.

O tempo passava. O amor de Maria por João aumentava. Agora o sempre era uma certeza e a vida só delícias, para todo o sempre.

— Pra sempre te amarei, João.

— Sei disso, Maria. Nós dois somos para sempre.

— É, João, pra sempre.

Maria não tinha dúvidas quanto a João. E muito menos quanto a si mesma.

Eternamente para sempre… para sempre eternamente.

E a felicidade vivia com ela e tão plena estava que nem percebia João fazer-se um talvez. Esquivo hoje, amanhã — e ela não via ou não queria ver. Até que…

— Maria, vou-me embora.

— Por que, uai!

— Não te amo mais, Maria.

— Não?!

— Não.

— Assim, João?

— É.

— Mas não podemos… não posso fazer alguma coisa? Me dá um tempo, João.

— Não, não posso.

— Mas, João!

— Não volto mais, Maria. E é para sempre.

O texto acima foi extraído do livro “Porção de Tintas“, de Márcia Carrano, FUNALFA Edições, Juiz de Fora (MG), 2003, pág. 101.

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