domingo, 21 de fevereiro de 2010

Nada a ver com o clima pós carnaval, mas não deu pra postar antes

"Aparentemente de vez em quando os adultos têm tempo de sentar e contemplar o desastre que é a vida deles. Então se lamentam sem compreender e, como moscas que sempre batem na mesma vidraça, se agitam, sofrem, definham, se deprimem e se interrogam sobre a engrenagem que os levou até ali onde não queriam ir. Os mais inteligentes até transformam isso numa religião:ah, a desprezível vacuidade da existência burguesa! (...) 'Que fim levaram nossos sonhos de juventude?', perguntam com ar desiludido e satisfeito. 'Desfizeram-se, e a vida é uma bandida'. Detesto essa falsa lucidez da maturidade. O fato é que são como os outros, são crianças que não entendem o que lhes aconteceu e bancam os durões quando na verdade têm vontade de chorar.
No entanto, é simples entender. O problema é que os filhos acreditam nos discursos dos adultos e, ao se tornar adultos, vingam-se enganando os próprios filhos. 'A vida tem um sentido que os adultos conhecem' é a mentira universal em que todo mundo é obrigado a acreditar. Quando, na idade adulta, compreende-se que é mentira, é tarde de mais. O mistério permanece intacto, mas toda a energia disponível foi gasta há muito tempo em atividades estúpidas. Só resta anestesiar-se, do jeito que der, tentando ocultar o fato de que não se encontra nenhum sentido na própria vida e enganando os próprios filhos para tentar melhor se convencer.
(...)
A pessoas crêem perseguir estrelas e acabam como peixes-vermelhos num aquário. Fico pensando se não seria mais simples ensinar desde o início às crianças que a vida é absurda. Isso privaria a infância de alguns bons momentos, mas faria o adulto ganahar um tempo considerável - sem falar que, pelo menos, seríamos poupados de um traumatismo, o do aquário."

A elegância do ouriço, trecho do pensamento profundo nº1 de Paloma